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JANIO DE FREITAS
Interesses em jogo
Se acontecesse, a ida de um
político ao palácio habitado
por um adversário para pedir-lhe apoio eleitoral, e logo
contra um correligionário do
palaciano, seria mais do que
um fato sem precedentes no
Brasil ou em qualquer país:
seria também outro caso
exemplar para os estudos sobre a relação nada incomum
entre política e doença mental.
A versão planaltina para a
ida de Paulo Maluf ao Alvorada pressupõe o fim de uma
característica fundamental
na prática política, que é o
desenrolar sempre dissimulado das articulações, e a inauguração da política ostensiva
e franca, que é incompatível
com a mentalidade e o caráter
do político profissional.
Entre Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso
existem, e não de hoje, muito
mais diferenças afastadoras
do que identificações, sejam
políticas ou pessoais. Exemplo
culminante da distância entre
eles foi, na eleição presidencial de 90, a ostensiva ausência de Fernando Henrique na
campanha de Mário Covas.
Não era omissão individual, é
verdade, mas Fernando Henrique a iniciou e a ele foi atribuído o incentivo insidioso de
omissões que resultaram,
quando Covas mais precisava
de apoio para a possível ascensão, no boicote explícito
dos peessedebistas ao candidato do próprio partido.
Uma análise feita no grupo
de Fernando Henrique, há
poucos meses, sobre o seu tema obsessivo que é a reeleição, situou Mário Covas como
um possível problema para o
plano reeleitoral e talvez até o
principal. A hipótese considerou a combinação, por um lado, do êxito de Covas no governo de São Paulo e, por outro, da afinidade maior entre
o hoje frustrado PSDB e Covas, do que entre o partido e o
Fernando Henrique revelado
na Presidência. A propósito,
um conselheiro do Tribunal
de Contas fluminense, coletando dados no governo federal para fundamentar pareceres seus, assombrou-se com as
evidências do êxito administrativo de Covas, não entendendo o silêncio que o governador guarda a respeito.
Daí a um acordo notório
com Maluf contra Covas vai
um percurso que, até esta altura, as circunstâncias não levariam Fernando Henrique a
percorrer. As mesmas circunstâncias, aliás, que põem os
dois em situações idênticas:
um, precisando que os governistas não insistam em fazê-lo
maior vítima da CPI dos Precatórios, o outro, precisando
que o PPB negue auxílio a
qualquer manobra para instalar a CPI da Reeleição e necessitando, tanto ou mais, que
ninguém libere mais gravações ou outros complicadores.
O caixinha
Agradeço o ataque feito a
mim por Sérgio Motta, ao depor no picadeiro da Comissão
de Constituição e Justiça. É
sempre proveitosa qualquer
palavra que acentue a incompatibilidade entre o especialista em caixinha e os jornalistas por ele atacados -além
de mim, Fernando Rodrigues,
Carlos Heitor Cony e Josias de
Souza.
A relação me leva a um protesto, porém. É inadmissível a
ausência de Clóvis Rossi entre
os atacados, por sua retidão e
independência. E se a relação
de Motta não se ocupou só
dos que escrevem diariamente, é também inaceitável, pelo
mesmo motivo, a ausência de
Valdo Cruz, Marta Salomon,
Rui Nogueira e outros a quem
o especialista em caixinha
não conquistou nem intimida.
Mas compreendo a proposta
de Sérgio Motta no sentido de
que o Congresso aprove uma
lei proibindo a gravação de
conversas e a divulgação.
Muitos fazemos seguro-saúde,
seguro de vida, mas Sérgio
Motta é quem sabe de que
seguro ele precisa.
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