São Paulo, quinta, 19 de junho de 1997.



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JANIO DE FREITAS
Interesses em jogo

Se acontecesse, a ida de um político ao palácio habitado por um adversário para pedir-lhe apoio eleitoral, e logo contra um correligionário do palaciano, seria mais do que um fato sem precedentes no Brasil ou em qualquer país: seria também outro caso exemplar para os estudos sobre a relação nada incomum entre política e doença mental.
A versão planaltina para a ida de Paulo Maluf ao Alvorada pressupõe o fim de uma característica fundamental na prática política, que é o desenrolar sempre dissimulado das articulações, e a inauguração da política ostensiva e franca, que é incompatível com a mentalidade e o caráter do político profissional.
Entre Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso existem, e não de hoje, muito mais diferenças afastadoras do que identificações, sejam políticas ou pessoais. Exemplo culminante da distância entre eles foi, na eleição presidencial de 90, a ostensiva ausência de Fernando Henrique na campanha de Mário Covas. Não era omissão individual, é verdade, mas Fernando Henrique a iniciou e a ele foi atribuído o incentivo insidioso de omissões que resultaram, quando Covas mais precisava de apoio para a possível ascensão, no boicote explícito dos peessedebistas ao candidato do próprio partido.
Uma análise feita no grupo de Fernando Henrique, há poucos meses, sobre o seu tema obsessivo que é a reeleição, situou Mário Covas como um possível problema para o plano reeleitoral e talvez até o principal. A hipótese considerou a combinação, por um lado, do êxito de Covas no governo de São Paulo e, por outro, da afinidade maior entre o hoje frustrado PSDB e Covas, do que entre o partido e o Fernando Henrique revelado na Presidência. A propósito, um conselheiro do Tribunal de Contas fluminense, coletando dados no governo federal para fundamentar pareceres seus, assombrou-se com as evidências do êxito administrativo de Covas, não entendendo o silêncio que o governador guarda a respeito.
Daí a um acordo notório com Maluf contra Covas vai um percurso que, até esta altura, as circunstâncias não levariam Fernando Henrique a percorrer. As mesmas circunstâncias, aliás, que põem os dois em situações idênticas: um, precisando que os governistas não insistam em fazê-lo maior vítima da CPI dos Precatórios, o outro, precisando que o PPB negue auxílio a qualquer manobra para instalar a CPI da Reeleição e necessitando, tanto ou mais, que ninguém libere mais gravações ou outros complicadores.
O caixinha
Agradeço o ataque feito a mim por Sérgio Motta, ao depor no picadeiro da Comissão de Constituição e Justiça. É sempre proveitosa qualquer palavra que acentue a incompatibilidade entre o especialista em caixinha e os jornalistas por ele atacados -além de mim, Fernando Rodrigues, Carlos Heitor Cony e Josias de Souza.
A relação me leva a um protesto, porém. É inadmissível a ausência de Clóvis Rossi entre os atacados, por sua retidão e independência. E se a relação de Motta não se ocupou só dos que escrevem diariamente, é também inaceitável, pelo mesmo motivo, a ausência de Valdo Cruz, Marta Salomon, Rui Nogueira e outros a quem o especialista em caixinha não conquistou nem intimida.
Mas compreendo a proposta de Sérgio Motta no sentido de que o Congresso aprove uma lei proibindo a gravação de conversas e a divulgação. Muitos fazemos seguro-saúde, seguro de vida, mas Sérgio Motta é quem sabe de que seguro ele precisa.



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