São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

"Sabe Deus"

A obsessão de secretários, delegado-geral e comandante-geral com a cobertura da crise de segurança em São Paulo foi ao limite, ontem.
Ao vivo no "SPTV", o secretário de Segurança se enrolou para responder se a situação está "sob controle"; depois qualificou a crise como "fato isolado"; questionou o "tom" do âncora; discutiu no ar e protestou que deu entrevista antes, sim, sobre o assunto:
- Até agora a Globo não colocou no ar. Deve estar em algum arquivo de vocês.
Saulo de Castro Abreu Filho encerrou falando diretamente para a câmera, sem passar pelo entrevistador.
 
De modo semelhante ao que marcou as críticas ao canal Al Jazira pós-11 de setembro, são as os supostos líderes que mais causam reação.
Foi manchete na Folha Online, "Polícia apura reportagens com supostos líderes do PCC", no Globo Online, "Entrevista exibida por TV abre polêmica sobre presídio de segurança máxima", e nos portais.
O UOL exibiu o vídeo com a entrevista do suposto "Marcola" à Band. Já o Globo Online tirou a íntegra que havia divulgado no site e justificou:
- A Secretaria de Administração Penitenciária afirma que a entrevista é falsa. Diante disso, o Globo Online decidiu retirar o conteúdo enquanto aguarda manifestação da Band.
Antes da nota da secretaria, porém, o governador declarou à Folha Online:
- Segundo o secretário [de Administração Penitenciária], a entrevista é irreal.
Pior fez o diretor do Deic, falando à rádio CBN:
- Nós ficamos surpresos, mas, sabe Deus, tudo vem acontecendo...
 
Além do suposto "Marcola" na Band, também a entrevista da Record com o suposto "Macarrão", um dia antes, foi dada como "falsa".
Nos dois casos, segundo a Folha Online, a polícia vê "apologia ao crime".
Falsa ou não, a entrevista com "Macarrão" foi parar no "Financial Times", como indício de que o poder público está em dissolução em São Paulo:
- Houve duas coisas notáveis na entrevista. Primeiro, Macarrão estava falando por celular de dentro da prisão. Segundo, parecia confirmar o que muitos temiam: os ataques acabaram porque o PCC mandou, depois de chegar a acordo com as autoridades estaduais.


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Sem lei
"A máfia enfrenta o Estado" é o título da reportagem da "Economist" sobre a crise em São Paulo, entre as várias sobre a América Latina.
Avalia que os líderes do PCC "lançam uma súbita dúvida sobre São Paulo, o motor da economia brasileira, se é regido pela lei ou pela máfia".

Nem rei
Em mais um dia de extensa cobertura do assunto no exterior, o "Financial Times", sob o título "De dentro da prisão, líderes de gangue tomam o Estado como prisioneiro", passou a falar em "crise de governabilidade".

JOGANDO FORA
Reprodução

A capa da "Economist" foi para um tema aparentemente de dias, semanas atrás.
Com a manchete "A Batalha pela alma da América Latina", título de seu principal editorial, ela começa dizendo que "um espectro se ergueu -o de um nacionalismo esquerdista antiamericano" por toda a região:
- Mas retratar o que está acontecendo nas Américas como uma batalha entre os EUA e seus vizinhos latinos é um erro. A batalha está sendo travada dentro da América Latina, sobre o seu futuro.
É aquela divisão, com "um campo formado por social-democratas moderados, como Chile, Uruguai e Brasil", enquanto "no outro campo estão populistas autoritários, liderados por Hugo Chávez".
 
Para a "Economist", "a restauração da democracia na América Latina custou muito sangue para a realização ser negligentemente jogada fora". Entre "vários sinais" de que "nem tudo vai bem" nas instituições regionais, no entender do editorial:
- As máfias do crime, criadas pela demanda externa, continuam agindo livremente. Mais de cem pessoas morreram na luta entre uma dessas máfias e o Estado em São Paulo, a mais moderna metrópole da região.
 
Para a revista, o que está em questão é "o esforço da América Latina para fazer a democracia funcionar", no sentido de "tornar sociedades desiguais mais justas e mais prósperas", com "implicações por todo o mundo em desenvolvimento".
A "Economist" diz que Chile, Brasil e outros começam a registrar "reduções sustentadas da pobreza -e até da desigualdade- em parte pelos programas sociais mais efetivos". Mas no Brasil ela destaca, com reportagem à parte, o empecilho dos juros cobrados pelos bancos dos usuários. Chega a se perguntar:
- Os bancos estão em conluio?

@ - nelsondesa@folhasp.com.br


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