São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

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PT quer negociar Câmara para ter apoio

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na rápida conversa na quarta-feira com o tucano Aécio Neves, governador eleito de Minas e presidente da Câmara, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, propôs mais do que a organização de "uma boa pauta" congressual após as eleições.
A Folha apurou que Lula disse a Aécio que o PT, se chegar ao Planalto, está disposto a negociar a presidência da Câmara com outras siglas em troca da ampliação da base de apoio no Congresso a eventual governo seu. Lula quer Aécio no centro da negociação.
Mais: o petista disse que deseja se reunir com Aécio logo após o fim do segundo turno. A intenção dos dois é articular uma aliança de governadores para apoiar algumas medidas legislativas na transição de governo.
Nessa agenda de transição, estariam medidas para acalmar o mercado, como autonomia operacional ao Banco Central, e articulações para fazer uma reforma tributária no prazo de seis meses.
A agenda Lula-Aécio, é óbvio, só valerá no caso de vitória do PT. Se o tucano José Serra (PSDB) for eleito, a boa relação PT-Aécio perderá importância.
Segundo a Folha apurou, o encontro "casual" entre Lula e Aécio no aeroporto de Brasília foi planejado por Itamar Franco (sem partido), governador de Minas.
O ex-presidente, aliado do tucano e do petista, monitorou o horário de chegada de Aécio. Soube por um auxiliar que ele pousaria por volta das 11h30. Pouco antes disso, avisou a equipe de Lula que Aécio estava para chegar.
O petista cancelou uma entrevista coletiva, foi para o hangar de uma companhia aérea e encontrou Aécio, que não sabia da jogada de Itamar, mostrando-se surpreso. O tucano reclamou com a assessoria que não havia sido avisado e que isso chatearia Serra, a quem apóia.
Itamar articulou o encontro porque Aécio recusou na semana passada uma reunião com Lula proposta pelo governador e pela cúpula petista. Na quarta, Aécio não conseguiu escapar e posou para fotos com Lula. O PT continua a dizer que foi acaso.

Apostas na Câmara
Por enquanto, há muita especulação, mas alguns deputados federais eleitos já ensaiam tentativas de presidir a Câmara. O nome de José Dirceu (SP) é colocado pelo PT como forma de guardar o posto para negociação.
O partido fez a maior bancada, o que lhe daria o direito de indicar o presidente da Câmara, mas Dirceu deverá ser o chefe da Casa Civil de um eventual governo Lula. O petista que sonha com o posto é João Paulo Cunha (SP), líder da bancada do partido na Câmara.
No PMDB, partido que apóia Serra, mas que pode se aliar a Lula, fala-se em Michel Temer (SP), que já presidiu a Casa. Ele é do núcleo governista e recomporia pontes com a ala que apóia Lula.
No PSDB, o ex-ministro da Justiça Aloysio Nunes Ferreira (SP), tem ótima relação com Dirceu e já fez pontes entre o PT e FHC, apesar de apoiar Serra.



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