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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
Empresa da mulher de assessor fez campanha de Lula e atua para o PT
Companhia de Simone Godoy, cujo marido é acusado de negociar dossiê, tem contrato com a direção do partido
Família também trabalhou com Dirceu e Marta Suplicy;
mulher de Freud nega elo com o caso e diz que abre os
sigilos telefônico e bancário
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A empresa de segurança da
mulher de Freud Godoy, assessor especial da Secretaria Particular do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, possui vínculos
comerciais com as principais
instâncias partidárias e campanhas eleitorais do PT.
A empresa faz a vigilância e o
controle da portaria da sede do
Diretório Nacional do PT em
São Paulo. Recentemente, foi
contratada para fazer varredura nos telefones desse departamento petista em Brasília.
Por uma empresa com outro
nome, Freud Godoy prestou
serviços de segurança, em
2002, à campanha de Lula. No
papel, a Caso Comércio de Serviços atuava no "comércio atacadista de produtos químicos"
e tinha capital social de R$ 10
mil. Recebeu, em gastos declarados ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), R$ 101,5 mil do
comitê eleitoral presidencial.
No mesmo ano, trabalhou
para a campanha de José Dirceu (PT) a deputado federal,
por só declarados R$ 4.400.
Em 2004, agora no nome da
mulher de Freud, a nova empresa, Caso Sistemas de Segurança, trabalhou na campanha
em que Marta Suplicy tentou a
reeleição à Prefeitura de São
Paulo. Recebeu R$ 106 mil.
"Está aberto o sigilo bancário, o telefônico, o que quiser da
Caso Sistemas de Segurança,
como também o meu [sigilo]
pessoal, porque não tenho relação com essas pessoas [presas]", disse ontem a mulher de
Freud e dona da empresa, a jornalista Simone Messeguer Pereira Godoy. "É uma empresa
regulamentada pela Polícia Federal", afirmou Simone.
A varredura nos telefones do
PT em Brasília foi realizada há
poucos dias. Segundo a empresária, o ex-agente da Polícia Federal Gedimar Pereira Passos,
preso na última sexta-feira com
parte do R$ 1,7 milhão que seria
usado para adquirir um dossiê
contra tucanos, "era o responsável pela logística do diretório
[do PT] em Brasília".
"Os funcionários se apresentaram, fizeram o serviço e voltaram para São Paulo. Foi agora, antes disso nunca tinha tido
relação nenhuma [com Gedimar]", afirmou Simone.
Sediada, no papel, em Santana de Parnaíba (SP) e com telefone de Santo André (SP), a Caso Sistemas de Segurança entrou em atividade em maio de
2003 -ou seja, quatro meses
após a posse de Freud em Brasília. A empresa está em nome
de Simone e do irmão dela, Kléber Michel Messeguer Pereira.
O endereço do telefone registrado em nome da Caso (que
tem 85 empregados) é um sobrado amarelo, sem letreiro, no
Parque Jaçatuba, em Santo André. Na primeira empresa, a Caso Comércio de Serviços, aberta em 1998, Freud tinha 95% e
sua mulher 5% do capital social
de R$ 10 mil. Ele ocupava o cargo de "sócio gerente".
Código de ética
Os servidores lotados na Presidência devem seguir código
de ética específico, criado pelo
decreto 4.081/2002. O código
não trata especificamente de
empresas abertas em nome de
cônjuges dos servidores. Mas
veda, no artigo 10, "prestar serviços ou aceitar proposta de
trabalho, de natureza eventual
ou permanente, ainda que fora
de seu horário de expediente".
Se o decreto foi seguido por
Freud Godoy, a Presidência da
República tinha conhecimento
das atividades comerciais da família. O artigo 13º prevê que "as
propostas de trabalho ou de negócio futuro no setor privado
serão imediatamente informadas pelo agente público à CEPR
[Comissão de Ética dos Agentes Públicos da Presidência e
Vice-Presidência da República], independentemente da sua
aceitação ou rejeição".
A Comissão de Ética Pública,
ligada à Presidência, disse que o
servidor público pode ter outras atividades profissionais
"nos limites da lei e desde que
observadas as restrições para
atividades que possam suscitar
conflitos de interesse".
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