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ELIO GASPARI
Malan não está disposto a ficar exposto
Lula e Ciro Gomes deveriam ir hoje ao ministro Ilmar Galvão, presidente do
Tribunal Superior Eleitoral,
levando-lhe um caso de terrorismo eleitoreiro explícito,
destinado a prejudicá-los, a
empulhar a choldra e a confundir a condução dos negócios do Estado com a máquina de propaganda do tucanato.
Trata-se da declaração feita pelo ministro da Fazenda,
Pedro Malan, na segunda-feira, em Porto Alegre.
Referindo-se ao último desdobramento da encrenca financeira internacional, informou o seguinte:
"Não há razão para que a
crise na Rússia tenha efeitos
sobre o Brasil. Há muitos torcendo para que isso aconteça.
Acham que podem ter algum
benefício político-eleitoral
sobre isso."
Quem está torcendo? "Prefiro que cada um faça a sua
interpretação sobre quem são
essas pessoas."
Então a coisa funciona assim: O doutor Malan sustenta uma política de câmbio sobrevalorizado, atrela o destino do dia seguinte ao fluxo
de capitais externos e, quando emerge uma situação de
risco inerente à estratégia
que perfilha, acusa os adversários do governo de estarem
torcendo por um desastre.
A declaração é terrorista
porque pretende atribuir à
oposição uma conduta nefasta. Destina-se a prejudicar os
candidatos Luiz Inácio Lula
da Silva e Ciro Gomes porque, sendo críticos de sua política, lança-lhes a carapuça
de torcer para que ocorram
malefícios econômicos e sociais, pensando em "algum
benefício político-eleitoral".
Empulha a choldra porque
procura atribuir eventuais
desgraças de sua política às
críticas que a ela são feitas.
Confunde a administração
do Estado com as astúcias típicas das campanhas eleitorais, porque mesmo que todos
os oposicionistas saiam amanhã às ruas cantando a musiquinha da campanha de
FFHH, a situação continuará
exatamente do mesmo tamanho.
Foi a política temerária do
governo que jogou os juros a
40% ao ano, desempregou 1,5
milhão de pessoas na Grande
São Paulo e derrubou o crescimento do PIB para menos
de 3%. Nem os raposões da
Baixada Fluminense, que
acordam e dormem pensando em golpes eleitoreiros, tiveram algo a ver com isso.
Trata-se de uma produção de
FFHH, Pedro Malan e Gustavo Franco, atual presidente
do Banco Central.
Se tudo isso fosse pouco, a
declaração do ministro da
Fazenda é também primitiva. Na sexta-feira, em Nova
York, a corretora Goldman
Sachs perguntou a cem investidores quais países poderiam vir a ser prejudicados
pela crise russa. Deu 56,5%
para o Brasil e 20% para a
Ucrânia e a Argentina.
Ao que se saiba, nem Lula
se chama Goldman, muito
menos Ciro é Sachs. A menos
que o doutor Malan esteja informado de eventuais conciliábulos eleitoreiros da Goldman Sachs, o que a pesquisa
da corretora revelou foi um
sentimento que, certo ou errado, é politicamente neutro.
Pelas virtudes que a população vê no real, FFHH recuperou a possibilidade de ganhar a eleição no primeiro
turno. É o jogo jogado. Ganhou, levou. O que não vale é
embolsar a vitória atribuindo a possibilidade do fracasso aos adversários. Nisso, o
ministro teria muito a aprender com Zagallo.
Em junho do ano passado,
embevecido pelo desempenho
anterior ao início da crise financeira, o doutor Malan orgulhava-se de captar rios de
dinheiro e explicava: "Estamos fazendo uma aposta de
que as mudanças estruturais
pelas quais está passando a
economia brasileira não só
permitirão um aumento das
exportações no futuro, como
reduzirão as importações".
Em julho passado, Malan
carregava um déficit comercial de US$ 2,4 bilhões. Esse
resultado tem uma ponta de
êxito, pois ficou abaixo da
metade dos US$ 5,5 bilhões
do desastre dos sete primeiro
meses de 1997. Infelizmente,
mesmo tendo conseguido a
melhor marca do ano, as exportações de julho ficaram
em US$ 5,25 bilhões, pouco
acima do resultados do ano
passado.
Foi Malan quem disse que
estava fazendo "uma aposta". O que aposta, não se sabe. Pela sua estocada eleitoreira, parece querer o melhor
negócio do mundo. Quando
ganha, arrasta as fichas.
Quando sente o calor da crise
vindo pela porta da direita,
pede uma boa média que não
seja requentada, manda vir o
guarda-chuva do seu Osório
no 34-4333 e, como Noel, se
despede do garçom:
- Vá dizer ao seu gerente
que pendure essa despesa
no cabide ali em frente.
O gerente se chama Luis
Inácio Lula da Silva. Quanto
ao cabide, é de Ciro Gomes.
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