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Planalto negocia com bispo fim de jejum
Proposta envolve construir cisternas e acelerar revitalização do rio São Francisco; d. Luiz diz que oferta é "indecorosa'
Lula teria imposto como
condições à abertura de
uma negociação que obras
não sejam paralisadas e que
propostas venham do bispo
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOBRADINHO (BA)
O Palácio do Planalto iniciou,
no fim de semana, um intenso
diálogo com d. Luiz Flávio Cappio, 61, bispo de Barra (BA), na
expectativa de uma possível interrupção da greve de fome do
religioso, que completa hoje 21
dias. O governo, porém, diz
continuar firme em sua posição
de não interromper as obras de
transposição do rio São Francisco, motivo do jejum.
O bispo negou ontem que esteja negociando com o governo.
Confirmou ter recebido propostas do chefe-de-gabinete do
presidente Lula, Gilberto Carvalho, mas disse que as considerou "indecorosas".
As negociações começaram
no sábado, quando Carvalho
recebeu uma ligação do padre
de Lins (SP) José Oscar Beozzo.
Procurado pela Folha, o padre
se limitou a dizer que "não está
autorizado" a comentar o assunto. Beozzo teria acenado
pela abertura do diálogo caso o
governo aceite ampliar um
programa que prevê a construção de 1 milhão de cisternas no
semi-árido nordestino. Segundo os assessores do bispo,
Beozzo agiu por conta própria.
A Folha apurou que Lula autorizou Carvalho a dar continuidade às conversas, mas impôs duas condições: 1) as obras
devem continuar a qualquer
custo e 2) o governo não deve
apresentar propostas, esperando que elas cheguem do bispo.
Carvalho, então, telefonou
para d. Luiz, afirmando que
aceitava a ampliação do programa. No mesmo dia, porém,
Rubem Fonseca, emissário do
religioso, teria avisado que o
bispo desistira das conversas.
Mas, no domingo, o secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Dimas Lara Barbosa, procurou o representante do
Planalto para avisá-lo que d.
Luiz "estaria aberto às negociações" e convidou-o para uma
reunião, em Brasília, com representantes de entidades religiosas que apóiam o bispo.
Na reunião, Carvalho teria
aumentado a proposta: além de
ampliar o programa das cisternas, o governo aceleraria a revitalização do rio. Em troca, o
bispo encerraria o jejum. Hoje,
Carvalho deve voltar à CNBB,
com técnicos do governo, para
"concretizar" a proposta.
O bispo, porém, diz que não
haverá acordo. Lembra que a
promessa de "esforço do governo" para a aprovação da PEC
(Proposta de Emenda à Constituição) que destina R$ 250 milhões anuais à revitalização do
rio já havia sido feita há dois
anos, em sua primeira greve de
fome, e não foi cumprida. Sobre as cisternas, diz que o projeto tem sete anos e que, até
agora, apenas 200 mil delas foram construídas no sertão.
Embargo
Na semana passada, Lula recebeu o comando da CNBB.
Disse aos bispos que não interromperá as obras e que a greve
de fome de d. Luiz é um problema exclusivo da igreja.
Em entrevista à Folha, publicada ontem, o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) afirmou que o bispo tem sido "intransigente" e que
a linha de sua greve de fome é
um extremo "inaceitável".
As obras estão embargadas
pela Justiça Federal desde 11
de dezembro. O governo recorreu ao STF, que deve analisar o
pedido amanhã. Mesmo se a liminar for derrubada, as obras
só devem ser retomadas após 7
de janeiro, quando os militares
do Exército voltam do recesso.
Em apoio a d. Luiz, pouco
mais de dez representantes de
movimentos sociais começaram ontem um protesto silencioso em frente ao Planalto.
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