São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

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NORDESTE
Em 15 minutos, grupo ligado ao MST levou 800 kg de alimentos
200 sem-terra saqueiam mercado do governo na BA

LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador

Em apenas 15 minutos, cerca de 200 agricultores ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) fizeram ontem o primeiro saque do ano em um estabelecimento comercial da Bahia.
Às 8h30, os sem-terra invadiram a loja da "Cesta do Povo", que é administrada pelo governo estadual, em Curaçá (593 km de Salvador), e saquearam cerca de 800 quilos de alimentos. Não houve resistência. A loja tinha apenas um policial de plantão ao ser invadida.
"Os saqueadores levaram feijão, arroz, macarrão, óleo, café e farinha", disse o delegado Genes Batista. Segundo ele, os agricultores alugaram oito barcos para transportar os alimentos.
"Eles aproveitaram a grande movimentação de hoje (ontem) na cidade para invadir a loja e efetuar o saque." Ontem, foi dia de feira livre em Curaçá. Segundo o delegado, os sem-terra são invasores de fazendas em Juazeiro (BA) e Santa Maria da Boa Vista (PE).
No início da tarde de ontem, a Polícia Militar prendeu seis sem-terra acusados de participação no saque. Foram autuados em flagrante Maria de Fátima dos Santos, Oswaldino Rodrigues de Souza, Reinaldo da Silva Teófilo, Amauri Eliotério de Macedo e José Sebastião da Silva.
Os seis estavam em um barco. "Eles já estavam atravessando o rio São Francisco para chegar até Santa Maria da Boa Vista", disse o capitão Anselmo Bispo. Até ontem à tarde, eles continuavam presos na delegacia de Curaçá.
Em seu depoimento à polícia, Reinaldo da Silva Teófilo disse que os sem-terra haviam solicitado 300 cestas básicas ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). "A promessa não foi cumprida, e nós resolvemos saquear a loja", afirmou.
Revoltados com a prisão, cerca de cem pessoas invadiram o distrito policial de Itamotinga, no município de Juazeiro, e quebraram geladeira, fogão, mesas e vidros.
A invasão ocorreu porque os sem-terra tinham a informação que os presos teriam sido transferidos para a cidade. O distrito tinha apenas quatro policiais e ninguém foi preso.
O delegado Batista admitiu a possibilidade de os sem-terra presos serem transferidos para Juazeiro. "Aqui (em Curaçá) não existe nenhuma segurança para que eles continuem presos."
O líder do MST na Bahia, Valmir Assunção, disse ontem que os integrantes do movimento estão preparando novos saques no Estado. "A fome que toma conta dos trabalhadores é a maior motivação para os saques."
Na semana passada, três escolas localizadas na periferia de Feira de Santana (108 km de Salvador) também foram saqueadas por trabalhadores rurais, que levaram cerca de 500 quilos de alimentos destinados à merenda escolar. Até ontem, ninguém foi preso.



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