São Paulo, Domingo, 19 de Setembro de 1999
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Desemprego é a principal deficiência


JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

O desemprego é o principal problema do país e a maior deficiência do governo. Mas o galope da impopularidade do presidente Fernando Henrique Cardoso desde dezembro tem uma segunda explicação: ele perdeu seu charme. Sua imagem pessoal, antes um trunfo, passou a ser um peso.
FHC continua "moderno" e "inteligente" aos olhos da maioria da população, mas, agora, é também "falso", "orgulhoso" e "indeciso", além de "respeitar mais os ricos" e "trabalhar pouco".
Essas são conclusões de pesquisa nacional Datafolha feita nos últimos dias 14 e 15. Ela mostra que 56% dos brasileiros consideram o desempenho presidencial "ruim ou péssimo".
Trata-se do recorde de impopularidade para FHC, mas ainda está longe dos 68% de "ruim/péssimo" obtidos tanto por José Sarney (em setembro de 89) quanto por Fernando Collor (na véspera do impeachment, em 92).
Foram ouvidas 3.771 pessoas em 118 municípios de todos os Estados. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
O desgaste da imagem pessoal do presidente foi profundo ao longo deste ano.
Colocados diante de dois conceitos sobre o presidente -um positivo e um negativo- , 64% dos brasileiros acham que ele "trabalha pouco". Em junho de 98 esse percentual era de 50%.
Há 15 meses, a população se dividia sobre a sinceridade de FHC: havia 43% de "falso" contra 41% de "sincero". Hoje, 62% dizem que ele é "falso".
A "humildade" nunca foi um ponto forte do presidente, mas agora é ainda menos: 59% consideram-no "orgulhoso", o que significa um aumento de 11 pontos percentuais em relação a 98.
Mesmo nos conceitos em que ainda mantém uma avaliação positiva ou equilibrada, FHC perdeu força. Seu índice de simpatia caiu de 58% para 46%, o de modernidade passou de 63% para 54%.
Seu aspecto mais favorável continua sendo a inteligência: 67% ainda dizem que ele é "muito inteligente" (contra 75% em 98).
Hoje, 56% dizem que ele é "indeciso", revertendo uma imagem de "decidido" (57%) que o presidente tinha há pouco mais de um ano. Tão grave é o fato de ter subido de 65% para 78% o percentual daqueles que acham que ele "respeita mais os ricos".
Todo esse desgaste pessoal se reflete na imagem do governo. A nota dada pela população também é a mais baixa já registrada: 3,5. Ele chegou a receber 6,5, em dezembro de 96.
Chama a atenção na nova pesquisa Datafolha a migração de pessoas do nível "regular" para o de "ruim/péssimo" na avaliação do desempenho presidencial. Em apenas três meses, o primeiro grupo passou de 38% para 27%, após anos de estabilidade.
Com quatro anos e nove meses no poder, a impopularidade do presidente não só alcançou seu patamar mais alto, como é hoje mais do que o dobro da registrada em dezembro passado.
FHC chegou ao final de seu primeiro mandato com 25% de "ruim/péssimo" -uma espécie de linha de resistência, que ele já havia tangenciado em junho de 96 e em junho de 98, mas que jamais ultrapassara.
Em fevereiro, logo após a desvalorização do real, essa linha foi rompida pela primeira vez. O percentual de "ruim/péssimo" chegou a 36%, ultrapassando, também de forma inédita, o de "bom/ótimo" (21%).
Naquele mês, a imagem do Plano Real também foi afetada. O percentual de "ótimo/bom" despencou de 61% para 34% -ficando inalterado desde então.
A insatisfação com o governo, ao contrário, foi aumentando ao longo do ano. Em junho, os insatisfeitos com o governo já somavam 44%, enquanto o grupo dos que o apoiavam era reduzido a 16% da população.
O único contingente que permanecia estável era o dos que classificavam o governo como "regular": desde março de 95, ele oscilava entre 37% e 42%, e ficou em 38% em junho.
Na última pesquisa esse quadro mudou e, pela primeira vez desde que FHC chegou ao poder, a avaliação "regular" de seu governo caiu abaixo dos 30%.
Para resumir, o segundo mandato de Fernando Henrique tem sido marcado até agora pelo descolamento da imagem do presidente da do plano econômico que o elegeu e reelegeu.
Mesmo afetado pela desvalorização do início do ano, o real continua com um percentual de aprovação superior ao de rejeição (34% de "ótimo/bom" contra 25% de "ruim/péssimo").
Do mesmo modo, praticamente todos os indicadores sobre o quadro econômico medidos pelo Datafolha têm se mantido estáveis, inclusive na nova pesquisa. O problema é que essa estabilização ocorreu em um patamar de alto pessimismo.
Para 69% dos brasileiros o desemprego vai crescer, para 64% a inflação vai aumentar, para 43% o poder de compra vai diminuir. Em síntese, 44% acham que a situação econômica brasileira vai piorar mais.
O desemprego ainda é, disparado, o principal problema do país: tem 51% dos votos, seguido da saúde (12%), violência (6%) e miséria (5%).
Também aparece como o maior motivo (54% das referências) para as pessoas avaliarem o governo como "ruim/péssimo".
Com um quadro econômico negativo e a imagem pessoal cada vez mais desgastada, Fernando Henrique não consegue dar visibilidade às ações de governo: 81% não tomaram conhecimento do seu plano "Avança Brasil".
Como consequência, 59% acham que o governo "vai cumprir apenas uma parte dessas metas, mas a maioria não". O plano prevê investimentos em projetos como criação de postos de trabalho e construção de escolas técnicas nos próximos quatro anos.
Para a maioria absoluta (70%), o principal objetivo do "Avança Brasil" foi melhorar a imagem de FHC com a população.


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