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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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OPERAÇÃO SOCIAL

Doação destruiria produção local, diz idealizador

Governo estuda fazer leilão dos alimentos doados ao Fome Zero

DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Walter Belik, um dos idealizadores do Fome Zero e integrante do Conselho de Segurança Alimentar (Consea), afirmou ontem em São Paulo que o programa prevê o leilão pelo governo das doações de alimentos recebidas de empresas e da sociedade e, com o dinheiro, a compra de alimentos produzidos nos municípios atendidos.
Em palestra sobre o programa para representantes da agroindústria na Câmara Americana de Comércio, Belik defendeu os leilões e o investimento local como forma de estimular a economia dos municípios e combater a fome e a pobreza de maneira estrutural. A simples remessa de alimentos, ele diz, "destrói a produção local", o que iria contra os objetivos do programa.
A assessoria do ministro José Graziano (Segurança Alimentar e Combate à Fome) disse que a medida "está sendo considerada e faz parte das opções" para a criação de "regras operacionais" para as doações, a serem divulgadas no início de março. Por enquanto, as doações já recebidas estão sendo "negociadas pontualmente com entidades que as absorvam e distribuam", segundo a assessoria.
Segundo Belik, o Fome Zero "não é uma campanha de doação, não é um "natal sem fome" de quatro anos". Mas disse ser "é importante a solidariedade". O economista disse que o projeto visa a fazer uma ponte entre produtores que não têm a quem vender (no caso, os agricultores das cidades atendidas) e pessoas que querem comprar alimentos mas têm "insuficiência de poder aquisitivo". Para Belik, é difícil conseguir concretizar o programa nos termos de seu nome. "Nem nos EUA, nem na Europa existe "fome zero", nos dizem. É verdade", afirmou.
Sérgio Barroso, presidente da Cargill, uma das maiores empresas de agronegócio em atuação no país, e Domério de Oliveira, coordenador do comitê de agronegócio da Câmara Americana, questionaram Belik sobre a possibilidade de o governo conceder benefícios fiscais a empresas que investissem nas regiões atendidas pelo Fome Zero. "Existe hoje incentivo fiscal para o Nordeste, via Sudene. Está desacreditado. Mas existe a possibilidade de vincular [o incentivo] a projetos determinados", disse Oliveira.
"Não sou governo", respondeu Belik, que afirmou no entanto poder levar a sugestão ao Consea.


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