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ELIO GASPARI
"Banho de ética"? Use sabonete internet
O candidato do PSDB à
Presidência da República,
Geraldo Alckmin, oferece "um
banho de ética" à política nacional. Ele poderia começar a limpeza anunciando que colocará a
contabilidade de sua campanha
na internet, desafiando Lula a fazer o mesmo.
O PSDB e o PT sabotaram uma
iniciativa nesse sentido, patrocinada pelo PFL. Argumentam,
com alguma razão, que a divulgação dos nomes dos doadores
durante a campanha inibe a ajuda de simpatizantes sinceros.
(Delúbio Soares já disse que
"transparência assim é burrice.")
Alckmin pode propor a Lula o
seguinte:
1) Os dois candidatos divulgam
semanalmente todas as doações,
identificando o boleto e a data do
depósito. Coisa assim: dia 20 de
agosto, doação de R$ 10 mil, bilhete nš 123.456. O nome do doador fica preservado até a noite do
dia 3 de outubro. Fechadas as urnas, abrem-se os nomes. Esse é o
pedaço menos relevante. Pelo sistema atual, os nomes dos doadores são conhecidos poucos meses
depois da eleição.
2) Muito mais importante é a
divulgação das despesas. A exposição dos gastos permite que se
detectem os efeitos do caixa dois e
impede a propagação de lorotas.
Exemplo: na sua prestação de
contas de 2002, Lula disse que
gastou R$ 21 milhões, dos quais
R$ 7 milhões pagaram "produções audiovisuais" (leia-se Duda
Mendonça). Admitindo-se que o
marqueteiro tenha comido todos
os lanches da campanha (R$ 23
mil) e que tenha ficado com tudo
o que "nosso guia" gastou em cachês, honorários e serviços de terceiros, chega-se a um total de R$ 8
milhões. A cifra não faz sentido, é
um elefante de 200 gramas. Para
ter uma idéia da escala eleitoral
dos companheiros, Duda transferiu ilegalmente para a conta Dusseldorf cerca de R$ 10 milhões.
Alckmin e Lula podem chegar a
um compromisso pelo qual divulgam suas despesas protegendo
(até o dia seguinte à eleição) aspectos do sigilo comercial dos fornecedores. Se quiserem, é possível
chegar a um acordo em benefício
da moralidade e da transparência. Se um quiser, faz sozinho. Se
ninguém quiser, tudo bem, mas o
banho fica para depois.
Era dura a vida na corte proletária
Suprema vingança do capital:
o melhor retrato da vida de Stálin
foi escrito por um descendente do
sobrinho do sócio de Nathan
Rothschild, um dos homens mais
ricos do mundo no início do século 19, quando os ancestrais do
tirano bolchevique eram caipiras
do Cáucaso. "Stálin: A Corte
do Czar Vermelho", de Simon
Sebag Montefiore, é um livro
excepcional.
Uma biografia de Stálin que começa como o romance "Guerra e
Paz", de Leon Tolstói, contando
uma festa, prenuncia um escritor
de gosto, um pesquisador obsessivo. Numa noite de novembro de
1932, os hierarcas comemoravam
o aniversário da revolução de
1917. Bebiam, dançavam e brindavam à destruição dos "inimigos do estado". Stálin flertava
com uma atriz, casada com um
general, jogando-lhe bolinhas de
pão.
Enciumada, sua mulher foi embora. Parece que horas mais tarde
ele saiu com outra companhia.
Quando retornou ao apartamento do Kremlin, caiu de sono. Pelos
piores motivos, foi uma noite
inesquecível para Josef Stálin.
Desde 1949, quando o escritor
polonês Isaac Deutscher escreveu
sua demolidora biografia do
"Guia Genial dos Povos", a fatura
do tirano pareceu liquidada: era
um bugre, primitivo, recalcado,
paranóico e vingativo.
Anne Applebaum, autora do
monumental "Gulag" sustenta
que o Stálin de Montefiore oferece novas percepções "sobre a natureza do mal e dos efeitos do poder absoluto nas relações humanas". Amparado em memórias,
entrevistas e documentos que só
começaram a aparecer nos últimos 15 anos, Montefiore abala a
idéia de que Stálin tenha sido um
tirano banal. Foi um exterminador, recalcado, vingativo e paranóico. Bugre primitivo nem pensar.
Um capítulo do livro intitula-se
"O encantador". Montefiore ousa: "A base do poder de Stálin no
partido não era o medo: era o
charme". (Isso até 1930.) Em seguida, demonstra: ele buscava
hierarcas na estação ferroviária,
cedeu seu apartamento a um colega que o apreciou, distribuía
planos de saúde e dachas, cuidando até da mobília. Também não
era um bugre. Tinha pouca roupa, mas juntou 20 mil livros. Reviu pessoalmente a versão para o
russo do poema épico georgiano
"O Cavaleiro com Pele de Pantera" sem que o tradutor (preso)
soubesse de quem eram as anotações que recebia. Depois presenteou-o com uma mansão.
A Corte do Tzar Vermelho era
um mundinho fofoqueiro, fechado e violento. Como dizia o chefe:
"Gratidão é doença de cachorro".
A atriz do flerte da festa foi fuzilada antes do marido. Os chefes de
polícia Yagoda, Yezov e Beria
eram tarados. A mãe de Alexei
Adjubei, que viria a ser genro de
Nikita Kruschev, era a costureira
do alto proletariado. A mulher do
chanceler Molotov não pagava
pelos vestidos que encomendava
e hoje seus netos alugam o apartamento da família a banqueiros
americanos. O avô do presidente
Vladimir Putin, que cozinhara
para Rasputin e Lênin, trabalhou
numa das casas do "Marechalíssimo". O gordinho George Malenkov, seu sucessor, morreu em
1988, convertido ao catolicismo.
Poucos regimes blindaram de
forma tão obsessiva a vida privada e os bastidores da vida pública
de seus hierarcas. Perda de tempo. Poucos são os retratos minuciosos e bem construídos como o
da corte de Stálin, por Montefiore.
Tasso fará História
O senador Tasso Jereissati
assegurou seu lugar na história dos partidos políticos.
Presidindo o PSDB, conduziu negociação na qual havia
dois postulantes à vaga de
candidato à Presidência. José Serra tinha 40% das preferências numa pesquisa em
que Lula liderava com 44%.
Geraldo Alckmin perdia de
49% a 31%, no primeiro turno. Presidido por Tasso, o
tucanato ficou com Alckmin. Não há precedente de
partido que tenha trocado o
mais pelo menos com tamanha ousadia. Em outubro,
Tasso saberá se entrou para
a história como arquiteto
clarividente ou catastrófico.
Na agulha
O PFL tem mais um nome
para a disputa pelo governo
de São Paulo. É o do deputado José Aristodemo Pinotti,
secretário de Educação da
prefeitura, ex-secretário de
Saúde do Estado. Se o partido vai na bola, não se sabe.
O passado presente
Quem achava que a minissérie JK poderia ter reflexos na
atualidade política errou o
alvo. A reencenação do romance abolicionista "Sinhá
Moça", na novela das seis,
faz bem à alma e, se não provocar simpatias, certamente
antipatias não levará para
"nosso guia". Estará no ar
durante toda a campanha e
deverá se estender até o início do novo mandato presidencial. A mágica de Benedito Ruy Barbosa alegra. O
Brasil do século 21 tem milhões de pessoas parecidas
com Sinhá (Débora Falabella, ex-Sarah Kubitschek) e
Rodolfo (Danton Mello). O
caroço está na existência de
maganos muito parecidos
com o barão de Araruna
(Osmar Prado).
Voto direto
Aloizio Mercadante bate
Antonio Palocci na preferência dos grandes banqueiros nacionais na proporção
de dois para um.
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