São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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Procuradoria investiga reuniões de ex-assessor no 1º semestre de 2003

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O Ministério Público Federal investiga dados sobre pelo menos cinco ocasiões nas quais o ex-assessor palaciano Waldomiro Diniz se reuniu em Brasília com diretores da empresa de informática GTech Brasil -numa delas, estava presente o empresário de bingos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Os encontros aconteceram no primeiro semestre de 2003, já no governo Lula, quando Waldomiro ocupava o cargo de subchefe de Assuntos Parlamentares, subordinado ao ministro da Casa Civil, José Dirceu. Na época, a empresa negociava com o governo a renovação de um contrato de R$ 650 milhões, que fechou em 8 de abril, para gerenciar loterias federais.
A primeira reunião ocorreu, conforme o levantamento do Ministério Público, em 6 de janeiro de 2003, cinco dias depois de o "Diário Oficial" da União registrar a nomeação de Waldomiro para o cargo no Planalto. No encontro, ele teve como interlocutores os diretores da GTech Antonio Carlos Lino da Rocha e Marcelo José de Rovai. É a única reunião da qual Cachoeira também participa, segundo a investigação.
Ainda conforme a investigação, houve um café da manhã em Brasília em 31 de março, oito dias antes de a GTech celebrar a renovação de seu contrato com a Caixa Econômica Federal. A negociação é alvo de outra investigação no Ministério Público Federal do Distrito Federal por suposto prejuízo financeiro ao banco.
A Folha apurou que o executivo Antônio Carlos Lino da Rocha, que então ocupava o mais alto cargo da GTech no Brasil e que mora em São Paulo, hospedou-se no Hotel Blue Tree Tower nesse mesmo dia 31. As reuniões terminaram em 1º de julho de 2003.
Waldomiro foi exonerado do cargo, "a pedido", na última sexta-feira, quando a revista "Época" revelou o conteúdo de uma fita de vídeo na qual ele foi flagrado em diálogo com Cachoeira. No diálogo, gravado pelo empresário em 2002, o ex-assessor pedia propina e contribuições eleitorais e negociava os termos de uma licitação para favorecer Cachoeira.
Em conversas com amigos, relatadas à Folha, Cachoeira alegou que foi traído por Waldomiro. Ele teria apresentado o ex-assessor aos executivos da GTech. Queria abrir espaço na administração pública para ampliar seus negócios com a GTech. Aproveitando-se de uma viagem de Cachoeira, Waldomiro continuou se reunindo com os executivos da GTech.
Há um ponto coincidente entre os negócios de Cachoeira e da GTech: ambos operaram ou operam no mercado lotérico do Paraná (a GTech já deixou o Estado) e de Minas Gerais. Uma das filiais da empresa do irmão de Cachoeira, Sebastião de Almeida Ramos Júnior, 37, a Capital Construtora e Limpeza Ltda., está registrada em Araxá (MG). De acordo com a GTech, a empresa é contratada da loteria estadual de Santa Catarina.


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