|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Os fins da festa
A inocência atribuída a
um deputado que recebeu
R$ 450 mil ilegais da caverna de
Delúbio e Valério, confessou tê-los recebido e nem demonstrou a
alegada destinação partidária
não foi um ato inocente dos que
absolveram vários crimes em um
só réu. Foi uma operação elaborada e comandada por petistas,
com o fim preciso de abrir caminho para invalidar vários processos de cassação e anular um dos
já encerrados -o de José Dirceu.
Se havia alguma dúvida de que
a orientação política adotada no
PT -e, até meado deste ano, no
governo- é a dos fins justificando os meios, petistas e aliados seus
escancararam e proclamaram o
método, na defraudada votação
que inocentou os crimes confessados pelo petebista Romeu Queiroz.
Foi lamentável para os cidadãos, e erro imperdoável como
jornalismo, a quase nenhuma divulgação de afirmações e cenas,
entre tantas, como o despudor
com que o deputado Professor
Luizinho pregou e apregoou os
votos vitoriosos na falsa inocência
de Queiroz. Não foi só de votos assim, porém, que a operação petista se fez. Obter ausências, afinal
numerosas, eliminou muitos
apoios prováveis à cassação.
Por si mesmas confirmadoras
do compromisso com a ilegalidade de proteger outra ilegalidade,
as comemorações festivas de petistas e aliados começaram na
noite brasiliense, depois da votação de quarta-feira, e continuaram no dia seguinte: a ilegalidade
e o crime deixam de ser puníveis e
se tornam festejáveis.
Mais reservada, uma outra comemoração aconteceu no Rio, como culminância do jantar que
reunia José Dirceu a amigos seus
na casa de uma jornalista. Mais
do que pela TV, Dirceu foi informado do andamento da operação pró-inocência por telefonemas periódicos dados da Câmara.
Caracterizada a absolvição de
Queiroz, até a vizinhança podia
ouvir os "vencemos, vencemos".
No plural mais indicativo do que
nunca.
Ao indicar uma das pontas da
operação desenvolvida na Câmara, o plural proporcionou outra
informação importante relativa a
José Dirceu. Não seria pelo acusado Romeu Queiroz que Dirceu e
seus convivas comemorariam a
derrota da cassação proposta. A
única importância de Romeu
Queiroz como parlamentar é a
importância de R$ 450 mil que recebeu, por intermédio de Valério,
do mesmo PT que cuidou da sua
absolvição.
Um só motivo justificaria a conexão direta com o desenrolar em
Brasília e, ao final, a comemoração: José Dirceu vai ao recorrer ao
Supremo Tribunal Federal para
recuperar o seu mandato. Buscava, e obteve, um argumento de
defesa, propriamente, e não só os
seus truques de protelação: ao absolver o recebedor de meio milhão
ilegal, a Câmara negou o "mensalão" e qualquer outro suborno, reduzindo o efeito do "valerioduto"
apenas a ilegalidade eleitoral. Ou
seja, prática sem relação com o
comando político exercido por José Dirceu sobre a base parlamentar do governo, fundamento primordial da acusação que lhe cassou o mandato.
Uma operação para inocentar o
crime de receptação de dinheiro
ilegal, ainda mais por um parlamentar, pode ser um meio útil a
diferentes fins ou ao mesmo fim
de diferentes pessoas. Mas não é
ético, não é democrático e não é
legal. Apesar disso, ou por isso, é
muito adequado ao Brasil farsante de hoje em dia.
Texto Anterior: Congresso: Em Campinas, Aldo pede a PCdoB apoio ao governo Próximo Texto: Eleições 2006/Presidência: Alckmin diz não fazer política "na cotovelada" Índice
|