|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Não peço demissão,
afirma o ministro
VALÉRIA DE OLIVEIRA
free-lance para a Folha
Até a hora de sair para o Palácio
da Alvorada para a conversa da
qual sairia demitido, Elcio Alvares
se recusava a pedir demissão, atitude que se esperava dele, que vinha sofrendo um processo de
"fritura" no governo.
"Não peço demissão", disse antes de participar de almoço com
os comandantes da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica e com o
deputado José Carlos Aleluia
(PFL-BA), relator da emenda sobre aumento da contribuição previdenciária dos militares.
"Quem pede demissão reconhece tacitamente que não está
preparado para exercer a função",
reiterou ao sair do almoço. "Acato totalmente a decisão do presidente", afirmou, em tom de despedida, demonstrando que já esperava a demissão iminente.
No final da tarde, os comandantes das três Forças voltaram a se
encontrar com Alvares, já após a
demissão.
Questionado sobre o que achava da saída do ministro, o comandante do Exército, Gleuber Vieira,
disse apenas: "Eu não julgo, quem
julga é o presidente".
Sobre a entrevista que deu à revista "Época", Alvares pediu para
fazer apenas um "reparo". "Estão
interpretando muito mal minhas
declarações sobre o ministro José
Carlos Dias (Justiça)".
Alvares disse que não fez nenhuma "declaração desairosa,
mas queria dizer que no exercício
da profissão jamais se pode julgar
o advogado pelos clientes".
O ministro foi questionado pela
revista por seu escritório de advocacia ser acusado de defender traficantes de drogas. Então, citou
José Carlos Dias, dizendo que ele
também é criminalista.
Alvares manteve, entretanto, as
afirmações que fez a respeito do
ministro José Serra (Saúde) na
mesma entrevista. Ele voltou a dizer que, quando foi candidato a
senador pelo Espírito Santo, nas
últimas eleições, Serra apoiou outro candidato -Paulo Hartung
(PPS), então no PSDB. "Apesar de
eu ser líder do governo com quatro anos de atividade", disse.
Segundo Alvares, "o resultado
maior" daquela divergência foi
que, em todo o período em que foi
ministro, José Serra não falou
com ele. O ministro demissionário não acredita, no entanto, na
interferência de Serra na saída.
Alvares reclamou da mídia que,
na sua opinião, tem feito uma
"carga muito grande" sobre determinados atos que estão sendo
imputados a ele de forma "inteiramente improcedente".
Antes de ir ao Alvorada, disse
que gostaria de fazer ao presidente uma "indagação": "Nós temos
sete meses de ministério e o que
foi feito?".
Alvares disse que unificou quatro ministérios militares e que
executou um extenso programa
de trabalho. E criticou aqueles
que acham que ele não teve autoridade, repetindo uma frase que já
usara na semana passada. "Autoridade não é dar murro na mesa, é
manter diálogo."
Texto Anterior: A queda de Elcio Alvares Próximo Texto: Defesa pode ter corte de R$ 61,33 mi Índice
|