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SOMBRA NO PLANALTO
Mercadante admite possibilidade de Waldomiro ter agido de forma irregular e tentado "favorecer alguém" quando assessorava Presidência
Governo já vê "provável" ação na gestão Lula
FERNANDA KRAKOVICS
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo resolveu se antecipar a
surpresas no caso Waldomiro Diniz, ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência que
pediu propina e contribuições para campanhas eleitorais em 2002,
e já afirma que é "provável" que o
ex-assessor tenha tentado fazer
tráfico de influência enquanto
atuava na Casa Civil.
Ontem, o líder governista no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse que "o governo trabalha
com a hipótese" de Waldomiro
"ter tentado interferir politicamente em decisões do governo"
quando era subchefe de Assuntos
Parlamentares da Casa Civil. "Até
o momento não existe indício de
conduta irregular [do Waldomiro] no governo federal, mas acho
provável que exista. É possível
que tenha usado o cargo para favorecer alguém, mas ele não tinha
poder de decisão. Não lidava com
orçamento, não tinha verba."
A Folha apurou que a cúpula do
governo teme novas revelações
sobre o caso já envolvendo Waldomiro no tempo em que foi um
dos principais auxiliares do ministro da Casa Civil, José Dirceu.
Waldomiro cuidava da relação
com o Congresso. Trabalhou com
Dirceu até janeiro, quando, na reforma ministerial, sua seção foi
transferida para a recém-criada
Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais.
Chegaram ao Planalto rumores
de que Waldomiro se envolveu
com lobistas do bingo e da multinacional de informática GTech.
Isso deve mudar a linha de defesa
do governo, que afirmava que Diniz só cometera ato desabonador
antes do início do governo Lula.
A resposta do Palácio do Planalto será dizer que na posição de
quem cuidava da relação do governo com Congresso seria normal Waldomiro lidar com lobistas. O importante, argumentará o
governo, é saber se ele fez o lobby
e se contrariou o interesse público. No caso da GTech, o governo
dirá que o acordo fechado não teve nada de ilegal ou desvantajoso,
pois se obteve desconto de 15%.
Mercadante se reuniu ontem no
Planalto com Dirceu e Márcio
Thomaz Bastos (Justiça), separadamente. Conversou ainda com o
ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política), a quem Waldomiro
havia passado a se reportar, e com
o líder do governo na Câmara,
Miro Teixeira (sem partido-RJ).
"Depois de ver aquela cena, eu
posso não duvidar de ilícitos no
governo federal", afirmou Mercadante. Ele se referia à fita em que
Waldomiro aparece cobrando
propina do empresário de bingo
Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em 2002, quando
era presidente da Loterj (Loteria
do Estado do Rio de Janeiro).
Negando que o governo tenha
sido omisso no caso até a fita de
vídeo ser divulgada, Mercadante
distribuiu ontem ofícios encaminhados por Waldomiro a Dirceu,
Thomaz Bastos e ao corregedor-geral da União, Waldir Pires, no
dia 4 de julho de 2003, defendendo-se das primeiras acusações
veiculadas pela revista "Isto É".
"Caso fossem verdadeiras as
acusações maledicentes a mim dirigidas, estaríamos diante de prováveis ilícitos criminais e funcionais, bem como diante da existência de corrupção no âmbito da
Caixa Econômica. Por essa razão,
requeiro a Vossa Excelência a
gentileza de tomar as medidas
que julgar cabíveis e necessárias
para apurar o que ali se encontra
afirmado", alegou Waldomiro.
Segundo a revista, haveria investigação do Ministério Público
sobre a exploração de máquinas
caça-níqueis envolvendo o ex-subchefe, que teria beneficiado a
GTech em renovação de contrato
com a Caixa Econômica Federal.
Mercadante não soube informar se o governo atendeu o pedido de Waldomiro e o investigou.
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