São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

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CELSO PINTO
O piso para os juros

Quando se reunir amanhã para decidir o que fazer com as taxas de juros, o Copom, comitê do Banco Central, terá pouca margem de manobra. O piso dos juros, abaixo do qual corre-se o risco de perder dólares, é algo em torno de 21%.
O piso é o que um trabalho do banco Fleming Graphus chama de "taxa de paridade". Desde antes da crise asiática, o Brasil sempre manteve os juros acima dessa taxa. Exceto num curto período, em outubro, quando o país perdeu US$ 10 bilhões.
O trabalho, assinado pelos economistas José Júlio Senna e André Carvalho, está no primeiro número do "The Macro Navigator", uma nova publicação que analisará, mensalmente, a economia brasileira. A intenção é destacar um tema relevante e fazer uma avaliação do risco do país.
No primeiro número, a ênfase está na falta de um ajuste fiscal adequado. O estudo diz que os efeitos do pacote fiscal de novembro serão menores do que se esperava e que, sem uma correção no lado fiscal, "os indicadores da saúde da economia brasileira continuarão a se deteriorar".
O risco maior, diz o estudo, "é uma possível reversão das expectativas, particularmente na área cambial", o que poderia trazer problemas no financiamento externo. Ao contar apenas com a política monetária (juros altos) para controlar a economia, o Brasil arrisca-se "a ter um problema de credibilidade maior no futuro se enfrentar outra crise na qual o mercado exija medidas ainda mais duras e efetivas (do que as tomadas no ano passado)".
Ter um piso alto para as taxas de juros não é fruto apenas da crise asiática. Em setembro, antes da crise, a "taxa de paridade" era de 20,18%, não muito distante da atual.
Existem diferentes maneiras de medir esse piso. O trabalho usa a remuneração de um título da dívida brasileira no mercado internacional, o IDU, como base da remuneração. Ele embute um prêmio acima dos juros americanos, que reflete o "risco Brasil". O prêmio era de 1,67 ponto percentual em setembro, chegou a 6,83 pontos em outubro e hoje voltou a cerca de 3 pontos.
Além desse prêmio, a "taxa de paridade" considera a expectativa de desvalorização (7,5% ao ano), mais um prêmio. Esse prêmio, refletido no mercado futuro, era de 4,1% em setembro do ano passado, chegou a 13,8% em novembro e, dia 13 de abril, estava em 3,8%.
O trabalho não inclui o imposto nesse piso, embora reconheça que seu custo médio é de, no mínimo, 10%. O que elevaria ainda mais o piso teórico dos juros.
Mesmo considerando que o Brasil recuperou de forma significativa as condições de antes da crise, não há como reduzir os juros muito abaixo de 21% sem afetar o fluxo de dólares. A menos que o governo resolva desacelerar o reajuste cambial, o que também traria riscos de credibilidade.
O trabalho examina, ainda, duas outras potenciais vulnerabilidades: as dívidas interna e externa. No caso da dívida interna, embora 67% do total vença em menos de seis meses (e 75% em menos de um ano), não deve haver grandes problemas na rolagem.
Na área externa, o cálculo é que o Brasil terá de rolar neste ano US$ 60,9 bilhões. Comparado ao nível de US$ 73,8 bilhões de reservas em abril, não assusta. Na Coréia, a dívida de curto prazo era três vezes o valor das reservas antes da crise e na Indonésia e Tailândia, duas vezes.
As reservas são altas, mas, comparadas ao déficit em conta corrente, já foram mais expressivas. Com o nível recorde de reservas em abril, a relação chegou a 2,3, mesmo nível do início de 97. Em 96, a relação chegou a mais de 4.

Preocupação paulista
O governo do Estado de São Paulo está preocupado em não repetir o fracasso da venda de uma das distribuidoras da Eletropaulo (a Bandeirantes). Por essa razão, está conversando, discretamente, com bancos internacionais para sondar a disposição do mercado para as privatizações do setor elétrico.
Alguns bancos estão céticos. O governo não quer reduzir o preço da Bandeirantes, porque seria um suicídio político. Nesse caso, alguns bancos acham que o leilão pode fracassar outra vez. Uma solução pode ser manter o preço, mas permitir o pagamento a prazo. O preço fica o mesmo nas manchetes dos jornais, mas menor no bolso do comprador.




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