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ELEIÇÕES 2006
Suspeita é que R$ 300 milhões já tenham sido desviados desde que mulher de Garotinho assumiu o governo do Rio, em 2003
Tribunal inspecionará fundo ligado a Rosinha
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O fundo de pensão Prece se recusou a fornecer documentos sobre suas movimentações financeiras ao TCE (Tribunal de Contas do Estado) do Rio. Com base
na negativa e na advertência do
BC (Banco Central) sobre a suspeita de desvio de dinheiro do
fundo para uso político no governo Rosinha Matheus (PMDB), o
tribunal decidiu realizar uma inspeção extraordinária no Prece.
Além da inspeção extra, a falta
da documentação fez o TCE recorrer à Justiça contra o fundo. O
tribunal já tem indícios de que pelo menos R$ 300 milhões podem
ter sido desviados desde que Rosinha assumiu o governo, em janeiro de 2003.
O Prece é o fundo dos servidores da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgoto), empresa
de saneamento do governo do Estado. O TCE decidiu também pedir à governadora o afastamento
da direção do Prece. Ao Ministério Público pediu que inicie uma
ação criminal contra o fundo.
O Prece uniu petistas e aliados
do pré-candidato do PMDB à Presidência Anthony Garotinho na
CPI dos Correios. A inusitada
aliança resultou na derrubada de
proposta da quebra dos sigilos do
fundo.
Casado com a governadora, Garotinho designou políticos de sua
confiança, como os deputados federais Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Carlos Willian (PTC-MG),
para, nos bastidores da CPI, agirem pela não-aprovação da abertura das contas do Prece.
Na segunda passada, o TCE enviou ao Prece ofício em que requeria informações detalhadas
sobre suas finanças. Pedia os valores e as datas das operações de
compras e vendas de títulos.
O tribunal exigia ainda a relação
de todos os investimentos realizados pelo Prece nos últimos dois
anos, com explicações sobre o tipo e o prazo de aplicação e a composição da carteira. Esses dados
dariam aos conselheiros e ao corpo técnico do tribunal condições
para avaliar se as operações foram
prejudiciais ao fundo e às finanças
do Estado.
O tribunal deu ao fundo de pensão 72 horas para apresentar as
respostas. Como elas, não chegaram, o presidente do órgão, José
Graciosa, acionou a procuradoria
jurídica do TCE para requerer judicialmente a documentação.
Irregularidades
Em ofício ao tribunal, o Banco
Central informa ter encontrado,
durante fiscalização na distribuidora de títulos e valores Laeta S/A,
"indícios de irregularidades" em
operações ocorridas com o Prece
no mercado secundário de títulos
federais.
A apuração do BC se dá em "caráter sigiloso", diz o ofício remetido ao TCE. Com base nas informações repassadas pelo BC, o tribunal abriu a inspeção extraordinária, a cargo do conselheiro Júlio
Rabello.
A Cedae também foi intimada a
enviar documentação, que chegou após o prazo oficial determinado pelo tribunal. Assim, Graciosa desistiu da idéia de, pelo
menos por enquanto, ir à Justiça
também contra a companhia.
À Cedae o TCE pediu as prestações de contas do Prece relativas
aos últimos dois anos e as atas de
reuniões da diretoria executiva e
dos conselhos deliberativo e fiscal
no período.
Conforme a investigação do BC,
o Prece, em operações com a corretora Laeta, infringiu a Lei Complementar 109/2001 e a Lei Complementar Estadual 63/1990.
O fundo não teria aplicado recursos correspondentes às reservas, conforme estabelece o Conselho Monetário Nacional. Além
disso, o Prece não teria zelado
"pela promoção de elevados padrões éticos" nas "aplicações dos
recursos dos planos de benefício
da entidade".
A Laeta já sofreu investigação
da CPI dos Correios e pela CVM
(Comissão de Valores Mobiliários). A corretora é suspeita de ter
praticado crimes como lavagem
de dinheiro e manipulação de
mercado.
Procurada pela Folha, a direção
do Prece não se manifestou.
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