São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2001

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ANÁLISE

PSDB entra na roda da crise

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com as provas testemunhais de que os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (PSDB-DF) violaram o sigilo de uma votação no Senado, o foco da crise política se desloca do Executivo e se concentra no Legislativo e nos partidos.
A votação foi a da cassação do senador Luiz Estevão (PMDB-DF) por falta de decoro parlamentar. Envolvido no escândalo do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de São Paulo, ele era o principal obstáculo à eleição do tucano Arruda ao governo do Distrito Federal em 2002.
A crise no Senado dificulta ainda mais a já difícil manutenção da atual aliança governista para as eleições de 2002 e atinge o próprio equilíbrio interno nos principais partidos, o PFL e o PMDB.
As disputas são entre eles e também dentro de cada um deles. A novidade é que o PSDB entrou na roda.
A comparação do clima e do desgaste de hoje é aos de 1993, época da CPI do Orçamento, que investigou dezenas de parlamentares e cassou seis deputados. E não à CPI que resultou no impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.
A grande preocupação do Planalto, do PSDB e particularmente do presidente Fernando Henrique Cardoso é se descolar da enrascada de Arruda.
A qualificação de líder do governo é a única que une a violação do painel do Senado ao Planalto.
A suposta ação de Arruda seria pessoal, movida por interesses políticos e eleitorais regionais. Não teria nada a ver com o governo federal.
É por isso que coordenadores governistas e tucanos decidiram prestigiar Arruda até o discurso de ontem em plenário, mas depois "lavar as mãos". A defesa cabe a ele, só a ele.
O PFL e o PMDB, ao contrário, comemoravam tacitamente a descoberta do nome do senador tucano numa crise em que o PSDB vinha sendo o partido mais preservado. E trataram de lembrar que o PT não pode ser considerado "fora".
Até agora, a crise se arrastava havia meses em torno do presidente do Senado, Jader Barbalho, do PMDB, e de Antonio Carlos Magalhães, do PFL.
Nas cúpulas dos dois partidos, um sentimento comum: salvar os "seus" senadores, mas sem afundar com eles.
Jader indicou superintendentes para a Sudam que se tornaram alvos de pesadas acusações, é acusado de fazer negócios com um deles e suspeito de envolvimento em desvios do Banpará, o banco oficial do seu Estado, o Pará.
ACM é quem mais acusa Jader, mas a partir de agora deverá estar mais ocupado em se defender.
Dificilmente ACM e Arruda escaparão de um processo formal de cassação de mandato por falta de decoro parlamentar. Se o processo resultará em cassação é uma incógnita.
No governo e entre os tucanos, prevalece a sensação de que ela é possível porque há enorme pressão da sociedade, principalmente via imprensa. Como para defender Arruda teriam que automaticamente defender ACM, optam por não defender nenhum dos dois. Nem atacar.
As cúpulas peemedebista e pefelista, porém, não acreditam em cassação usando uma velha lógica política: como todos os partidos acabaram se envolvendo na crise, a rede de proteção interessa a todos eles.
Ou seja: o PMDB está mobilizado para salvar Jader, o PFL se articular para não deixar ACM sozinho, e o próprio PSDB não terá nenhuma vantagem se Arruda for cassado. Ao contrário, só terá a perder.
Nessa rede, peemedebistas e pefelistas incluem até mesmo o PT, que defende a senadora Heloísa Helena (PT-AL) da suspeita de ter votado contra a cassação de Luiz Estevão.
A rede de proteção, entretanto, tem limites. Como o PSDB em relação a Arruda, para o PMDB e para o PFL é mais importante se defenderem do que defenderem Jader e ACM. As cassações são improváveis, não impossíveis.


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