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Ciência e Tecnologia foi alvo de sanguessuga
Planam, empresa que comandou fraude na Saúde, intermediou liberação de verba para projeto de inclusão digital itinerante
Deputados usavam ofício padrão feito pela Planan para informar ministério sobre emendas destinadas à aquisição de ônibus
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Planam, empresa que comandou a máfia dos sanguessugas no Ministério da Saúde,
atuou também para a liberação
de recursos no MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia).
O esquema de desvio de verbas públicas dos sanguessugas,
que se tornou conhecido pelas
fraudes na compra de ambulâncias e teria movimentado R$
110 milhões desde 2001, teve
também como alvo em 2005 o
dinheiro destinado à aquisição
de ônibus equipados com computadores para dar aulas de informática em prefeituras do
país, projeto conhecido como
inclusão digital itinerante.
Em meio a um conjunto de
papéis obtidos pela Folha, há
ofícios em nome de 20 deputados destinados ao então ministro da Ciência e Tecnologia,
Eduardo Campos (PSB-PE),
nos quais os parlamentares informam sobre a inclusão no
Orçamento de emendas deles
destinadas a iniciativas no segmento de inclusão de digital.
Em texto padrão, os documentos deixam espaço em
branco para o parlamentar escrever o nome da entidade que
deverá gerir o projeto. Os ofícios fazem parte da contabilidade da Planam. Os arquivos
foram copiados da base de dados da Planam por Maria da
Penha Lino, a ex-servidora do
Ministério da Saúde responsável por agilizar os trâmites burocráticos necessários à liberação do dinheiro para a máfia
dos sanguessugas.
Em depoimento ao Ministério Público e à Polícia Federal,
Maria da Penha, que foi funcionária da Planam até março de
2005, acusou 81 parlamentares
de envolvimento com o esquema. Os documentos obtidos
pela Folha agora trazem quatro nomes que estão na lista
dos sanguessugas e que também aparecem na nova fraude:
os deputados Heleno Silva (PL-SE), João Correia (PMDB-AC),
Júnior Betão (PL-AC) e Osmânio Pereira (PMDB-MG).
Brecha digital
Como foram entregues à reportagem em meio digital, os
ofícios não apresentam as assinaturas dos parlamentares. Porém, os documentos têm data,
foram elaborados em papel
timbrado da Câmara e chegaram ao seu destino.
Com a intermediação da Planam, que é negada pelos deputados ao saberem que sua assinatura não consta dos documentos, metade dos parlamentares teve seus pedidos atendidos. Em 2005, 57% de R$ 9,95
milhões destinados diretamente pelo Ministério da Ciência
Tecnologia à inclusão digital
itinerante foram empenhados
em favor de projetos intermediados pela Planam. Por meio
da Finep (Fundação de Estudos e Projetos), órgão vinculado ao MCT, outros R$ 2,23 milhões foram usados para pagar
projetos apresentados em ofícios feitos pela Planam.
Em maio, quando surgiram
as primeiras pistas de que o esquema dos sanguessugas poderia ter atuado em outros setores, o MCT suspendeu todos os
projetos de inclusão digital.
A Finep detectou "indícios
de fraude na execução dos projetos", conforme nota de esclarecimento divulgada na época.
Auditoria feita pelo órgão concluiu que "estritamente do
ponto de vista processual dos
projetos [...], não há evidências
de normas vigentes".
O projeto de maior valor foi
lastreado por emenda da deputada Edna Macedo (PTB-SP). É
de R$ 1,6 milhão e destina-se a
ônibus de inclusão digital para
cidades de São Paulo. A assessoria da deputada disse que,
por iniciativa de Edna, a emenda foi cancelada.
Um ofício de 3 de maio de
2005, atribuído ao deputado
Júnior Betão (PL-AC), informa
ao ministro Eduardo Campos o
destino de duas emendas voltadas para iniciativas de inclusão
digital: R$ 950 mil para municípios do Acre e R$ 150 mil para a
cidade de Rio Branco (AC).
Apesar de suspender o pagamento depois, o ministério empenhou verbas para a emenda
de valor mais alto.
O deputado Paulo Baltazar
(PSB-RJ) conseguiu a liberação
de pagamento para uma emenda de R$ 1,08 milhão destinada
a municípios do Rio de Janeiro.
Os documentos obtidos pela
Folha incluem ofícios elaborados pela Planam em nome de
dez prefeitos e destinados, entre janeiro e abril de 2005, a
Eunício Oliveira, então ministro das Comunicações. Os ofícios apresentam projetos de inclusão digital, sempre em modelo padrão, por meio dos quais
as prefeituras pedem, cada
uma, R$ 250 mil para comprar
e equipar seus ônibus.
Dos dez projetos intermediados pela Planam, o ministério
empenhou verbas para pagar
três deles, mas em valores inferiores e com destino a telecentros fixos. Sob a gestão do ministro Hélio Costa, Rolante
(RS) recebeu R$ 55 mil. Houve
empenho de verbas para Pancas (ES - R$ 80 mil) e Poconé
(MT - R$ 55 mil).
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