São Paulo, terça-feira, 18 de dezembro de 2007

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JANIO DE FREITAS

O franciscano do São Francisco


O governo decidiu ignorar d. Luiz pela ousadia de desafiá-lo com manso radicalismo

O GOVERNO tomou um caminho impróprio diante da contestação que lhe faz frei Luiz Flávio Cappio. No mínimo, porque as razões técnicas do frade, contra a divisão de águas do São Francisco, podem ser insuficientes para merecer a reconsideração do plano da obra, mas o seu direito a ver cumprido um compromisso presidencial não deveria ser desprezado: Lula comprometeu-se com d. Luiz Cappio, para obter que suspendesse a primeira greve de fome, a promover um debate público e amplo do projeto governamental em confronto com as críticas e alternativas representadas pelo frade. Compromisso de difícil realização, mas voluntário. Nem esboçado o debate foi.
As respostas de Ciro Gomes, quando ministro da Integração, às objeções ao projeto foram, em geral, convincentes e referidas a estudos comprováveis. O mesmo não se pode dizer da atitude de seu atual sucessor. Os dois artigos assinados agora contra o frade por Geddel Vieira Lima (quem os escreveu, não sei) demonstraram, por si sós, a necessidade de que a Presidência indicasse alguém com lucidez para tratar do assunto. Pior do que não o fazer, Lula e seus imediatos decidiram ignorar d. Luiz Cappio, pela ousadia de desafiá-los com seu manso radicalismo.
A hierarquia católica divide-se em relação à greve do bispo, ainda que mais convenha acreditar nas notícias de estímulos da CNBB a manifestações em apoio a d. Luiz, como as de ontem, do que em sua reprovação a ele. As manifestações se multiplicam, mas não chegam a ter expressão política real. Os meios de comunicação não têm dado tratamento de realce ao assunto. Mas nada disso diminui o problema, que está aí e não há como presumir, com razoável segurança, até onde tende a chegar. Evidente é que se constitui em problema do governo, especialmente da Presidência, onde não consta haver nem oração para o que fazer em caso de desdobramentos complicadores.

Rescaldos
O ministro Guido Mantega está escalado para ser o bode expiatório da derrota do governo com a CPMF. Não é justa, nem verdadeira, a responsabilidade a ele atribuída pelo fracasso das negociações com a oposição. Quando Mantega sentou na mesa com lideranças oposicionistas, já os seus interlocutores do PSDB estavam compelidos a acompanhar os companheiros do DEM e da dissidência do PMDB. Os discursos de Lula mostraram-no, todos os dias, fechado a concessões e convicto de que prorrogaria a CPMF, com sua campanha de incitação popular e de ameaças aos senadores. E não houve os preâmbulos adequados de negociações por quem deveria fazê-lo, o então ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia.
Há notícias, agora, de retaliações decididas por Lula contra os senadores "da base governista" que não apoiaram o governo. Ora ora, o próprio Lula pediu em vão ao DEM que retirasse a ameaça feita a Romeu Tuma e César Borges de tomar-lhes o mandato, se votassem com o governo. Logo, sabe da impossibilidade do apoio de ambos. Jarbas Vasconcelos, Mão Santa e Geraldo Mesquita têm posições dissidentes no governismo do PMDB, e o governo não poderia contar com seus votos. Mozarildo Cavalcanti foi ao enterro, em Roraima, do governador de seu Estado. Só se "os dissidentes" a serem retaliados, para satisfazer o noticiário, for o solitário Expedito Júnior.


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