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ANÁLISE
PSDB entra na roda da crise
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com as provas testemunhais de
que os senadores Antonio Carlos
Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (PSDB-DF) violaram o sigilo de uma votação no
Senado, o foco da crise política se
desloca do Executivo e se concentra no Legislativo e nos partidos.
A votação foi a da cassação do
senador Luiz Estevão (PMDB-DF) por falta de decoro parlamentar. Envolvido no escândalo
do TRT (Tribunal Regional do
Trabalho) de São Paulo, ele era o
principal obstáculo à eleição do
tucano Arruda ao governo do
Distrito Federal em 2002.
A crise no Senado dificulta ainda mais a já difícil manutenção da
atual aliança governista para as
eleições de 2002 e atinge o próprio
equilíbrio interno nos principais
partidos, o PFL e o PMDB.
As disputas são entre eles e também dentro de cada um deles. A
novidade é que o PSDB entrou na
roda.
A comparação do clima e do
desgaste de hoje é aos de 1993,
época da CPI do Orçamento, que
investigou dezenas de parlamentares e cassou seis deputados. E
não à CPI que resultou no impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.
A grande preocupação do Planalto, do PSDB e particularmente
do presidente Fernando Henrique Cardoso é se descolar da
enrascada de Arruda.
A qualificação de líder do governo é a única que une a violação do
painel do Senado ao Planalto.
A suposta ação de Arruda seria
pessoal, movida por interesses
políticos e eleitorais regionais.
Não teria nada a ver com o governo federal.
É por isso que coordenadores
governistas e tucanos decidiram
prestigiar Arruda até o discurso
de ontem em plenário, mas depois "lavar as mãos". A defesa cabe a ele, só a ele.
O PFL e o PMDB, ao contrário,
comemoravam tacitamente a
descoberta do nome do senador
tucano numa crise em que o
PSDB vinha sendo o partido mais
preservado. E trataram de lembrar que o PT não pode ser considerado "fora".
Até agora, a crise se arrastava
havia meses em torno do presidente do Senado, Jader Barbalho,
do PMDB, e de Antonio Carlos
Magalhães, do PFL.
Nas cúpulas dos dois partidos,
um sentimento comum: salvar os
"seus" senadores, mas sem afundar com eles.
Jader indicou superintendentes
para a Sudam que se tornaram alvos de pesadas acusações, é acusado de fazer negócios com um
deles e suspeito de envolvimento
em desvios do Banpará, o banco
oficial do seu Estado, o Pará.
ACM é quem mais acusa Jader,
mas a partir de agora deverá estar
mais ocupado em se defender.
Dificilmente ACM e Arruda escaparão de um processo formal
de cassação de mandato por falta
de decoro parlamentar. Se o processo resultará em cassação é uma
incógnita.
No governo e entre os tucanos,
prevalece a sensação de que ela é
possível porque há enorme pressão da sociedade, principalmente
via imprensa. Como para defender Arruda teriam que automaticamente defender ACM, optam
por não defender nenhum dos
dois. Nem atacar.
As cúpulas peemedebista e pefelista, porém, não acreditam em
cassação usando uma velha lógica
política: como todos os partidos
acabaram se envolvendo na crise,
a rede de proteção interessa a todos eles.
Ou seja: o PMDB está mobilizado para salvar Jader, o PFL se articular para não deixar ACM sozinho, e o próprio PSDB não terá
nenhuma vantagem se Arruda for
cassado. Ao contrário, só terá a
perder.
Nessa rede, peemedebistas e pefelistas incluem até mesmo o PT,
que defende a senadora Heloísa
Helena (PT-AL) da suspeita de ter
votado contra a cassação de Luiz
Estevão.
A rede de proteção, entretanto,
tem limites. Como o PSDB em relação a Arruda, para o PMDB e
para o PFL é mais importante se
defenderem do que defenderem
Jader e ACM. As cassações são
improváveis, não impossíveis.
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