São Paulo, Quarta-feira, 19 de Janeiro de 2000


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Não peço demissão, afirma o ministro

VALÉRIA DE OLIVEIRA
free-lance para a Folha

Até a hora de sair para o Palácio da Alvorada para a conversa da qual sairia demitido, Elcio Alvares se recusava a pedir demissão, atitude que se esperava dele, que vinha sofrendo um processo de "fritura" no governo.
"Não peço demissão", disse antes de participar de almoço com os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica e com o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), relator da emenda sobre aumento da contribuição previdenciária dos militares.
"Quem pede demissão reconhece tacitamente que não está preparado para exercer a função", reiterou ao sair do almoço. "Acato totalmente a decisão do presidente", afirmou, em tom de despedida, demonstrando que já esperava a demissão iminente.
No final da tarde, os comandantes das três Forças voltaram a se encontrar com Alvares, já após a demissão.
Questionado sobre o que achava da saída do ministro, o comandante do Exército, Gleuber Vieira, disse apenas: "Eu não julgo, quem julga é o presidente".
Sobre a entrevista que deu à revista "Época", Alvares pediu para fazer apenas um "reparo". "Estão interpretando muito mal minhas declarações sobre o ministro José Carlos Dias (Justiça)".
Alvares disse que não fez nenhuma "declaração desairosa, mas queria dizer que no exercício da profissão jamais se pode julgar o advogado pelos clientes".
O ministro foi questionado pela revista por seu escritório de advocacia ser acusado de defender traficantes de drogas. Então, citou José Carlos Dias, dizendo que ele também é criminalista.
Alvares manteve, entretanto, as afirmações que fez a respeito do ministro José Serra (Saúde) na mesma entrevista. Ele voltou a dizer que, quando foi candidato a senador pelo Espírito Santo, nas últimas eleições, Serra apoiou outro candidato -Paulo Hartung (PPS), então no PSDB. "Apesar de eu ser líder do governo com quatro anos de atividade", disse.
Segundo Alvares, "o resultado maior" daquela divergência foi que, em todo o período em que foi ministro, José Serra não falou com ele. O ministro demissionário não acredita, no entanto, na interferência de Serra na saída.
Alvares reclamou da mídia que, na sua opinião, tem feito uma "carga muito grande" sobre determinados atos que estão sendo imputados a ele de forma "inteiramente improcedente".
Antes de ir ao Alvorada, disse que gostaria de fazer ao presidente uma "indagação": "Nós temos sete meses de ministério e o que foi feito?".
Alvares disse que unificou quatro ministérios militares e que executou um extenso programa de trabalho. E criticou aqueles que acham que ele não teve autoridade, repetindo uma frase que já usara na semana passada. "Autoridade não é dar murro na mesa, é manter diálogo."


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