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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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TENSÃO NO CAMPO

Governo diz que não altera medida que proíbe vistoria

MST descarta trégua, e MP das invasões não muda já

Sergio Lima/Folha Imagem
Da direita para a esquerda, Luiz Dulci, José Dirceu e João Pedro Stedile, durante reunião em Brasília


LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após uma reunião de quatro horas e meia no Palácio do Planalto, o MST saiu dizendo que mantém as invasões de terra, e o governo, que não muda neste momento a medida provisória criada na gestão passada para impedir a vistoria e desapropriação de áreas invadidas. Mas os dois lados insistiram na manutenção do diálogo.
No Carnaval, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) retomou as invasões de prédios do Incra e de fazendas particulares, após trégua iniciada durante a campanha eleitoral.
As invasões ocorreram para pressionar o governo devido à demora na desapropriação de terras, além de reivindicar a revogação da MP 2.027, de maio de 2000, e questionar a indicação de superintendentes do Incra -a maioria vinda de movimentos sociais, como o próprio MST.
Na reunião de ontem, da qual participaram três ministros -Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Luiz Dulci (Secretaria Geral) e José Dirceu (Casa Civil)- e cinco coordenadores do MST, o tema principal foi o plano nacional de reforma agrária, a ser incluído no PPA (Plano Plurianual) 2004/2007.
Tanto Rossetto como Gilmar Mauro, um dos coordenadores nacionais do MST, disseram que a MP não foi discutida. Mas os dois concordam que artigos dela deveriam ser modificados.
"Temos discordância em relação a alguns artigos da MP, que criam uma enorme confusão. Mas não iremos encaminhar um projeto de mudança. Todo o processo de modificação será feito a partir de amplo debate na sociedade, Congresso e entidades patronais", afirmou Rossetto. "Somos contra vários artigos da MP e vamos continuar colocando a questão", disse Mauro.
Questionado se o governo cobrou nova trégua nas invasões, Mauro respondeu: "Não houve essa cobrança. Há um entendimento de que o movimento social tem autonomia. Para o bem da democracia, é importante que o movimento social não seja cooptado pelo governo". E disse que as invasões "podem ocorrer, devem ocorrer, mas sem significar quebra do diálogo com o governo".
Já Rossetto citou números: "Temos que reconhecer a enorme diminuição dos conflitos agrários no Brasil. Se pegarmos as referências de governos passados, tínhamos médias trimestrais de 80 conflitos e passamos para 24 nos primeiros três meses deste ano. Não trabalhamos com cenário de ampliação dos conflitos".
Ele disse que os movimentos são autônomos e respondem por suas condutas. "O governo tem uma conduta de diálogo e negociação, orientadas pelo respeito."
João Pedro Stedile, do MST, brincou quando a reunião foi aberta para os fotógrafos: "Vamos fazer cara feia para as fotos". E emendou: "Vamos voltar a ficar normal agora porque nesse governo não dá para fazer cara feia".

Colaborou SÉRGIO LIMA, repórter-fotográfico


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