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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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CASO CC-5

Relatórios seriam enviados diariamente para a sede do banco, em Curitiba

Banestado sabia de operações em Nova York, diz ex-gerente

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A direção do Banestado em Curitiba sabia das operações realizadas pela agência -já desativada- do banco em Nova York.
Segundo Ércio de Paula Santos, 38, ex-gerente da agência nos Estados Unidos, relatórios dos negócios eram enviados diariamente para a sede do banco.
Em entrevista concedida à Agência Folha anteontem à noite, em Curitiba, Santos disse que a equipe de Nova York "tinha total dependência operacional e administrativa da matriz" e que se reportava à direção "diariamente".
Santos deu entrevista acompanhado do advogado Júlio César Rodrigues, 46. "O balanço do volume de operações vinha para Curitiba mensalmente. A gente não tinha autonomia", afirmou.
O Banestado é apontado em investigação da Polícia Federal como um grande operador de contas CC-5 (de não-residentes).
A PF apura se essas contas, em nome de "laranjas" ou empresas "offshore" (em que os proprietários não são conhecidos), eram usadas por um esquema comandado por doleiros para esconder a verdadeira origem do dinheiro.
Só nos anos de 1996 e 1997, segundo documentos em poder da PF, a agência de Nova York movimentou US$ 15 bilhões nas CC-5. O presidente do Banestado nesse período, Domingos Tarso Murta Ramalho, 62, negou que a direção controlasse o cotidiano da agência nos EUA.
O ex-gerente negou que a agência desativada no início de 2000 tenha se concentrado em operações suspeitas. Ele ocupou o cargo de 1993 a 1997. Na agência havia mais um gerente. Ele afirmou que as operações de CC-5 se davam de forma intensa em toda a rede bancária brasileira no período, mas que as denúncias se voltam para o Banestado "por ser um banco morto". O Banestado foi comprado pelo Itaú em outubro de 2000.
Sobre as suspeitas de lavagem de dinheiro, Santos sugere que a ilegalidade ocorria na saída do dinheiro do Brasil. "O Banestado de Nova York trabalhava dentro dos preceitos operacionais e financeiros dos Estados Unidos", disse.
Ainda segundo ele, lavagem de dinheiro "é um problema que o Brasil deveria investigar aqui".
Santos também revelou que as emissões de créditos para Nova York não se davam de forma direta. Mas ele apenas sugere que o Banco del Paraná, braço do Banestado no Paraguai, e o banco Araucária eram usados por doleiros em toda intermediação. A conexão dificultaria o rastreamento do dinheiro. O ex-gerente disse que a agência era fiscalizada pelo OCC (Office of the Comptroller of the Currency), órgão de regulamentação e supervisão dos bancos estrangeiros do Federal Reserve (o banco central dos EUA), além de auditorias do Banestado. "Seguíamos à risca as regras do sistema norte-americano."
Ele não explicou a razão da multa de US$ 75 mil que o OCC aplicou à agência em 2000, por irregularidades que teriam sido cometidas em 1996 e 1997.

June
O ex-gerente confirma ter intermediado a abertura da June Internacional Corporation entre o doleiro Alberto Youssef e o advogado norte-americano David Eric Spencer. Spencer foi consultor de empresas e bancos brasileiros nos EUA, inclusive do Banestado.
E trata de negar que a intermediação escondesse alguma ilegalidade. "O Banestado não abria empresas. O cliente [Youssef] precisou de um advogado que trabalhasse uma operação legítima dentro dos EUA e nós indicamos. Foi um ato meramente administrativo", disse.
O relacionamento com o doleiro teria se limitado à "cortesia" e ao "campo administrativo".


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