São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2004

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ELEIÇÕES 2004

Presidente segue exemplo de FHC para não melindrar partidos aliados

Lula opta por palanque duplo e irá a programa de rivais do PT

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que vai gravar mensagens para todos os candidatos a prefeito do PT e de partidos aliados que pedirem o seu apoio nas eleições municipais de outubro.
Em 98, o então presidente Fernando Henrique Cardoso adotou atitude semelhante para não melindrar seus aliados. Acabou, por exemplo, aparecendo em outdoors tanto de Mário Covas (PSDB) como de Paulo Maluf (então no PPB), que disputavam o governo paulista. Lula, no entanto, pretende ser mais comedido no tom de suas aparições nas campanhas dos partidos aliados.
O presidente do PT, José Genoino, diz que o partido não imporá "vetos" à participação de Lula na campanha de aliados do governo federal, ainda que sejam adversários do PT nas eleições. "Não poderemos vetar pedido de nenhum aliado. O presidente é mais amplo que o PT e vai decidir com o equilíbrio que sempre teve", diz.
Com gravações para programas de rádio e TV no horário eleitoral, Lula pretende evitar participar de comícios e atos de campanha, até mesmo nos de Marta Suplicy, prefeita de São Paulo candidata à reeleição. Já os ministros estarão liberados, avisou o presidente.
Optando pelo "palanque eletrônico", cujas mensagens serão gravadas pelo marqueteiro Duda Mendonça, Lula quer evitar acusações de interferência direta em campanhas, uso da máquina e até eventuais protestos. Segundo auxiliares, sua imagem fica mais preservada, e o efeito político via TV é até mais eficaz.
A Folha apurou que o próprio Lula avalia que é desnecessária a sua presença num comício para marcar o seu apoio a um petista.
"As imagens do Lula e do PT estão umbilicalmente ligadas. Um candidato do PT é relacionado na hora ao governo do presidente Lula", afirma Genoino. Segundo ele, todos os candidatos do PT vão defender o governo "com muita garra", por uma razão. "Se não fizerem [isso], vão perder."

Ministros no palanque
Os ministros, do PT e de outros partidos, estarão liberados para fazer campanha para seus candidatos, segundo determinação do presidente. Genoino diz que firmará "um acordo de cavalheiros" entre ministros para evitar que rusgas municipais atrapalhem as relações federais.
Exemplo: em Recife (PE), o ministro petista Humberto Costa (Saúde) apóia o atual prefeito e candidato à reeleição, o correligionário João Paulo. Já o ministro Walfrido Mares Guia (Turismo, do PTB) dá suporte ao seu colega de partido, o deputado federal Joaquim Francisco.
Genoino lembra que há outros casos assim. O Rio Grande do Sul, que tem quatro ministros petistas e dois peemedebistas na gestão Lula, é um exemplo típico. O PT e o PMDB de lá são adversários mortais. Daí Genoino costurar um acordo de convivência.

Cartilha
O governo federal está reunindo números que considera positivos sobre a economia para confeccionar uma cartilha para todos os candidatos a prefeito e a vereador do PT em todo o país. A idéia é reunir dados sobre a administração Lula que poderão ser usados pelos candidatos nos debates com a oposição. O PT avalia que enfrentará uma forte oposição, especialmente do PSDB e PFL.
"O PT vai para a ofensiva no debate nacional", diz Genoino. O presidente do PT afirma, porém, que será preciso que o partido faça a "dosagem" dos temas nacionais e municipais. Para ele, os temas decisivos para eleger candidatos serão os municipais.


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