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IMPRENSA
Investigação jornalística revelou como o governo FHC "inflou" os números referentes aos assentamentos rurais
Folha premia série sobre reforma agrária
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso inflou,
para efeito de propaganda, os números referentes à reforma agrária. Por revelarem tal artifício, o paulistano Eduardo Scolese, 27, e
o paranaense Rubens Valente, 33, ganharam o Grande Prêmio Folha de Jornalismo 2002.
"Fraudes nos balanços anuais da reforma agrária" -um conjunto de 11 reportagens realizadas pela dupla entre abril e setembro- mostrava que o "inchaço"
numérico ocorria porque o Incra contabilizava como assentamentos terrenos vazios e áreas sem casas ou infra-estrutura básica.
Também considerava assentados trabalhadores rurais que já estavam mortos havia muito tempo.
De posse desses dados, o governo alardeava o êxito da política
fundiária que FHC vinha conduzindo desde 1995. As reportagens
levaram o Ministério do Desenvolvimento Agrário a rever os balanços. Mas, em vez de "desinflar"
as estatísticas, o órgão preferiu
avalizar os "fantasmas". Baixou
portaria definindo terrenos baldios como assentamentos e pessoas que nem sequer se encontravam nas terras como assentadas.
Até escreverem a primeira das
11 reportagens, Scolese e Valente
consumiram cinco meses em garimpagens. Analisaram centenas
de documentos oficiais, fizeram
cerca de 50 entrevistas e visitaram
supostos assentamentos do Maranhão e de Santa Catarina.
A Empresa Folha da Manhã S/A
-que edita a Folha e o "Agora
São Paulo"- concede o Grande Prêmio há dez anos. Uma comissão avalia materiais inscritos bimestralmente pelos próprios profissionais da casa. Em 2002, 299
trabalhos concorreram.
São distribuídos seis outros prêmios. O da categoria Reportagem
ficou com o paulista Alessandro Silva, 28, e o gaúcho Gilmar Penteado, 32, pelos textos produzidos entre julho e agosto.
Os jornalistas demonstraram que o Gradi/PM -grupo da Polícia Militar criado com o intuito de reprimir crimes de intolerância
racial, sexual e religiosa- estava arregimentando assaltantes e sequestradores nos presídios de São Paulo. O motivo: desestruturar o
Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das principais organizações criminosas do Estado.
Os detentos recrutados se infiltravam na quadrilha e, por meio
de ações ilegais que resultaram em torturas e mortes, forneciam
dados para a polícia. Em razão das reportagens, o Gradi/ PM acabou extinto. Foram abertas investigações contra policiais, juízes e o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho.
O prêmio na categoria Fotografia coube à carioca Ana Carolina
Fernandes, 39. Publicada em 11 de
setembro, a foto "Brincadeira de
Guerra" flagrava crianças do
Morro do Querosene (RJ) depois
de um tiroteio. Meninos e meninas escreviam no chão, com cartuchos de fuzil, a sigla da facção criminosa Terceiro Comando.
A cobertura que o caderno Cotidiano dedicou à morte de Celso
Daniel, prefeito de Santo André, levou o prêmio de Edição. No dia
22 de janeiro, 11 páginas enfocaram o enterro do político assassinado e a repercussão do crime.
Na categoria Arte, a seção "Oriente-se", do caderno Copa
2002, mereceu o prêmio por se utilizar de recursos gráficos inovadores, que incorporavam elementos da cultura pop e mesclavam informação com humor.
Na categoria Serviço, o vencedor foi o Guia da Folha que circulou em 15 de agosto. A publicação trazia um roteiro voltado a executivos que viajam para São Paulo a negócios.
O projeto "Controle Público", idealizado e coordenado pelo
paulista Fernando Rodrigues, 39, ganhou na categoria Especial.
Cinco jornalistas da Folha formaram a Comissão Julgadora de
2002: Paula Cesarino Costa (secretária de Redação), Bernardo
Ajzenberg (ombudsman), Marcelo Beraba (diretor da Sucursal do
Rio de Janeiro), Vinícius Mota (editor de Opinião) e Danuza
Leão (colunista).
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