|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NORDESTE
Em 15 minutos, grupo ligado ao MST levou 800 kg de alimentos
200 sem-terra saqueiam
mercado do governo na BA
LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador
Em apenas 15
minutos, cerca
de 200 agricultores ligados ao
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) fizeram ontem o
primeiro saque do ano em um estabelecimento comercial da Bahia.
Às 8h30, os sem-terra invadiram
a loja da "Cesta do Povo", que é
administrada pelo governo estadual, em Curaçá (593 km de Salvador), e saquearam cerca de 800
quilos de alimentos. Não houve
resistência. A loja tinha apenas um
policial de plantão ao ser invadida.
"Os saqueadores levaram feijão, arroz, macarrão, óleo, café e
farinha", disse o delegado Genes
Batista. Segundo ele, os agricultores alugaram oito barcos para
transportar os alimentos.
"Eles aproveitaram a grande
movimentação de hoje (ontem) na
cidade para invadir a loja e efetuar
o saque." Ontem, foi dia de feira
livre em Curaçá. Segundo o delegado, os sem-terra são invasores
de fazendas em Juazeiro (BA) e
Santa Maria da Boa Vista (PE).
No início da tarde de ontem, a
Polícia Militar prendeu seis
sem-terra acusados de participação no saque. Foram autuados em
flagrante Maria de Fátima dos
Santos, Oswaldino Rodrigues de
Souza, Reinaldo da Silva Teófilo,
Amauri Eliotério de Macedo e José
Sebastião da Silva.
Os seis estavam em um barco.
"Eles já estavam atravessando o
rio São Francisco para chegar até
Santa Maria da Boa Vista", disse o
capitão Anselmo Bispo. Até ontem
à tarde, eles continuavam presos
na delegacia de Curaçá.
Em seu depoimento à polícia,
Reinaldo da Silva Teófilo disse que
os sem-terra haviam solicitado
300 cestas básicas ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária). "A promessa
não foi cumprida, e nós resolvemos saquear a loja", afirmou.
Revoltados com a prisão, cerca
de cem pessoas invadiram o distrito policial de Itamotinga, no município de Juazeiro, e quebraram
geladeira, fogão, mesas e vidros.
A invasão ocorreu porque os
sem-terra tinham a informação
que os presos teriam sido transferidos para a cidade. O distrito tinha apenas quatro policiais e ninguém foi preso.
O delegado Batista admitiu a
possibilidade de os sem-terra presos serem transferidos para Juazeiro. "Aqui (em Curaçá) não
existe nenhuma segurança para
que eles continuem presos."
O líder do MST na Bahia, Valmir
Assunção, disse ontem que os integrantes do movimento estão
preparando novos saques no Estado. "A fome que toma conta dos
trabalhadores é a maior motivação
para os saques."
Na semana passada, três escolas
localizadas na periferia de Feira de
Santana (108 km de Salvador)
também foram saqueadas por trabalhadores rurais, que levaram
cerca de 500 quilos de alimentos
destinados à merenda escolar. Até
ontem, ninguém foi preso.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|