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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PARTIDO EM CRISE
Após silêncio na crise, pensadores se mobilizam para recuperar credibilidade do partido e exigem mudanças para a campanha de 2006
Intelectuais do PT querem "virada política"
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de ficarem afônicos durante grande parte da crise política, os intelectuais petistas estão
lentamente deixando a letargia e
buscam agora engrossar o coro
dos que exigem a virada na política econômica, alianças eleitorais à
esquerda e tolerância zero ao caixa dois, em possível segundo
mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Irritados, tentam recuperar um
espaço que já foi deles no partido
e que foi gradualmente reduzido
desde que a revolução pragmática, comandada por José Dirceu,
começou, há dez anos. Ironia das
ironias, é o mesmo Dirceu que é
hoje aliado tático contra o conservadorismo econômico.
"Não perdôo os responsáveis
pelo que aconteceu no partido.
Não aceito e não perdôo. No meu
partido, não aceito isso, de forma
alguma", diz a socióloga Maria
Victoria Benevides, da Faculdade
de Educação da USP.
O desabafo da professora é motivado pelo último lance da contabilidade criativa do ex-tesoureiro
Delúbio Soares, o depósito de R$ 1
milhão para a Coteminas, empresa do vice-presidente, José Alencar. O desgosto de Benevides, no
entanto, transparece também na
crítica à política econômica de
Antonio Palocci (Fazenda). "É o
que existe de pior no governo."
Mudanças
Discretamente, está em curso
no PT e em seu entorno uma movimentação para "fazer a disputa"
do novo programa de governo de
Lula, para a campanha da reeleição. Uma coalizão informal entre
ministros liderados por Dilma
Rousseff (Casa Civil), movimentos sociais e os "radicais" petistas
já pode ser identificada, em oposição ao domínio da equipe econômica. É nessa canoa que os intelectuais querem entrar.
"O novo programa de governo
precisa trazer o conceito claro de
que a gestão macroeconômica do
primeiro mandato teve o caráter
de transição, para superar o modelo neoliberal. Tem de haver
mudança fundamental e o resgate
de nossas bandeiras históricas",
diz o cientista político Juarez Guimarães, professor da UFMG
(Universidade Federal de Minas
Gerais).
Ligado à Fundação Perseu
Abramo, centro de estudos políticos do partido, Guimarães já conseguiu fincar o pé da intelectualidade petista na comissão preparatória do programa de governo,
um primeiro sinal de prestígio recuperado. Quem coordena a comissão é o assessor especial da
Presidência, Marco Aurélio Garcia, um raro intelectual petista
com poder real no governo.
Para o ano que vem, os intelectuais prometem mais. Querem ser
ouvidos nos fóruns partidários.
Vão participar de pelo menos seis
seminários organizados no primeiro semestre pela fundação em
parceria com o instituto alemão
Friedrich Ebert. À bancada petista
na Câmara dos Deputados já falaram Guimarães e Emir Sader,
cientista político da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Outros também estão nos
planos.
"Demonização"
Já me senti muito desanimada.
Agora, estou indignada. Isso me
motiva a brigar, inclusive dentro
do PT", afirma Benevides. De
acordo com ela, os intelectuais
"têm uma certa culpa de não terem brigado o suficiente antes de
as coisas acontecerem".
A exceção à regra é a filósofa
Marilena Chaui, da USP, que
mantém o silêncio e diz ter desistido de falar. Seus colegas se
apressam em dizer que é um caso
isolado. "Acho que se generalizou
uma idéia a partir de uma condição muito particular da professora Marilena Chaui", afirma Guimarães.
Para Sader, a imagem de apatia
é "relativa" e deve muito a um suposto bloqueio da mídia. "Certamente houve um desconcerto
[por parte dos intelectuais], mas o
bloqueio da imprensa foi brutal.
Diga quais os espaços foram abertos para que a intelectualidade
pudesse se expressar", diz.
São duas as frentes complementares que movem os acadêmicos
petistas. Passado o susto paralisante com o esquema montado
por Delúbio, eles agora enxergam
a necessidade de defender o PT
-mais até do que o governo- e
a esquerda de forma geral. "Está
em curso uma campanha de demonização da esquerda que nós
não podemos aceitar", afirma Benevides.
Isso passa pela colaboração do
próprio presidente Lula, de acordo com Sader. "O problema não é
dentro do PT, é o Lula aceitar uma
nova plataforma. Dentro do PT
há quase um consenso sobre mudar o governo."
Há aproximadamente um mês,
20 reitores de universidades federais reunidos para apoiar José
Dirceu, então ameaçado de cassação, chegaram a uma conclusão
parecida. Energizados pelo ex-ministro, saíram da casa do secretário-executivo da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes
das Instituições Federais de Ensino Superior), Gustavo Balduino,
prometendo um "engajamento
militante" no próximo ano.
"O sentimento é de que há uma
disposição plena de fazer o debate, uma rica oportunidade política. É preciso um engajamento militante", afirma Balduino.
E por que tanto silêncio, por
tanto tempo? "Os intelectuais não
têm o hábito de analisar a conjuntura, deixam mais para fazer a
análise histórica. Chegou o momento", diz ele.
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