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CASO SANTO ANDRÉ
Decisão é tomada depois de reunião de Lula com assessores
Planalto reage, e PT pedirá fim do sigilo no caso Daniel
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Preocupado com os possíveis
danos à imagem do governo federal, o PT, articulado com o Palácio
do Planalto, desencadeou uma
contra-ofensiva no caso do assassinato do prefeito petista de Santo
André, Celso Daniel. O partido do
governo anunciou ontem que pedirá a quebra do sigilo do processo criminal no qual o empresário
Sérgio Gomes da Silva é acusado
de ser um dos mandantes do crime, por razões políticas.
O PT também decidiu nomear o
ex-procurador-geral da República Aristides Junqueira para acompanhar o caso. Ele substituirá o
deputado federal Luiz Eduardo
Greenhalgh (PT-SP).
O caso Celso Daniel foi assunto
de reunião no final de semana entre o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e seus principais ministros. Lula teria manifestado preocupação com o que, segundo um
dos presentes, chamou de tentativa de "partidarização" do caso.
A cúpula do governo difunde
nos bastidores de Brasília que o
Ministério Público e a imprensa
tentam relacionar o partido a um
esquema de corrupção em Santo
André, que teria levado ao assassinato do petista.
Tanto para o governo como para a cúpula do PT, o crime foi comum, e Gomes da Silva não está
envolvido. O presidente do partido, José Genoino, voltou a dizer
ontem que o caso está com o Ministério Público e a Justiça e será
tratado assim. "Não desconfio,
não avalio nem entro em juízo de
valor sobre o assunto. O PT não
comandou a investigação nem
comandava a polícia de São Paulo
à época. O partido quer a verdade", afirmou o petista.
Segundo Genoino, o partido vai
estudar uma forma de solicitar à
Justiça que não haja mais sigilo no
processo criminal. Junqueira irá
definir qual o instrumento adequado para fazer a solicitação.
O pedido deve ser feito ao próprio juiz da 1ª Vara Criminal da
Comarca de Itapecerica da Serra,
Luiz Fernando Migliori Prestes,
que acolheu a denúncia. O juiz já
negou pedido de quebra do sigilo
feito pela família do petista.
Entre outros motivos, o segredo
de Justiça pode ser decretado para
não comprometer a elucidação
do caso. Em entrevista à Folha,
Prestes defendeu o sigilo e disse
que há em curso várias investigações paralelas envolvidas.
Gomes da Silva virou réu no
processo acusado de ser mandante da morte de Celso Daniel após
nova denúncia do Ministério Público ter sido aceita pela Justiça.
Ele foi preso na última sexta-feira.
O prefeito de Santo André foi
morto a tiros em janeiro de 2002,
após ser sequestrado ao voltar de
um jantar com Gomes da Silva,
que era amigo de Celso Daniel.
De acordo com a denúncia, o
assassinato foi motivado pelo esforço para manter um esquema
de propina na Prefeitura de Santo
André. Celso Daniel havia sido
convidado para ser um dos coordenadores da campanha presidencial de Lula e teria recebido
orientação do partido para abortar supostos esquemas de irregularidades na administração local.
Procedimento
Aristides Junqueira disse que,
ao pedir o fim do sigilo, o PT vai
tentar acompanhar o que está
sendo feito pelos promotores.
"Pode ser guardado sigilo quando
não se quer a perda de novas provas. Não é o caso", afirmou.
Junqueira chegou a questionar a
forma como o Ministério Público
reabriu o caso, ao dizer que o órgão poderia ter solicitado novas
investigações à polícia.
"Meu receio é que tudo isso seja
frustrante para a sociedade se vier
a ser anulado pela Justiça posteriormente. O PT quer que a verdade apareça. Trata-se do episódio da morte de um homem honrado, não podendo ser tratado como questão político-partidária."
Para Greenhalgh, que acompanhou o caso desde o início, trata-se de um crime comum, sem
mandante. "Sinto-me impedido
de continuar num caso que para
mim já está esclarecido."
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