São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007

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Magistrado colecionava dossiês de colegas

Então vice-presidente do TRF-2, Carreira Alvim pretendia usar os papéis para fazer pressão e conseguir a presidência do tribunal

Policiais querem incluir em inquérito do caso Hurricane a investigação de sentenças de magistrados favoráveis ao setor de combustíveis


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A análise de documentos apreendidos pela Polícia Federal na Operação Hurricane confirma o que o desembargador José Eduardo Carreira Alvim, preso na última sexta-feira, havia anunciado na carceragem da PF no Rio de Janeiro: ele colecionava dossiês com dados que desabonariam pelo menos quatro de seus colegas no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região).
Para a Polícia Federal, Carreira Alvim, que na ocasião era vice-presidente do TRF-2, pretendia usar a papelada para pressionar os colegas a votarem em seu nome para assumir a presidência do tribunal.
Ao mesmo tempo, ainda conforme a polícia, quando soube que estava sob investigação, Alvim teria distribuído os documentos a um grupo de jornalistas. Com isso, diz a PF, pretendia preparar uma versão em caso de ser preso.
O desembargador iria atribuir a ofensiva à sua disposição de denunciar irregularidades que teriam sido praticadas por seus colegas de tribunal.
A PF analisa algumas fitas apreendidas em endereços relacionados a Alvim. Em análise parcial, as conversas, travadas entre um funcionário e um desembargador do TRF-2, sugerem que o magistrado, cujo nome é mantido sob sigilo, teria empregado o servidor com um certo salário, cujo valor não lhe seria pago integralmente.
A diferença seria restituída ao dono do gabinete.

Comércio de combustíveis
A PF pretende incluir nos volumes de documentos relativos à Operação Huricane um inquérito no qual são investigadas sentenças judiciais supostamente irregulares concedidas em favor do setor de comércio de combustíveis.
O inquérito tramita no Superior Tribunal de Justiça e também tem entre seus alvos os desembargadores Alvim e José Ricardo Regueira, ambos presos na última sexta-feira.
No relatório de Inteligência Policial que sustentou o pedido de prisão dos investigados, uma frase de Carreira Alvim, gravada em escuta ambiente no dia 7 de fevereiro deste ano, é usada como epígrafe de capa do documento: "Me pegar por corrupção, eles não vão nunca!".
Ao relatar as práticas da organização no relatório, os investigadores afirmam que "o desenrolar da investigação comprovou a atuação intensa do magistrado federal José Eduardo Carreira Alvim".
Em sua página 30, o documento registra que, inicialmente, o desembargador mantém contatos com o grupo investigado por meio de um intermediário (Silvério Cabral Júnior, genro do magistrado, que também está preso).
A relação de Alvim com a organização, segundo a polícia, evolui com o tempo. "Num segundo momento", ele passa a se relacionar "diretamente com os favorecidos por suas decisões". (ANDRÉA MICHAEL)


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