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Construtora fez até o edital de obra que ganhou, diz PF
Investigação mostra padrão de fraudes conduzidas pela Gautama com dinheiro público
Esquema revelado pela operação pagava propina para conduzir construções inexistentes, inacabadas
ou superfaturadas
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As investigações da Operação
Navalha revelam um padrão na
suposta ação fraudulenta da
construtora Gautama: o suborno de políticos e funcionários
públicos para obter obras e receber verbas do Estado por serviços ora inexistentes ora inacabados ora superfaturados.
Em ao menos um caso, a empreiteira elaborou o edital da licitação que ela mesma venceria. Via de regra, a propina era
paga em dinheiro vivo, mas servidores também teriam aceitado se corromper em troca de
passeios de lancha e ingresso
para camarote no Carnaval.
Quarenta e nove integrantes
do governo federal, de governos estaduais, de prefeituras e
da construtora são suspeitos de
participar do esquema.
Segundo o resumo das investigações da Polícia Federal feito
pela ministra do STJ (Superior
Tribunal de Justiça) Eliana
Calmon, a Gautama, do empresário Zuleido Soares Veras,
fraudava documentação e subornava técnicos e políticos como forma de escamotear irregularidades nas obras.
Um exemplo aconteceu, de
acordo com a PF, na instalação
de eletrificação rural (programa Luz para Todos) para
15.850 famílias da zona rural do
Piauí, em meados de 2006.
Mediante o pagamento de
propina a agentes públicos do
Estado, a Gautama teria elaborado o edital de licitação que,
no final, a beneficiaria como a
vencedora da concorrência.
Os grampos telefônicos da
PF revelariam que um engenheiro da empresa enviou o
aviso da licitação para que o então presidente da Companhia
Energética do Piauí, Jorge Targa Juni -preso na Operação
Navalha-, publicasse o edital.
Zuleido teria se encontrado
em Brasília com o diretor do
programa Luz para Todos, do
Ministério de Minas e Energia,
José Ribamar Lobato Santana,
"para obter o repasse de recursos do ministério para a Eletrobrás, que os repassaria, através
de convênio, para a Companhia
Energética do Piauí e, daí, para
a Gautama, através de contratos firmados mediante fraude
no processo de licitação".
O relato da investigação, feito
pela ministra do STJ, não deixa
claro qual seria a suposta participação do diretor do Luz para
Todos, afirmando que "a organização teria pago vantagem
indevida a autoridades do Ministério de Minas e Energia".
Santana não foi preso. Segundo
a assessoria, o ministério não
foi informado sobre o envolvimento de Santana ou outros
funcionários nas investigações.
Pontes
Outro caso de suposta fraude
detectada nos grampos da PF
diz respeito ao Maranhão, onde
a quadrilha teria recebido pagamentos pela construção de
pontes que, concluiu a investigação, são hoje "elevações perdidas no meio dos campos, em
locais ermos", em suma, "obras
abandonadas". Devido aos pagamentos irregulares, o então
governador do Estado, José
Reinaldo Tavares, teria sido
presenteado com um Citröen
C5 no valor de R$ 110 mil.
Em Camaçari (BA), a empresa de Zuleido Veras atuou em
2006 em obras de urbanização
em troca de R$ 9,8 milhões.
"Tanto o plano de trabalho como o projeto básico foram elaborados sem observância das
exigências técnicas para obras
daquela natureza e sem a mínima preocupação com a qualidade da obra que seria executada", registra a ministra do STJ.
A propina, diz a PF, foi paga
ao prefeito, Luiz Carlos Caetano, e a servidores e se resumiu a
passeios de lancha, passagens
aéreas, hospedagem e ingresso
para o camarote da Gautama
no Carnaval de Salvador.
Também em 2006, João Alves Neto, filho do então governador de Sergipe, João Alves,
teria recebido propina para influenciar na liberação de verbas
para a duplicação do sistema de
adutoras do rio São Francisco.
A construtora fez pelo menos
duas obras para o Ministério da
Justiça -a construção da sede
da superintendência da PF em
São Paulo e a reforma do Instituto Nacional de Criminalística
em Brasília. Não há menção a
fraudes nessas obras.
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