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CONTRATOS SUSPEITOS
80% dos terceirizados da estatal são da Bauruense, que desde 2000 recebeu R$ 821 milhões pelos serviços
Furnas é investigada por terceirização irregular
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Furnas Centrais Elétricas está
sendo investigada por terceirização irregular de funcionários e
improbidade administrativa, pelos Ministério Público do Trabalho e Ministério Público Federal.
São negócios de mais de R$ 800
milhões só com o grupo Bauruense desde 2000 -R$ 323,6 milhões
só em 2004.
Atualmente, há 2.000 terceirizados e 4.581 funcionários na subsidiária da Eletrobrás. O Ministério
Público do Trabalho aponta o ex-presidente e ex-diretor de Engenharia de Furnas Dimas Fabiano
Toledo como administrador dos
contratos de terceirização.
A Polícia Federal e o Ministério
Público do Trabalho receberam
informações de que Dimas Toledo seria sócio-oculto da Bauruense, cujos sócios são os irmãos Airton Antônio Daré e Jair Daré. A
PF investiga o fato.
Junto com dois diretores, Toledo foi afastado em junho de 2005,
depois de o ex-deputado Roberto
Jefferson (PTB-RJ) afirmar à Folha ter ouvido dele que havia desvio de R$ 3 milhões mensais em
Furnas. Segundo Jefferson, R$ 1
milhão ia para o PT nacional; R$ 1
milhão para o PT de Minas,
R$ 500 mil para deputados que foram para a base aliada e R$ 500
mil seriam divididos entre diretores de Furnas. Uma sindicância
na estatal negou haver caixa dois.
Dos terceirizados em Furnas,
1.598 (80%) são contratados pelo
grupo Bauruense, que desde 2000
recebeu R$ 821 milhões de Furnas
em 28 contratos para prestação de
serviços, diz o site da estatal. Só
em 2004, foram assinados negócios de R$ 323,65 milhões. Em ao
menos cinco não houve licitação.
Os acordos de Furnas com a
Bauruense são vultosos. Em 2004,
a estatal pagou R$ 35,6 milhões
por serviços para a sua Superintendência de Empreendimentos
de Geração; R$ 23,8 milhões pela
"prestação de serviços de apoio
técnico e administrativo" ao escritório central de Furnas; e R$
10,9 milhões por "serviços complementares". Foram 12 contratos
e aditamentos só em 2004.
Concurso aprovou 9.000
Embora, por pressão do Ministério Público do Trabalho, Furnas
tenha feito concurso público em
2003/2004 que aprovou 9.000, a
empresa manteve os empregados
de firmas terceirizadas e resiste a
substitui-los pelos concursados.
"A terceirização burla o princípio
do concurso público", diz o procurador Fábio Leal Cardoso,
coordenador nacional do combate a irregularidades trabalhistas
na administração pública.
Na ação, o Ministério Público
do Trabalho informa que Furnas
usa "empresas prestadoras de serviços e/ou cooperativas como
"testas-de-ferro" para manter
2.500 trabalhadores em seu quadro sem concurso público" e delega a terceiros "serviços próprios"
de funcionários.
"Furnas fez concurso e aprovou
9.000. Achamos que estava resolvido, mas soubemos que não estavam dando posse a ninguém",
conta a procuradora Guadalupe
Couto. Ela diz que nomeações são
poucas, lentas e dão preferência a
terceirizados que estão entre os
aprovados no concurso.
Segundo Cardoso, Furnas mantém os mesmos funcionários
mesmo quando troca a prestadora de serviços, que incorpora os
antigos empregados como seus.
"São empresas laranjas, fantasmas. É comum pessoas serem indicadas, e muitas vezes os funcionários que antes atuavam em Furnas são recontratados pela nova
empresa que assume." Um prestador de serviços que saiu há um
ano ouvido pela Folha confirma a
prática e menciona o freqüente
apadrinhamento político.
Na ação, o Ministério Público
do Trabalho fala de "proteção
exacerbada da empresa ao pessoal não concursado". "O prestígio aos não concursados é claramente evidenciado (...) no pagamento a um não concursado de
salário superior ao valor pago a
um servidor que exerce as mesmas funções."
Ameaças de morte
Uma reunião entre o Ministério
Público do Trabalho e Furnas no
próximo dia 27 pode selar acordo
que levaria à substituição dos
contratados pelos aprovados em
concurso. Os procuradores admitem a troca em no máximo dois
anos -Furnas quer oito- e abrir
mão de multa de R$ 25 milhões. A
validade de um dos concursos
acaba em 26 de fevereiro, mas o
Ministério Público do Trabalho
quer prorrogá-lo por dois anos,
caso o impasse não seja resolvido.
Em maio de 2004, o juiz do caso,
Ricardo Miguel, e a procuradora
Guadalupe receberam ameaça de
morte -a dela foi na véspera de
audiência do caso de Furnas.
Bauruense
Em sua página na internet, o
grupo Bauruense se apresenta como empresa de prestação de serviços tão diversos que vão de fornecimento de mão-de-obra, conservação, aluguel de aeronaves,
vigilância e segurança patrimonial a serviços específicos para as
áreas de transmissão, geração e
distribuição de energia elétrica. A
Bauruense informa ter contratos
com Furnas desde 1992.
Segundo o site de Furnas, a estatal detém contratos com a Bauruense Tecnologia e Serviços
Ltda. e Bauruense Serviços Gerais
Ltda. Entre os outros clientes estão estatais como a Petrobras
-primeira da lista-, Eletronuclear, e a Prefeitura de São Paulo.
A "flexibilidade" no atendimento da empresa é ressaltada pelo
texto do grupo na internet. A matriz da empresa fica em São Paulo
e o centro administrativo em Bauru. O grupo conta ainda com nove
unidades espalhadas pelo país,
em locais como Rio de Janeiro
(RJ), Brasília (DF), Goiânia (GO)
e Curitiba (PR), por exemplo.
Em Bauru (345 km de SP), a
Bauruense Serviços Gerais Ltda.,
de propriedade de Airton Antonio Daré e Jair Daré, ocupa um
quarteirão no Jardim Pagani. O
local fica bastante afastado do
centro de Bauru, à margem da rodovia Marechal Rondon.
A sinalização da empresa é precária, apesar de suas dimensões.
Não se encontra placa, painel, faixa ou qualquer outro sinal que
identifique o funcionamento da
Bauruense naquele imóvel.
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