São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

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SEGUNDO TURNO

Para cientista político, "efeito Lula" não é a única explicação para o crescimento do voto na oposição nas eleições estaduais

Disputas mostram onda oposicionista

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

As disputas eleitorais na quase totalidade dos 13 Estados e no Distrito Federal que terão segundo turno mostram haver uma onda oposicionista, traduzida por um sentimento de mudança, mas também componentes de fragmentação da política local, com a formação de alianças pouco sólidas, influem nas campanhas.
A onda de mudança não estaria necessariamente apenas sofrendo influência da posição que o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva ocupa atualmente nas pesquisas de intenção de voto, já que ele incorpora esse sentimento, conforme identificou recente pesquisa Datafolha.
A influência que Lula e o PT possam estar exercendo é importante neste contexto, mas pode não ser o único motivo, segundo Ricardo Caldas, do departamento de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília), que desde o primeiro turno vem acompanhando de perto as eleições em Estados do Centro-Oeste e Norte.

Governos petistas
"Eu não sei se é uma onda Lula ou uma onda PT, que na verdade não são a mesma coisa, ou se uma onda oposicionista", disse Caldas, que sustenta tal dúvida na realidade de dois Estados onde o PT governa: Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, além de componentes da política local.
Em Mato Grosso do Sul, o governador Zeca do PT estava cotado para se reeleger no primeiro turno. Não conseguiu e agora está empatado tecnicamente, segundo pesquisa do Ibope, com Marisa Serrano (PSDB).
Na disputa pelo governo gaúcho, administrado por Olívio Dutra (PT), o candidato da situação, o petista Tarso Genro, que liderou as pesquisas em boa parte da disputa no primeiro turno, foi atropelado na reta final e perdeu para Germano Rigotto (PMDB), com quem disputa agora o segundo turno, mas corre atrás do peemedebista nas pesquisas.
Mas não só os situacionistas petistas enfrentam essa situação. No Distrito Federal, o governador Joaquim Roriz (PMDB), outro que as pesquisas indicavam que poderia vencer no primeiro turno, está atrás do petista Geraldo Magela, de acordo com o Ibope.
Também o governador de Santa Catarina, Esperidião Amin (PPB), corre atrás do prejuízo. Tenta se reeleger na acirrada disputa contra Luiz Henrique (PMDB). Estão empatados tecnicamente, segundo as pesquisas.

Eleitos
A "onda PT", para o cientista político do Iuperj Marcus Figueiredo, influenciou a realização de segundo turno em muitos Estados, mas ele enfatiza também outros elementos, como a avaliação que o eleitorado faz da gestão do atual governante e a "fragmentação local", ou seja, a inexistência de uma aliança política estruturada para sustentar as candidaturas situacionistas.
Governos bem avaliados ou estruturados politicamente não tiveram muitas dificuldades para reelegerem no primeiro turno seus atuais governantes ou os candidatos que apoiavam. São casos como Aécio Neves (PSDB) em Minas, Jarbas Vasconcelos (PMDB) em Pernambuco, Paulo Souto (PFL) na Bahia, Marconi Perillo (PSDB) em Goiás, Jorge Viana (PT) no Acre e Ronaldo Lessa (PSB) em Alagoas.
Neste segundo turno, 11 candidatos tentam a reeleição ou são apoiados pelo governo atual. Para Figueiredo, o fato de esses candidatos terem de disputar um segundo turno não significa que eles foram reprovados pelas urnas, pelo contrário. Continuam na disputa, mas muitos tendo que enfrentar a "onda PT".
No caso de São Paulo, o cientista político atribui a realização do segundo turno a uma "tradição" de disputas em dois turnos no Estado. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) tenta se reeleger e enfrenta o deputado federal petista José Genoino, que grudou sua imagem à de Lula.


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