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Sem expectativa de consenso, Brasil investe em acordos bilaterais na região
DA ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Sem consenso sobre avanços
na união sul-americana e sem
acordo sobre como reduzir a
assimetria entre o Brasil e a Argentina, de um lado, e o Paraguai, o Uruguai e a aspirante
Bolívia, do outro, o governo
brasileiro irá aproveitar a 32ª
reunião da Cúpula do Mercosul
para atacar outra frente: acordos e conversações bilaterais.
"As negociações comuns do
bloco são importantes, é óbvio,
mas os acordos bilaterais também são fundamentais para a
integração", disse o chanceler
Celso Amorim à Folha, antecipando exemplos de conversas
com a Bolívia e o Paraguai.
O Brasil liderou a crítica aos
Estados Unidos e condenou o
governo George W. Bush quando este reagiu ao virtual fim da
Alca (Área de Livre Comércio
das Américas) justamente oferecendo acordos em separado
como forma de atraí-los.
Os EUA ofereciam os acordos, e o Brasil corria para evitá-los. O caso mais notório é o do
Uruguai, até hoje dividido entre fazer ou não o acordo para
exportar sua carne para o disputado mercado americano.
O presidente da Venezuela,
Hugo Chávez, também usa e
abusa dos acordos bilaterais,
em que a Venezuela entra com
os recursos, cabendo aos parceiros retribuir com a boa vontade com o país.
Exemplos dados por Amorim: com a Bolívia, estão sendo
acertados programas e financiamentos para reforma agrária, especialmente nas áreas de
fronteira que vivem tensão política depois da posse do presidente Evo Morales. E com o
Paraguai o Brasil discute algo
nevrálgico para o país: maior
remuneração para o consumo
interno da energia gerada pela
Binacional Itaipu.
Tecnologia
Além disso, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva discutiu investimentos e transferência de
tecnologia com a Venezuela,
além de fechar acordos em separado com Chávez na área de
energia. Lula teve encontro
com a presidente do Chile, Michelle Bachelet, e toma café da
manhã hoje com o da Argentina, Néstor Kirchner.
No caso do Uruguai, o presidente Tabaré Vásquez foi avisado de que o embaixador brasileiro no país, José Eduardo Felício, vai passar a semana que
vem em Brasília levantando informações na Receita Federal,
na Polícia Federal e na Anvisa
(a agência de vigilância sanitária) para facilitar as exportações uruguaias para o Brasil.
Há também a possibilidade
de o BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social) financiar empresas
no Uruguai que produzam peças para veículos brasileiros.
Conforme a Folha apurou, a
avaliação do Planalto e do Itamaraty é que "o momento não
é bom" para reuniões na América do Sul, porque há incertezas sobre as intenções de Chávez na Venezuela, instabilidade
na Bolívia e governo recém-iniciado no Equador.
Não é, assim, a melhor oportunidade para os membros do
Mercosul chegarem a consensos sobre interesses dos quatro
países originais do bloco, mais
a recém-chegada Venezuela.
(ELIANE CANTANHÊDE)
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