São Paulo, Quarta-feira, 19 de Janeiro de 2000


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PAINEL

Apresentar armas
FHC não consegui ser mais do que protocolar com Elcio Alvares (ex-Defesa). "A situação está insustentável. Como a gente pode contornar?" A resposta do ministro foi a do manual: "O cargo é do presidente da República. Está sempre à disposição." Em seguida, FHC pediu: "Então, pode continuar no cargo até eu indicar seu sucessor?"

Sinal trocado
FHC almoçou ontem com Ronaldo Sardenberg (Projetos Especiais) e Sarney Filho (Meio Ambiente). Discutiram clima. No final, FHC pediu licença a Sardenberg: "O Elcio Alvares está chegando. É melhor você ir agora, se não vão pensar que você vai para a Defesa".

Laços de sangue
A turma do Congresso mais próxima de FHC lhe indicou José Sarney (PMDB-AP) para o cargo de Alvares. O ex-presidente tem trânsito com os militares. "No meio político, era o melhor nome", disse um assessor palaciano. FHC descartou. Alegou que já tinha um Sarney, o Filho, no ministério.

Cobertor curto
FHC passou em revista os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) na tentativa de encontrar um sucessor para Alvares. Desistiu por medo de perder votos no tribunal. "Não dá para vestir um santo e despir outro", ouviu de um conselheiro com gabinete no Planalto.

Tiro no pé

Antes de demitir Alvares, FHC sondou o Congresso para verificar se teria prejuízo na base aliada. Recebeu sinal verde até do PFL, partido de origem do ministro. Bateu o martelo na terça da semana passada após falar com Bornhausen (SC).

Desastre anunciado

FHC deu sobrevida a Alvares, pois não queria ver sua demissão vinculada à de Walter Brauer (ex-Aeronáutica), que defendeu Hitler. "Ele não saiu pelas denúncias de envolvimento com o crime organizado, mas pela maneira como enfrentou o problema", avaliou José Roberto Arruda (PSDB).

Jogo de cena

Adversário de Alvares na política capixaba, Gerson Camata (PMDB) anunciou que discursaria ontem em defesa do ministro. Outros senadores pediram que ele aguardasse um encontro com FHC, à noite. ACM, que ouvia tudo, perguntou: "Será que dá tempo?!".

Devassa no jogo
O Tribunal de Contas da União fará uma devassa nos bingos eletrônicos nos próximos dias. O TCU quer saber se as contas do Indesp, controlado por Rafael Greca (Esporte), andaram fora da linha. O tribunal quer que a Receita Federal participe da investigação.

Primo rico
Em duas cores, capa dura e brasão do Senado em dourado, começou a ser distribuído o relatório da comissão que analisou a pobreza no país. A apresentação é de ACM, que inspirou o trabalho. Diferente dos avulsos impressos pelo Senado, a edição é um luxo!

Pediu bênção
O vice-governador do MA, José Reinaldo Tavares, está perto de conseguir o apoio dos Sarney para a sucessão de Roseana, que deve sair mesmo ao Senado. A dúvida é como reagirá o senador Edison Lobão (PFL), que contava com o apoio do clã para se lançar ao governo.


Onda verde
FHC anuncia hoje o Brasil Empreendedor Rural. Quer gastar R$ 500 mi neste ano. O objetivo é manter 4 milhões de empregos. O programa rural foi inspirado em outro feito para microempresas. O primeiro projeto superou metas de contratos e desembolsos.

Fim de festa
ACM diz que o Senado aprova hoje o projeto que limita os gastos das Câmaras Municipais. Acha que é uma dádiva para os prefeitos. "Vai acabar essa história de vereador botar prefeito na parede para exigir dinheiro", afirma o senador. Promessa é dívida.

TIROTEIO

De Luiza Erundina (PSB-SP), sobre a demissão de Elcio Alvares (ex-Defesa):
- FHC é um presidente hesitante. Como não tem coragem para tomar uma atitude firme, deixou o ministro se desgastando até se destruir completamente. Só que dessa forma, ele acaba se desgastando também.

CONTRAPONTO

O banheiro como álibi
Antes de lançar o Plano Real, o então presidente Itamar Franco reuniu seus ministros FHC (Fazenda), Maurício Corrêa (Justiça), e o líder do governo na Câmara, Roberto Freire, para discutir uma medida provisória.
Itamar queria sigilo absoluto sobre o conteúdo do texto. Para discutir o assunto, levou a turma toda para uma sala contígua ao seu gabinete. Era uma herança do ex-presidente Figueiredo, com uma cama para descanso.
A reunião demorava. A cada momento, um se levantava para ir ao banheiro. Na oitava hora, Francisco Baker assessor de Itamar, bateu na porta.
- Presidente, as TVs estão perguntando se o senhor vai divulgar a MP hoje.
Alguém tinha telefonado do banheiro para vazar a reunião.
- Se eu não posso evitar o vazamento aqui, onde tem até cama, quanto mais no resto do governo- reclamou Itamar.
Ao chegar à Fazenda, FHC contou tudo para um assessor.
- O presidente viu que eu não fui. Não fui ao banheiro.


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