|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
O franciscano do São Francisco
O governo decidiu ignorar d. Luiz pela ousadia de desafiá-lo com manso radicalismo
|
O GOVERNO tomou um
caminho impróprio
diante da contestação
que lhe faz frei Luiz Flávio
Cappio. No mínimo, porque
as razões técnicas do frade,
contra a divisão de águas do
São Francisco, podem ser insuficientes para merecer a reconsideração do plano da
obra, mas o seu direito a ver
cumprido um compromisso
presidencial não deveria ser
desprezado: Lula comprometeu-se com d. Luiz Cappio,
para obter que suspendesse a
primeira greve de fome, a
promover um debate público
e amplo do projeto governamental em confronto com as
críticas e alternativas representadas pelo frade. Compromisso de difícil realização,
mas voluntário. Nem esboçado o debate foi.
As respostas de Ciro Gomes, quando ministro da Integração, às objeções ao projeto foram, em geral, convincentes e referidas a estudos
comprováveis. O mesmo não
se pode dizer da atitude de
seu atual sucessor. Os dois artigos assinados agora contra o
frade por Geddel Vieira Lima
(quem os escreveu, não sei)
demonstraram, por si sós, a
necessidade de que a Presidência indicasse alguém com
lucidez para tratar do assunto. Pior do que não o fazer,
Lula e seus imediatos decidiram ignorar d. Luiz Cappio,
pela ousadia de desafiá-los
com seu manso radicalismo.
A hierarquia católica divide-se em relação à greve do
bispo, ainda que mais convenha acreditar nas notícias de
estímulos da CNBB a manifestações em apoio a d. Luiz,
como as de ontem, do que em
sua reprovação a ele. As manifestações se multiplicam, mas
não chegam a ter expressão
política real. Os meios de comunicação não têm dado tratamento de realce ao assunto.
Mas nada disso diminui o
problema, que está aí e não há
como presumir, com razoável
segurança, até onde tende a
chegar. Evidente é que se
constitui em problema do governo, especialmente da Presidência, onde não consta haver nem oração para o que fazer em caso de desdobramentos complicadores.
Rescaldos
O ministro Guido Mantega
está escalado para ser o bode
expiatório da derrota do governo com a CPMF. Não é
justa, nem verdadeira, a responsabilidade a ele atribuída
pelo fracasso das negociações com a oposição. Quando Mantega sentou na mesa
com lideranças oposicionistas, já os seus interlocutores
do PSDB estavam compelidos a acompanhar os companheiros do DEM e da dissidência do PMDB. Os discursos de Lula mostraram-no,
todos os dias, fechado a concessões e convicto de que
prorrogaria a CPMF, com
sua campanha de incitação
popular e de ameaças aos senadores. E não houve os
preâmbulos adequados de
negociações por quem deveria fazê-lo, o então ministro
das Relações Institucionais,
Walfrido dos Mares Guia.
Há notícias, agora, de retaliações decididas por Lula
contra os senadores "da base
governista" que não apoiaram o governo. Ora ora, o
próprio Lula pediu em vão ao
DEM que retirasse a ameaça
feita a Romeu Tuma e César
Borges de tomar-lhes o mandato, se votassem com o governo. Logo, sabe da impossibilidade do apoio de ambos. Jarbas Vasconcelos,
Mão Santa e Geraldo Mesquita têm posições dissidentes no governismo do
PMDB, e o governo não poderia contar com seus votos.
Mozarildo Cavalcanti foi ao
enterro, em Roraima, do governador de seu Estado. Só
se "os dissidentes" a serem
retaliados, para satisfazer o
noticiário, for o solitário Expedito Júnior.
Texto Anterior: Oposição reage e diz só votar DRU em 2008 Próximo Texto: Petrobras retoma investimentos na Bolívia após embates com Morales Índice
|