São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2001

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ALIADOS EM CRISE

Regina Borges diz que medida comprovaria que recebeu telefonema de ACM no dia da cassação de Estevão

Envolvida sugere quebra de seu sigilo telefônico

KENNEDY ALENCAR
ANDRÉA MICHAEL

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Regina Célia Peres Borges, ex-diretora do Prodasen, disse à comissão de inquérito que investigou a violação do painel da Casa que poderá provar que o então presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), telefonou-lhe na noite de 28 de junho do ano passado "agradecendo pela lista" dos votos secretos da cassação de Luiz Estevão.
Segundo a Folha apurou, Regina sugeriu a quebra de seu sigilo telefônico durante o depoimento, quando membros da comissão classificaram de ""grave" a declaração de que havia recebido o telefonema de ACM. A Comissão de Ética do Senado pretende pedir a quebra do sigilo.
Ativa militante do PSDB, ao qual é filiada desde janeiro de 1994, Regina foi uma das coordenadoras da campanha da deputada Maria Abadia (PSDB-DF) ao governo do Distrito Federal. Cuidava de toda a parte relativa ao processamento de dados -sua especialidade- e à mala-direta.
Foi no ninho tucano que aproximou-se de José Roberto Arruda (PSDB-DF). E teve a ajuda dele na sua segunda nomeação para a diretoria do Prodasen, em 1997. A primeira foi em 1991.
Com capacidade técnica reconhecida pelos colegas, Regina encabeçava a tradicional lista tríplice, elaborada pelos funcionários da autarquia, com os nomes mais votados para ocupar o cargo. O apoio político de Arruda surgiu como o empurrão que faltava.
Ainda filiada ao PSDB, Regina hoje é uma militante discreta. Casada com Ivar, não exibe o sobrenome do companheiro -Alves Ferreira. Optou por manter o do ex-marido, Paulo Fernando Pimentel Borges, primo do governador da Bahia, o pefelista Cesar Borges, afilhado político de ACM.
Funcionários do Prodasen desde 1975, Regina e Ivar hoje não têm mais cargos comissionados na autarquia. O casal, que não respondeu às ligações da Folha ontem, vive em uma ampla casa no Lago Sul, bairro nobre de Brasília.
No segundo depoimento que prestou sobre o caso, a ex-diretora do Prodasen (Centro de Informática e Processamento de Dados do Senado) relatou que o líder do governo no Senado, José Roberto Arruda, disse que a ordem para quebrar o sigilo do painel eletrônico partira de ACM. Regina contou que "recebeu uma ligação do senador Arruda". Ele lhe pediu que fosse à sua casa. Era na véspera da cassação, dia 27 de junho de 2000.
No encontro, segundo Regina, Arruda invocou o nome de Antonio Carlos Magalhães. Disse que "o presidente do Senado pedira que a procurasse, determinando que ela obtivesse, no sistema de votação eletrônica do Senado, o resultado da votação da cassação do senador Luiz Estevão".
Regina revelou que, após obter cópia da lista, a entregou a um assessor de Arruda, Domingos Lamoglia, no dia cassação e que, na noite da mesma data, o senador pefelista lhe telefonou. ACM, Arruda e Lamoglia negam.
Laudo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) confirmou que foi extraída dos computadores do Senado em 28 de junho de 2000, o dia da cassação, a lista com os votos de todos congressistas. O trabalho da Unicamp, que reconstitui o caminho da fraude, chegou à senha do "usuário número 9". Funcionário do Prodasen, ele se chama Heitor Ledur. Ouvido pela comissão, confessou ter participado da operação e revelou que cumpriu ordens de Regina.



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