São Paulo, terça-feira, 19 de junho de 2001

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INVESTIGAÇÃO

Anadyr Mendonça Rodrigues abre processo para apurar acusação contra superintendente da Receita Federal

Corregedora vai investigar cúpula do Fisco

DAVID FRIEDLANDER
ESTELA CAPARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A corregedora-geral da União, Anadyr de Mendonça Rodrigues, abriu processo para investigar caso de corrupção envolvendo a cúpula da Receita Federal em Brasília. Anadyr quer saber se a superintendente da 1ª Região Fiscal da Receita, Nadja Romero, engavetou ou não denúncia contra um de seus principais assessores, que teria tentado corromper um fiscal, segundo a Folha publicou na edição de ontem.
Com a abertura do processo 00190000642-2001/16 na Corregedoria Geral da União, a repartição vai pedir explicações ao secretário da Receita, Everardo Maciel. Até agora, a Receita não teve muita pressa em apurar as denúncias envolvendo a Superintendência da 1ª Região Fiscal.
No dia 8 de dezembro do ano passado, o auditor Nelson Meireles, assessor da superintendente Nadja, foi gravado numa conversa em que teria tentado subornar um fiscal. A intenção de Meireles seria convencer o colega Ayrton Barros a reduzir a multa da Saga, um dos maiores grupos empresariais de Goiás.
Barros gravou a conversa com Meireles e levou o caso a seus superiores. Nadja, superintendente da Receita em Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal, ouviu a fita 11 dias depois do episódio.
A superintendente pediu segredo e disse que levaria o caso pessoalmente a Everardo Maciel, de acordo com o depoimento do fiscal Barros. O caso, no entanto, ficou engavetado durante quatro meses. Só veio à tona em abril deste ano porque Barros resolveu fazer uma representação formal contra o assessor Meireles.
Só depois que a história vazou, foi criada uma comissão de inquérito na Corregedoria da Receita para investigar Meireles. O assessor foi exonerado do cargo. A surpresa é que o autor da denúncia, Ayrton Bastos, também foi afastado do cargo que ocupava. Na semana passada, o então chefe da corregedoria da Receita da 1ª Região Fiscal, Marcus Vinícius Gonçalves, também foi exonerado. Ele tinha havia acusado formalmente Nadja de ter engavetado a denúncia contra Meireles.
Uma comissão de inquérito da Corregedoria da Receita investiga a denúncia contra Meireles.
"Uma denúncia no alto escalão da Receita precisa ser investigada porque pode comprometer a credibilidade do órgão. Principalmente quando se trata da 1ª região, onde são investigada importantes autoridades da República", diz Paulo Gil Holck, presidente da Unafisco, sindicato dos fiscais da Receita. Gil defende a exoneração imediata da Nadja para que "a lisura nas investigações seja preservada". Ontem, a Unafisco emitiu uma nota pedindo a apuração rigorosa do caso.
Em entrevista à Folha, a superintendente da 1ª região admitiu ter ouvido a gravação com a conversa entre Meireles e Barros e que pediu segredo sobre a denúncia: "A gente tinha que monitorar o caso", disse Nadja.
Ela afirmou que não levou o caso adiante porque Barros se recusou a entregar a fita que comprovaria as acusações. Nadja não conta se levou ou não a denúncia ao secretário da Receita, Everardo Maciel. "Não falo sobre isso".
A Folha tenta falar com Everardo Maciel desde quinta-feira passada, deixou cinco recados, mas até agora não foi possível entrar em contato com ele. Meireles, pivô da confusão, diz que a acusação contra ele é "absurda e fantasiosa".


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