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FOGO AMIGO
Documento do partido pede reedição do New Deal, com redução dos juros e do superávit, e controle de capitais
PL diz que presidente do BC "sabota" o país
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em um documento de quatro
páginas elaborado com a ajuda do
vice-presidente José Alencar, o PL
aumentou ontem o tom das críticas ao governo federal. Dizendo
que o país atravessa a maior crise
social de sua história, o documento cobra mudanças imediatas na
economia brasileira, tais como o
controle sobre o capital especulativo, o aumento dos gastos estatais e a redução da taxa de juros e
do superávit primário.
Elaborado pelo vice, figura de
maior destaque do PL, e pelo deputado Valdemar Costa Neto
(SP), presidente da legenda, o texto sustenta que haverá "sabotagem" contra essas mudanças. Em
entrevista, Costa Neto disse que a
referência é ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, "o
maior sabotador da economia do
país", segundo ele.
"O Meirelles, ao manter as altas
taxas de juros, intencionalmente
sabota o país. O Meirelles é o
maior sabotador da economia do
país", disse o deputado, que evitou estender abertamente a crítica
ao ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda). Ele já chegou a pedir a
demissão de Palocci, mas acabou
recuando depois.
As quatro laudas do documento, intitulado "Desenvolvimento e
Compromisso Social", foram entregues ontem a Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O texto foi montado em cima do
discurso que Alencar fez na abertura do seminário que o PL realizou no último dia 10 para debater
políticas de desenvolvimento. O
conteúdo, no entanto, vai além da
já crítica análise que o vice-presidente fez na ocasião.
Pior crise social da história
"O Brasil atravessa a mais grave
crise social de sua história, determinada por taxas sem precedentes de desemprego, de subemprego e de marginalização social. Isso
[...] se reflete em níveis intoleráveis de criminalidade e de insegurança dos cidadãos", afirma o início do documento, acrescentando
que a crise "é uma conseqüência
direta da política econômica adotada desde o início do governo
passado e aprofundada no atual
governo".
Alencar havia dito em seu discurso que o país passava por sua
pior crise social e que isso poderia
descambar em crise política, avaliação também presente no texto
divulgado ontem.
A saída proposta pelos liberais é
cortar a taxa de juros (o Banco
Central divulga hoje se altera ou
não o atual índice, de 16% ao
ano), reduzir pela metade o superávit primário (economia para
pagamento de juros), hoje em
4,25% do PIB (Produto Interno
Bruto, a soma das riquezas produzidas no país por ano), e aumentar o investimento estatal nas
áreas social e de infra-estrutura.
New Deal
"Diante do alto desemprego e
da queda da renda do trabalho, é
fundamental, pois, que se recorra
a uma política de pleno emprego,
nos moldes das praticadas ao longo de quatro décadas, durante o
New Deal e no pós-guerra, pelos
países industrializados avançados", diz a nota.
A alusão ao New Deal norte-americano vez ou outra aparece
no discurso do PT. O Fome Zero,
primeiro grande programa do governo Lula, foi inspirado pelo
Food Stamp, distribuição de vales
que poderiam ser trocados por
comida nos Estados Unidos da
década de 30.
Criado por Franklin Roosevelt,
o New Deal (1933-1939) consistia
em uma intervenção em massa do
Estado na economia. Foram criadas frentes de trabalho, o sistema
que hoje conhecemos como seguro-desemprego, regras de limitação à atuação das instituições financeiras e fiscalização do mercado de ações, tudo combinado
com um grande programa de
obras e gasto público recorde.
"O dispêndio público é fundamental para a mobilização da capacidade produtiva. [....] Basta
[para financiar o gasto] a redução
do superávit primário, que se situa em cerca de R$ 70 bilhões
anuais", diz o texto do PL.
Fuga de capitais
O documento dos liberais avalia
ainda que essas mudanças econômicas poderiam resultar em fuga
de capitais. "Para que isso [a redução de juros e o aumento do gasto
estatal] fosse feito sem fuga de capitais, seria necessário adotar o
controle de capitais de curto prazo", diz o texto.
Apesar de pregar em seu discurso o aumento dos gastos estatais
no país, o vice Alencar não tinha
feito, na ocasião, referência ao
controle do capital especulativo.
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