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ANÁLISE
General ecoa pensamento militar
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
OS DESABAFOS recentes
do general Augusto Heleno Ribeiro Pereira sobre o que considera a péssima
política indigenista do governo
federal na Amazônia não são
declarações impensadas de
apenas um militar isolado. Ao
contrário, refletem fielmente o
pensamento da maior parte da
oficialidade vinculada à região
-não só do Exército, mas também da Marinha e Força Aérea.
O presidente Lula teria ficado indignado com as críticas de
Heleno. É irônico, pois foi o general quem proporcionou ao
presidente um dos seus momentos mais midiáticos de relações exteriores. Foi sob o comando de Heleno da força de
paz da ONU no Haiti que foi ali
realizado em 2004 um jogo de
futebol entre as seleções dos
dois países, com a presença do
presidente que adora metáforas futebolísticas populistas.
Foi um verdadeiro milagre
de organização fazer um jogo
com estrelas mundiais do futebol, num país em conflito, num
estádio que faria o campo do
Juventus parecer o Maracanã.
O fato de Heleno ser hoje o
comandante do Exército na
Amazônia é prova de seu alto
cacife na Força Terrestre. Não
existe comando regional mais
"peruado", isto é, "cobiçado",
como dizem os militares.
E antes disso ele foi o primeiro comandante da missão no
Haiti, considerada de extrema
importância pelo Exército. Heleno foi adido militar na França, fala francês impecável e "se
vira em inglês", em uma Força
em que monoglotas são maioria. A experiência diplomática
também o ajudou a se guiar no
pântano da política haitiana.
Na América Latina, onde a
ameaça de guerra com vizinhos
é pequena, sobram conflitos
"assimétricos": guerrilhas, terrorismo, ocupações ilegais.
É por isso que a Força Aérea
ajudou a Embraer a desenvolver o A-29 Super Tucano, o primeiro (e único) avião de combate criado especificamente
para a região amazônica, e para
ações Coin (sigla em inglês para
"contra insurgência"). A recente morte do líder guerrilheiro
colombiano Raúl Reyes foi obra
desse versátil avião.
Já a Marinha mantém presença constante na região através de navios de patrulha fluvial de projeto único no mundo,
além de destacamentos de sua
tropa de elite, o Corpo de Fuzileiros Navais. É curioso lembrar que, para mostrar a importância de defender o mar territorial brasileiro e sua zona econômica, a Marinha chama o
oceano de "Amazônia Azul".
A Amazônia é a região do
Brasil onde o Estado se faz menos presente, onde existem
conflitos sérios em países vizinhos -como a narcoguerrilha
da Colômbia-, para não falar
de polêmicos líderes "hermanos" como Hugo Chávez.
É justamente com a Venezuela "bolivariana" que o Estado de Roraima dos atuais distúrbios indígenas faz fronteira.
Uma das populações indígenas nessa fronteira dá uma pista do "pensamento" acadêmico
existente, que vai dos 8 aos 80.
Os ianomâmis foram considerados, pelo antropólogo americano Napoleon Chagnon, como
"o povo feroz", maníacos por
guerra para obter fêmeas e matar rivais. Já antropólogos brasileiros, estribados na velha
idéia rousseauniana do "bom
selvagem", sempre foram ferozes críticos da tese.
Além da criação de reservas,
não existem ainda soluções
pensadas para de fato integrar
os índios ao resto do país que
não da maneira atual -pela
prostituição e pelo alcoolismo.
Anos atrás, um dos mais respeitados cientistas brasileiros,
Isaías Raw, que fez carreira no
Instituto Butantan, de São Paulo, criticou em artigo nesta Folha que as reservas eram uma
espécie de zoológico de índios,
uma reserva de mercado onde
os antropólogos poderiam fazer suas pesquisas. Foi, claro,
muito criticado. O debate não
avançou nada desde então.
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