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Mangabeira afirma preferir "ser imprudente a ser evasivo"
Na Amazônia, ministro de Assuntos Estratégicos diz ser seu dever ligar futuro e presente
Mangabeira Unger, que afirma querer "subordinar seus impulsos às intenções do país", propõe criar escola federal de ensino médio
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
À frente do ministério criado
para apresentar propostas para
o futuro do Brasil, o filósofo Roberto Mangabeira Unger, 60,
diz preferir "ser imprudente a
ser evasivo". Uma amostra dessa atitude veio logo na primeira
ação de sua pasta -uma viagem
ao Pará e ao Amazonas-, quando divulgou idéias como a
transposição de água da Amazônia para o Nordeste.
Sobraram críticas e o ministro recuou -falou em "mal-entendido" e que a proposta é parte de um "esboço" de idéias.
"Não posso executar minha
tarefa se estiver preocupado
em me resguardar", disse o titular da pasta de Assuntos Estratégicos. "Ministro sem pasta" por uma semana em 2007
-intervalo entre a atual nomeação e a derrubada, pelo Senado, da medida provisória que
criara a Secretaria de Planejamento de Longo Prazo-, ele
diz querer "subordinar seus
impulsos às intenções do país".
Em entrevista à Folha, Mangabeira cita outros projetos do
ministério -que vão da construção de uma "infovia nacional" a uma rede de escolas médias federais. E evoca o foco de
sua pasta ao minimizar sua defesa, em 2005, do impeachment do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. "Para nós e para o
Brasil, o futuro é mais importante do que o passado."
FOLHA - Qual foi o objetivo da viagem do senhor pela Amazônia?
MANGABEIRA UNGER - A causa da
Amazônia deve ser vista no
Brasil como uma causa nacional. Então, comecei a organizar
uma proposta para a Amazônia,
que não poderia ser imposta de
cima para baixo.
FOLHA - O sr. lançou documento
com propostas à região que causou
controvérsia. Qual seu objetivo?
MANGABEIRA - Preferi ser imprudente a ser evasivo. Não
posso executar minha tarefa de
maneira responsável se estiver
preocupado em me resguardar.
Nós, brasileiros, temos de perder o medo das idéias. Formulei esse documento e o divulguei. Não é a expressão de uma
posição oficial do governo nem
da minha pasta. É um documento destinado a provocar e a
organizar a discussão.
FOLHA - O sr. pode citar algumas
propostas de sua pasta?
MANGABEIRA - Agora, por exemplo, estou focado em iniciativas
de acesso a crédito, tecnologia e
conhecimento em favor da
multidão de pequenos empreendimentos emergentes
que são a verdadeira força de
nossa economia. Estou trabalhando com o Ministério da
Educação na idéia de uma rede
de escolas médias federais.
Também trabalho com o Ministério da Cultura em um projeto de inclusão digital. Vamos
fazer uma infovia nacional para
fortalecer capacitações populares de acesso à rede e estimular
a produção de conteúdos nacionais.
FOLHA - Em Manaus ficou nítida a
distância entre suas idéias do futuro
e demandas urgentes da região.
MANGABEIRA - Não vejo assim.
Julgo ser natural que as pessoas se preocupem com o imediato, mas questões pontuais só
podem ser resolvidas quando
colocadas em perspectiva de
longo prazo. Eu é que tenho
que construir a ponte entre o
futuro e o presente.
FOLHA - Quais as dificuldades nos
primeiros meses na pasta?
MANGABEIRA - Muitas e imensas. Estamos discutindo a
transformação de um grande
país. Há agora o surgimento de
uma nova classe média que
vem de baixo, morena, mestiça,
de pessoas que estudam à noite
e lutam para abrir pequenos
negócios. Essa vanguarda de
batalhadores emergentes já está no comando do imaginário
popular. A revolução brasileira
seria o Estado usar seus poderes e recursos para ajudar a
maioria a seguir o exemplo dessa vanguarda. Isso só é possível
pela renovação das instituições
econômicas e políticas.
FOLHA - O senhor se refere a uma
reforma política?
MANGABEIRA - Sim, um caminho inevitável. Basta termos financiamento público de campanhas, fidelidade partidária,
substituição da maioria dos
cargos comissionados por carreiras de Estado e revisão do
processo orçamentário. Vai separar a política do dinheiro.
FOLHA - Em 2006, o sr. se lançou
pré-candidato à Presidência. Ainda
mantém este sonho?
MANGABEIRA - Hoje não mais.
Minha luta durante toda a vida
foi em favor de uma alternativa.
Tentei vários caminhos. Agora
estou no mais fecundo que encontrei até agora, pois estou
dentro do governo e com o
apoio do presidente. Para ajudar a transformar o país, eu tenho que me transformar.
Não posso atuar apenas como doutrinador, um agente político isolado. Tenho que subordinar meus impulsos às intenções do país e aprender a praticar aquilo que nunca fiz antes
como prática habitual, que é a
construção de consensos. Estou aprendendo.
FOLHA - Em 2005, o sr. chegou a
defender o impeachment do presidente Lula. Como se deu essa mudança de posição?
MANGABEIRA - Fui um crítico severo do governo Lula em seu
primeiro mandato. Por isso não
foi fácil para o presidente me
convidar e não foi fácil aceitar o
convite. Para nós e para o Brasil, o futuro é mais importante
do que o passado.
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