|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Conselho contra a ética
As manobras dos associados a Renan Calheiros estão levando longe demais a desmoralização do Senado
O PROBLEMA principal do caso
Renan Calheiros deixou de
ser a idoneidade de Renan
Calheiros, para ser o que restará de
idoneidade no Senado. Seja qual for
o destino de Renan Calheiros, ao fim
da sua luta contra as defesas que
apresenta e logo se revelam mais indícios incriminadores, será apenas
mais um congressista que se vai ou
que se mantém no Congresso apesar
de tudo. Um e outro encaminhamento estão já incorporados aos hábitos políticos brasileiros. Mas as
manobras dos associados a Renan
Calheiros estão levando longe demais a desmoralização do Senado.
Àquele ponto em que os desgastes
mostram efeitos irreparáveis.
O Senado, conquanto nem de longe passasse por reserva moral, não
teve a sua imagem contaminada pela degringolada da Câmara. Os associados a Renan Calheiros parecem
dispostos, porém, mais do que a tirar
a diferença em relação aos deputados, a levar ao extremo, de uma vez,
a degradação política que já repugna
a opinião pública.
A historiada do gado, da renda, do
amigo-portador de Renan Calheiros
assemelha-se a uma série de desculpas ingênuas, se comparada à desfaçatez com que tantos senadores se
desdobram em manobras ou em conivências para impedir que sejam
confrontadas, de fato, as denúncias e
as defesas no caso. O Conselho de
Ética do Senado, nesse sentido, exibe um nível que não me ocorre tenha havido jamais, antes ou depois
da ditadura -e olha que comecei a
ver as coisas na crise de verdades e
falsidades que mataram Getúlio.
Senadores do PMDB e do PT, com
destaque para Valter Pereira, João
Pedro e Almeida Lima, entregaram-se ontem a transformar o depoimento do advogado de Mônica Veloso em processo contra ele. Nada de
esclarecimento do que estava por
ser clareado. Nem mesmo a simples
exatidão ou inverdade dos fatos divulgados até agora, e de conhecimento de Pedro Calmon Mendes,
interessou aos associados a Renan
Calheiros.
Diante da exibição que o Senado
está proporcionando, inclusive com
ajuda da oposição, uma pergunta
merece se difundir pelo país afora:
por que o empenho, não faz diferença se ativo ou conivente, de tantos
senadores em impedir que sejam verificadas as práticas atribuídas a Renan Calheiros?
O Conselho de Ética do Senado
devia ser submetido a um Conselho
de Ética, senão a um tribunal. E, depois dele, o plenário do Senado. A esta altura até a (escassa) decência
pessoal começa a mostrar-se insuficiente para justificar a presença ali.
Lembrança
Os militares protestam contra a
decisão indenizatória à família de
Carlos Lamarca, por considerá-lo
apenas desertor, ladrão de armas
do Exército e assassino.
Quando lhes convém, os militares argumentam que "a anistia apagou o passado e foi para todos", assim defendendo a impunidade de
oficiais do Exército, da Marinha e
da Aeronáutica praticantes dos crimes de tortura, seqüestro com desaparecimento, ocultação de cadáver, apropriação de bens alheios e
assassinato.
A anistia, seria bom ficar claro,
não foi adotada como presente aos
opositores da ditadura que conseguiram sobreviver. Foi adotada,
quando a ditadura se deu conta de
sua extinção cada vez mais próxima, para proteger os muitos militares praticantes de crimes inscritos
nas leis brasileiras e nas leis internacionais de que o Brasil é signatário, inclusive os tratados que definem o que é vedado à conduta dos
militares honrados.
Texto Anterior: Senado não investiga compradores de gado Próximo Texto: PF aponta contradição nos papéis de Renan Índice
|