São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RUMO ÀS ELEIÇÕES

Mantega defende que índice seja expurgado de alguns aumentos, para medir variação "real" de preços

PT quer mudar sistema de metas da inflação

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O assessor do PT para assuntos econômicos, Guido Mantega, defendeu ontem no Rio a modificação do sistema de metas da inflação existente hoje no país.
Pelo sistema de metas, o Banco Central tem o compromisso formal de manter a taxa oficial de inflação -hoje medida pelo IPCA do IBGE- dentro de certos limites. Mantega propõe que a taxa utilizada pelo BC seja medida pelo núcleo da inflação. Nesse sistema, variações ocasionais, violentas e passageiras de preços são excluídas da medida da inflação: permanece só o seu núcleo.
Mantega defendeu a mudança com o argumento de que seria uma forma de refletir a inflação real da economia. Ele disse que não há uma definição universal dos itens que devem compor o núcleo da inflação e que os EUA, por exemplo, excluem alimento e energia de seu cálculo.
Mantega afirmou que a definição do núcleo da inflação no Brasil deve ser objeto de discussão pública. ""Se vamos retirar os preços administrados e a gasolina, por exemplo, é uma questão que deve ser discutida com a sociedade. Não é assunto para ser decidido internamento pelo PT", disse.
Mantega trocou farpas ontem com o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier, durante um seminário sobre a reversão das expectativas econômicas realizado no auditório do Jockey Club, no Rio de Janeiro.
Bier voltou a cobrar transparência dos candidatos presidenciais em relação à manutenção das metas inflacionárias, ao câmbio e ao cumprimento de contratos firmados pelo atual governo.
O secretário disse que o candidato tucano à Presidência, José Serra, foi o único a se comprometer, até agora, com a manutenção da meta de 3,75% de superávit primário para o ano que vem.
Segundo o secretário, se pairam dúvidas sobre o manejo da política econômica dos candidatos, isso influencia o comportamento dos mercados agora.
Disse que os partidos precisam subscrever posições claras e tranquilizadoras e acusou o PT de ter posições contraditórias. ""Houve uma saudável mudança de posição dentro do PT, mas isso precisa ser traduzido em documentos. Espero, ansiosamente, a divulgação do programa do partido."
Mantega respondeu às críticas afirmando que o governo quer colocar uma ""camisa de força" nos candidatos e obrigá-los a manter uma política de vulnerabilidade. ""Temos compromissos com a estabilidade, com o câmbio flutuante, com metas de inflação e com a geração de superávit comercial. Mas é só o início. Defendemos uma ação forte nas áreas comercial e industrial, que o atual governo não consegue fazer."
Para ele, a meta de inflação de 3,5% para este ano (com possibilidade de variação de dois pontos para cima e para baixo) é apertada e dificulta a redução dos juros. "Se a meta fosse mais realista, de 5% em vez de 3,5%, talvez os juros tivessem baixado nos meses de abril e maio e talvez nós não estivéssemos nesta situação."


Texto Anterior: Serra deve ter 41,8% do tempo no rádio e na TV
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.