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Desemprego
é a principal
deficiência
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local
O desemprego é o principal
problema do país e a maior deficiência do governo. Mas o galope
da impopularidade do presidente
Fernando Henrique Cardoso desde dezembro tem uma segunda
explicação: ele perdeu seu charme. Sua imagem pessoal, antes
um trunfo, passou a ser um peso.
FHC continua "moderno" e
"inteligente" aos olhos da maioria
da população, mas, agora, é também "falso", "orgulhoso" e "indeciso", além de "respeitar mais os
ricos" e "trabalhar pouco".
Essas são conclusões de pesquisa nacional Datafolha feita nos últimos dias 14 e 15. Ela mostra que
56% dos brasileiros consideram o
desempenho presidencial "ruim
ou péssimo".
Trata-se do recorde de impopularidade para FHC, mas ainda está longe dos 68% de "ruim/péssimo" obtidos tanto por José Sarney (em setembro de 89) quanto
por Fernando Collor (na véspera
do impeachment, em 92).
Foram ouvidas 3.771 pessoas
em 118 municípios de todos os Estados. A margem de erro é de dois
pontos percentuais, para mais ou
para menos.
O desgaste da imagem pessoal
do presidente foi profundo ao
longo deste ano.
Colocados diante de dois conceitos sobre o presidente -um
positivo e um negativo- , 64%
dos brasileiros acham que ele
"trabalha pouco". Em junho de 98
esse percentual era de 50%.
Há 15 meses, a população se dividia sobre a sinceridade de FHC:
havia 43% de "falso" contra 41%
de "sincero". Hoje, 62% dizem
que ele é "falso".
A "humildade" nunca foi um
ponto forte do presidente, mas
agora é ainda menos: 59% consideram-no "orgulhoso", o que significa um aumento de 11 pontos
percentuais em relação a 98.
Mesmo nos conceitos em que
ainda mantém uma avaliação positiva ou equilibrada, FHC perdeu
força. Seu índice de simpatia caiu
de 58% para 46%, o de modernidade passou de 63% para 54%.
Seu aspecto mais favorável continua sendo a inteligência: 67%
ainda dizem que ele é "muito inteligente" (contra 75% em 98).
Hoje, 56% dizem que ele é "indeciso", revertendo uma imagem
de "decidido" (57%) que o presidente tinha há pouco mais de um
ano. Tão grave é o fato de ter subido de 65% para 78% o percentual
daqueles que acham que ele "respeita mais os ricos".
Todo esse desgaste pessoal se
reflete na imagem do governo. A
nota dada pela população também é a mais baixa já registrada:
3,5. Ele chegou a receber 6,5, em
dezembro de 96.
Chama a atenção na nova pesquisa Datafolha a migração de
pessoas do nível "regular" para o
de "ruim/péssimo" na avaliação
do desempenho presidencial. Em
apenas três meses, o primeiro
grupo passou de 38% para 27%,
após anos de estabilidade.
Com quatro anos e nove meses
no poder, a impopularidade do
presidente não só alcançou seu
patamar mais alto, como é hoje
mais do que o dobro da registrada
em dezembro passado.
FHC chegou ao final de seu primeiro mandato com 25% de
"ruim/péssimo" -uma espécie
de linha de resistência, que ele já
havia tangenciado em junho de 96
e em junho de 98, mas que jamais
ultrapassara.
Em fevereiro, logo após a desvalorização do real, essa linha foi
rompida pela primeira vez. O percentual de "ruim/péssimo" chegou a 36%, ultrapassando, também de forma inédita, o de
"bom/ótimo" (21%).
Naquele mês, a imagem do Plano Real também foi afetada. O
percentual de "ótimo/bom" despencou de 61% para 34% -ficando inalterado desde então.
A insatisfação com o governo,
ao contrário, foi aumentando ao
longo do ano. Em junho, os insatisfeitos com o governo já somavam 44%, enquanto o grupo dos
que o apoiavam era reduzido a
16% da população.
O único contingente que permanecia estável era o dos que
classificavam o governo como
"regular": desde março de 95, ele
oscilava entre 37% e 42%, e ficou
em 38% em junho.
Na última pesquisa esse quadro
mudou e, pela primeira vez desde
que FHC chegou ao poder, a avaliação "regular" de seu governo
caiu abaixo dos 30%.
Para resumir, o segundo mandato de Fernando Henrique tem
sido marcado até agora pelo descolamento da imagem do presidente da do plano econômico que
o elegeu e reelegeu.
Mesmo afetado pela desvalorização do início do ano, o real continua com um percentual de
aprovação superior ao de rejeição
(34% de "ótimo/bom" contra
25% de "ruim/péssimo").
Do mesmo modo, praticamente
todos os indicadores sobre o quadro econômico medidos pelo Datafolha têm se mantido estáveis,
inclusive na nova pesquisa. O
problema é que essa estabilização
ocorreu em um patamar de alto
pessimismo.
Para 69% dos brasileiros o desemprego vai crescer, para 64% a
inflação vai aumentar, para 43% o
poder de compra vai diminuir.
Em síntese, 44% acham que a situação econômica brasileira vai
piorar mais.
O desemprego ainda é, disparado, o principal problema do país:
tem 51% dos votos, seguido da
saúde (12%), violência (6%) e miséria (5%).
Também aparece como o maior
motivo (54% das referências) para as pessoas avaliarem o governo
como "ruim/péssimo".
Com um quadro econômico negativo e a imagem pessoal cada
vez mais desgastada, Fernando
Henrique não consegue dar visibilidade às ações de governo: 81%
não tomaram conhecimento do
seu plano "Avança Brasil".
Como consequência, 59%
acham que o governo "vai cumprir apenas uma parte dessas metas, mas a maioria não". O plano
prevê investimentos em projetos
como criação de postos de trabalho e construção de escolas técnicas nos próximos quatro anos.
Para a maioria absoluta (70%),
o principal objetivo do "Avança
Brasil" foi melhorar a imagem de
FHC com a população.
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