São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 2006

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Toda Mídia

Nelson de Sá

Ronaldo e a Globo

Fim de jogo e o repórter Marcos Uchôa pergunta ao vivo para Robinho, que entrou no lugar de Ronaldo:
- Deu gosto ver o Ronaldo voltar a ser o Ronaldo?
Não, para todos os outros meios, ele não voltou a ser Ronaldo. Mas a afirmação vestida de pergunta fechou a semana em que a Globo, levada por Galvão Bueno, usou todas as armas para ressuscitar o "fenômeno".
Para registro, o portal Globo.com saiu-se com este enunciado logo depois do jogo, "Olha o Fenômeno aí".

Mas começou bem antes.
Enquanto o site do espanhol "Marca" trazia um vídeo com Ronaldo chamando um jornalista de "estúpido", na sexta, Galvão Bueno dizia, ao narrar a goleada da Argentina:
- Ronaldo sair agora não seria justo. Contra a Austrália será outra seleção brasileira.
Anteontem no "JN", o locutor relatou uma "conversa" que travou com Ronaldo:
- Falamos muito sobre a família, a vida, sobre bons e maus momentos. E por falar em maus momentos o Ronaldo não vive um grande momento físico. Ele sabe disso. E é importante ele reconhecer. Mas o importante é que ele me pareceu muito bem.
 
Tem mais. Do locutor, em diferentes trechos da abertura da transmissão, ontem:
- Os jogadores usam "presidente" para reverenciar o Ronaldo. Que seja o dia do Ronaldo... Que você possa voltar a ser o Ronaldo Fenômeno!
Na edição, uma charge de exaltação e o verso "se o Brasil me amar, eu vou melhorar". Também um clipe de Marcelo D2, que ultimamente faz de tudo, com o verso "eu já provei que eu sou Ronaldo".
 
Para contraponto, logo depois da partida, a manchete de Copa no site Folha Online:
- Com o pior ataque em 16 anos, seleção se classifica.
De um comentarista da SporTV, Telmo Zanini, que é da Globo mas não repete tudo o que o narrador sai falando:
- O Ronaldo teve todas as chances, deve ficar na reserva.
Ao que acrescentou o outro comentarista, Paulo Cesar Vasconcelos, "esgotou, Robinho no lugar de Ronaldo".
 
Mas foi José Trajano, da quixotesca ESPN Brasil, quem deu voz ao temor no ar.
Levantou a imagem de que, mantido à força na seleção, Ronaldo vai bater recordes no jogo com o destroçado Japão. Mas o Brasil, este pode pagar pelos recordes no mata-mata.

RONALDO E A NIKE
Saiu no brasileiro Blue Bus e, antes, no Media Guardian, portal de mídia do britânico "The Guardian". Até ontem a Nike estava em dúvida se mostraria, pós-jogo da seleção, para o mundo inteiro, o comercial da série "Joga Bonito" todo dedicado a Ronaldo. O motivo da dúvida, "segundo fontes da indústria", é o "desempenho pobre" do jogador. No comercial, uma arrancada de "The Phenomenon" é apresentada com cenas de sua carreira. Ao fundo, o som do "r", na voz de vários locutores, é editado para lembrar o barulho de um Fórmula 1 acelerando, até chegar ao gol. No que foi possível assistir, o comercial não foi ao ar.

CHACINA...
Xico Sá, no blog Nomínimo:
- Por mais que existam provas de execução de inocentes pela polícia no suposto combate ao PCC, por mais que Saulo de Castro Abreu tenha superado a chacina dos 111 de Luiz Fleury, por mais que sua cabeça tenha sido pedida inclusive por aliados do PFL, o secretário foi mantido.
Para o blogueiro, "o supersecretário era e continua a ser o homem-forte dos dois mandatos de Geraldo Alckmin".

... EM LARGA ESCALA
Richard Lapper, editor de América Latina do "Financial Times", sob o título "Massacre de rotina em São Paulo":
- A cada semana desde a onda de violência, crescem os números dos que foram mortos. As autoridades médicas agora dizem que foram 492. A maior categoria [dos mortos] cobre eventos citados como "resistência a prisão seguida de morte", ou seja, pessoas mortas pela polícia. Isso é massacre em larga escala.


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@ - Nelson de Sá


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