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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/PT X PT
Para ex-ministro da Casa Civil, sair da disputa da eleição do PT seria assumir culpa; Berzoini apóia Tarso e Paulo Bernardo defende deputado
Dirceu confronta Tarso para ficar em chapa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu avisou a aliados dentro do
partido que irá para o confronto
com o presidente do PT, Tarso
Genro, para assegurar sua prerrogativa de continuar na chapa que
disputará a eleição interna em 18
de setembro. "Se eu sair agora,
saio como culpado aos olhos da
opinião pública", declarou o deputado, em conversas reservadas.
Ontem, Tarso ganhou o apoio
do secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, para o conflito aberto
que acabou com uma unidade de
mais de dez anos entre os chamados "moderados" do partido. Ao
mesmo tempo, Dirceu foi defendido pelo ministro Paulo Bernardo (Planejamento), que afirmou
que o deputado ainda deve ser
considerado um líder da sigla.
Berzoini sugeriu o afastamento
da chapa de Dirceu e dos outros
envolvidos em denúncias -os
deputados João Paulo Cunha
(SP), João Magno (MG), Josias
Gomes (BA), José Mentor (SP) e
Professor Luizinho (SP).
Anteontem, Tarso pediu a Dirceu que se desligasse da chapa para que se abra caminho para a "refundação" do PT.
De acordo com Berzoini, a saída
não representaria julgamento antecipado. "Ninguém sabe ainda
qual o desfecho das investigações,
mas nesse momento a permanência na chapa gera especulações
políticas que não ajudam."
Ontem, Dirceu conversou com
vários de seus aliados na Executiva Nacional e na bancada federal
para reafirmar a disposição de luta. "Ele está disposto a fincar o pé
e ver até onde vai a valentia de
Tarso", diz um deputado federal
da "turma do Zé", grupo que,
apesar de fragilizado, continua influente dentro do partido.
O ex-ministro sente-se encorajado pela sucessão de derrotas internas de Tarso, como a tentativa
frustrada de levar os citados a
uma Comissão de Ética na sigla.
Aliado de Dirceu, o secretário
de Relações Internacionais do PT,
Paulo Ferreira, diz que a exclusão
do ex-ministro da chapa é uma
atitude injustificada e prematura.
"As coisas mudam a cada 24 horas. As informações que se têm
hoje sobre Dirceu não serão as
mesmas de amanhã, e por isso é
precipitada uma decisão agora."
A dúvida é onde vai parar o impasse. Se Dirceu não sair mesmo,
Tarso vai insistir para reabrir o
prazo para inscrição de chapas, o
que o levaria a formar um agrupamento separado. Ele deve recorrer ao Diretório Nacional para isso, na reunião de 3 de setembro.
Líder
O ministro Paulo Bernardo
(Planejamento) disse ontem que
Dirceu ainda deve ser considerado um líder do PT e que, em meio
às investigações, deve ser tratado
como "inocente". Em entrevista
no Itamaraty, Bernardo também
criticou o trabalho das CPIs.
Questionado sobre o andamento das diligências internas do PT,
Bernardo disse que as instâncias
petistas devem ter cuidado para
evitar o que chamou de "punição
sumária". "Não dá para a gente se
precipitar e exigir punição sumária, sem direito a defesa. O PT tem
regulamento, que prevê a Comissão de Ética, que os acusados tenham direito de se defender. Esse
ritual tem de continuar."
A seguir, Bernardo saiu em defesa de Dirceu. "O ex-ministro José Dirceu é filiado do PT, é uma liderança do partido. Ele está sofrendo acusações gravíssimas,
mas, até que seja comprovada a
culpa, ele tem que ser considerado inocente, tem que ter o direito
de se defender. Mesmo dentro do
PT, isso tem de valer."
Ao tratar das investigações petistas, o ministro também citou o
trabalho das CPIs. E alertou que,
ao propor depoimentos de uma
suposta cafetina -em referência
à suposta agenciadora de meninas de programa Jeany Mary Corner- e de um doleiro, as comissões podem cair num processo de
"desmoralização".
"Não podemos cair na tentação
de desviar o rumo da CPI para essa coisa de chamar cafetina para
depor, doleiro preso por 25 anos
[Antonio Claramunt, o Toninho
da Barcelona]. Seria tomar um rumo que, com certeza, não vai ajudar a esclarecer o fato e pode nos
levar a uma desmoralização desse
instituto importante."
(FÁBIO ZANINI, EDUARDO SCOLESE E ANA FLOR)
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