São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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JANIO DE FREITAS

Casos vários

A zonzeira bateu com força na cúpula do governo e do PT. Ao primeiro passo rápido e certo, com a exoneração do assessor desmascarado e a ordem de investigação policial, seguiu-se uma torrente de sandices que cedeu terreno à oposição, alimentou os que buscam a queda de José Dirceu e os petistas nem se deram conta de que deixaram Lula sob uma acusação pesada.
A defesa do PT contra o pedido de CPI foi ameaçar com a investigação concomitante de casos do governo Fernando Henrique que não puderam ser investigados. Casos, portanto, que o PT e o governo consideram tão graves que bastariam para atemorizar a oposição. Os autores e beneficiários dessas improbidades que o PT e o governo consideram tão graves, e são, continuam impunes e seguros porque, é notório, o acordo de Lula com Fernando Henrique incluiu "esquecê-los".
Logo, se até o fim do seu mandato Fernando Henrique foi o garantidor da impunidade, desde então quem a assegura é Lula. Um e outro praticantes da mesma forma de conivência com improbidades, e nessa condição igualmente apontados pela saída falsa do governo e do PT.
A facilidade com que o governo e suas lideranças parlamentares se fazem acuar, apesar de toda a insuficiência das lideranças oposicionistas, chega a ser grotesca. Já está José Dirceu tratado, na imprensa e no Congresso, como se fosse ele o Waldomiro Diniz. Direta ou enviesadamente, pedem sua cabeça. Não apareceu até agora, porém, nada que o comprometa em termos morais ou administrativos. As comparações com o episódio Hargreaves e com Eduardo Jorge Caldas Pereira multiplicam-se sem fundamento algum: o primeiro foi vítima de uma acusação direta, justificando-se que deixasse o Gabinete Civil até prová-la injusta, como fez; o outro ficou sob suspeitas e acusações muito mais amplas e, se algumas se mostraram infundadas, ficaram faltando muitas explicações convincentes -por exemplo, para os inúmeros contatos com o Lalau do TRT-SP e para a abertura apenas parcial do sigilo telefônico.
O assédio avança e o governo, ou assiste estupefato, ou se embaraça em pretensas defesas que o corroem mais do que os ataques. E nisso tudo está um bom caso de estudo sobre a imprensa, ou a mídia, brasileira. A gravação que compromete um assessor com uma ilicitude grave recebe o realce devido e as devidas cobranças de investigação. Trata-se, no entanto, de um assessor. A gravação em que um presidente da República combinava com o então presidente do BNDES a manipulação fraudulenta de uma privatização bilionária, ah, isso foi facilmente esvaziado. E era caso passível de impeachment.
Como as investigações vão adiante, fora e dentro do governo, será conveniente que se interessem pelo tema dos bingos e pelas variadas vias de abordagem desse tema no governo. Nele estão, aliás, as preliminares de uma proposta que tem encontrado trânsito desimpedido no governo e, particularmente, em certas alas da Presidência: a abertura de cassinos.

Outro caso
Gilberto Gil fez muito bem em dar atenção ao que se passava no Ministério da Cultura e dar início à remontagem de sua assessoria imediata. Gil não imagina o tamanho do risco que estava correndo, com determinadas práticas e "projetos" à sua volta.
Sua providência ainda é insuficiente, no entanto. Ou fica mais à frente do ministério ou viaja por aí afora, e ministério sem ministro está sujeito a muitas surpresas. E as exonerações feitas estão precisando do complemento mais do que justificado: auditorias, investigações internas e externas.


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