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JANIO DE FREITAS
A linha geral
Apesar da intensa venda de
bancos oficiais, a maior característica das reformas e mudanças no sistema bancário
brasileiro, entre 94 e 99, não
foi a privatização, mas a desnacionalização.
Além dessa característica, o
estudo "Sistema Financeiro
no Mercosul", que a Andima
(Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto)
está editando, permite deduzir que a desnacionalização
não tem sido um efeito de circunstâncias do sistema bancário brasileiro, ou da sua parte
cuja alegada instabilidade facilitou liquidações e intervenções federais. Os números demonstram que a desnacionalização é uma política do Mercosul.
O Brasil é, porém, o grande
adepto dessa política, seguido
em menor escala pelo Paraguai, enquanto a Argentina a
praticou com moderação, desde que comparada aos dois
anteriores. O Uruguai e seu
sistema financeiro não aumentaram a presença estrangeira nos últimos cinco anos:
já estavam desnacionalizados.
Da posse do atual governo
ao ano passado, o número de
bancos estatais brasileiros diminuiu 40,6%, caindo de 32
para 19 sobreviventes. Os bancos privados nacionais acompanharam o mesmo movimento, sobretudo por força
das fusões e incorporações,
passando de 176 para 104, com
redução de 40,9%. Os bancos
estrangeiros, que em fins de 94
eram 38, em meado de 99 já
eram 68, com crescimento de
78,9% - a maior alteração de
sistema bancário havida em
país do Mercosul.
A Argentina do Menem em
segundo mandato atingiu
com mais força os bancos oficiais e os privados com nacionalidade argentina. Os primeiros diminuíram 54,5% do
total, de 35 para 15 entidades.
E os privados com capital argentino decresceram 65,7%,
restando apenas 48 dos 140
existentes ao começar 95. A
crise desses bancos contribuiu
para a derrota eleitoral de
Menem. E é forte argumento
contra a impressão de que foi
pequeno o crescimento dos
bancos estrangeiros, de 8,8%,
os 34 subindo para 37. A meio
da turbulência no sistema
bancário, 8,8% representaram
muito.
O Paraguai se assemelhou
mais à Argentina do que ao
Brasil. Perdeu um dos seus
bancos estatais e viu diminuir
de 19 para 5 o número de privados nacionais, redução de
73,7%. Mas ofereceu condições para aumentar em 23,1%
os bancos estrangeiros, passados de 13 para 16.
O Uruguai manteve seus
dois bancos estatais. Diminuiu os três privados nacionais para um. E manteve os 18
estrangeiros. Nem precisava
aumentá-los: seu sistema financeiro antecipou-se ao
Mercosul.
No conjunto, hoje há menos
34,5% de bancos no Mercosul
do que havia em 94 para 95.
Os bancos oficiais são menos
46,4%. Os privados nas respectivas nacionalidades, menos
53,3%. E os estrangeiros são
35% mais numerosos.
A transformação é imensa.
No que respeita à presença tão
maior de bancos estrangeiros,
seu primeiro efeito é o aumento imediato da evasão de dólares, pelo acrescimento das
remessas de lucros para o exterior. No caso do Brasil, os lucros são estupendos, de recorde mundial. Os demais efeitos
possíveis estão por definir-se.
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