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SÃO PAULO
Havanir só não foi votada em dois municípios; regiões periféricas da capital paulista concentraram votação do Prona
Enéas teve votos em todas as cidades de SP
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não precisaria mais nada: os votos recebidos pelo acreano Enéas
Ferreira Carneiro e pela sergipana
Havanir Tavares de Almeida
Nimtz nas zonas norte e leste da
capital paulista já seriam suficientes para que os dois candidatos do
Prona figurassem entre os deputados federais e estaduais mais
votados de São Paulo.
Foi nessas regiões que Enéas e
Havanir tiveram as maiores concentrações de eleitores. De lá saíram 16% dos votos válidos registrados no Estado para as duas instâncias do Legislativo, mas havia
entre eles 25% dos votos totais de
Enéas e 34% dos de Havanir.
Na Vila Maria, por exemplo, de
cada 100 pessoas que votaram para deputado federal, 15 escolheram o barbudo cardiologista do
Prona -no Estado, a média dele
foi quase a metade disso (8,02%).
Já Havanir atingiu seu maior índice na Penha: foi escolhida por 9
de cada 100 eleitores, contra uma
média de 3,48% no Estado.
Em números absolutos, foram
399.749 votos para ele e 231.707
votos para ela. Com isso, Enéas,
63, já seria o segundo deputado
federal mais votado mesmo que
não fosse lembrado por nenhum
eleitor nas demais 644 cidades do
Estado. Havanir, 49, já seria a
campeã na corrida à Assembléia.
Mas o "fenômeno Enéas" não se
limitou à periferia da capital. Sem
nenhuma viagem, nenhum comitê e nenhum comício, não houve
um único dos 645 municípios
paulistas no qual o candidato não
tenha sido escolhido por pelo menos um eleitor -aliás, por pelo
menos quatro, número mínimo
de votos que ele obteve em Itaoca
(região de Itapeva), o equivalente
a 0,23% dos válidos, seu pior índice. Lá, ele ficou em 23º lugar, a
pior posição.
A dermatologista Havanir foi de
carona: só não foi lembrada em
dois municípios -Bom Sucesso
de Itararé e Pedrinhas Paulista.
Em todos os outros, lá estava a
doutora, vagando entre a 1ª e a 54ª
posição e arregimentando 681.991
seguidores -mais do que o dobro que o segundo colocado.
"Nossa!", disparou uma feliz
Havanir ao saber pela Folha da
proliferação de seus eleitores. "O
doutor Enéas não saiu à rua. Impressionante como a indignação
profunda está em toda parte. Vai
do físico nuclear ao camelô. É
uma identificação plena com a
nossa indignação", avalia ela.
De grão em grão
O Prona (Partido da Reedificação da Ordem Nacional) tem diretórios em apenas 50 cidades e só
conseguiu pagar outdoors em 20
delas. A falta de dinheiro e de capilaridade tradicionalmente limitam a campanha da sigla ao horário gratuito e impedem o investimento em redutos -até porque a
legenda não os tem.
Neste ano, porém, sem que ninguém saiba exatamente os motivos, o que era desvantagem virou
sucesso. Com votos em todas as
cidades -em 24 grandes colégios
eleitorais ele foi o campeão de citações-, Enéas viu refletida nas
urnas a homogeneidade de sua
campanha e chegou ao título de
deputado federal mais votado da
história. Para melhorar, arrastou
consigo a pupila Havanir e garantiu bancadas tão numerosas
quanto a do tradicional PMDB.
Para o Prona, não há o menor
traço de deboche nem de apatia
política em sua votação. "Não temos dúvida: o doutor Enéas repete um discurso há 13 anos. Foram
votos nessa coerência", diz o professor Irapuan Teixeira, um dos
fundadores do partido. Segundo
ele, até o final do mês a agenda do
deputado eleito está lotada de entrevistas. Figuram entre os interessados alguns representantes da
elite da mídia estrangeira -ou
"da imprensa podre que serve aos
interesses alienígenas", como
Enéas costuma dizer.
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