São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

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SÃO PAULO

Havanir só não foi votada em dois municípios; regiões periféricas da capital paulista concentraram votação do Prona

Enéas teve votos em todas as cidades de SP

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Não precisaria mais nada: os votos recebidos pelo acreano Enéas Ferreira Carneiro e pela sergipana Havanir Tavares de Almeida Nimtz nas zonas norte e leste da capital paulista já seriam suficientes para que os dois candidatos do Prona figurassem entre os deputados federais e estaduais mais votados de São Paulo.
Foi nessas regiões que Enéas e Havanir tiveram as maiores concentrações de eleitores. De lá saíram 16% dos votos válidos registrados no Estado para as duas instâncias do Legislativo, mas havia entre eles 25% dos votos totais de Enéas e 34% dos de Havanir.
Na Vila Maria, por exemplo, de cada 100 pessoas que votaram para deputado federal, 15 escolheram o barbudo cardiologista do Prona -no Estado, a média dele foi quase a metade disso (8,02%).
Já Havanir atingiu seu maior índice na Penha: foi escolhida por 9 de cada 100 eleitores, contra uma média de 3,48% no Estado.
Em números absolutos, foram 399.749 votos para ele e 231.707 votos para ela. Com isso, Enéas, 63, já seria o segundo deputado federal mais votado mesmo que não fosse lembrado por nenhum eleitor nas demais 644 cidades do Estado. Havanir, 49, já seria a campeã na corrida à Assembléia.
Mas o "fenômeno Enéas" não se limitou à periferia da capital. Sem nenhuma viagem, nenhum comitê e nenhum comício, não houve um único dos 645 municípios paulistas no qual o candidato não tenha sido escolhido por pelo menos um eleitor -aliás, por pelo menos quatro, número mínimo de votos que ele obteve em Itaoca (região de Itapeva), o equivalente a 0,23% dos válidos, seu pior índice. Lá, ele ficou em 23º lugar, a pior posição.
A dermatologista Havanir foi de carona: só não foi lembrada em dois municípios -Bom Sucesso de Itararé e Pedrinhas Paulista.
Em todos os outros, lá estava a doutora, vagando entre a 1ª e a 54ª posição e arregimentando 681.991 seguidores -mais do que o dobro que o segundo colocado.
"Nossa!", disparou uma feliz Havanir ao saber pela Folha da proliferação de seus eleitores. "O doutor Enéas não saiu à rua. Impressionante como a indignação profunda está em toda parte. Vai do físico nuclear ao camelô. É uma identificação plena com a nossa indignação", avalia ela.

De grão em grão
O Prona (Partido da Reedificação da Ordem Nacional) tem diretórios em apenas 50 cidades e só conseguiu pagar outdoors em 20 delas. A falta de dinheiro e de capilaridade tradicionalmente limitam a campanha da sigla ao horário gratuito e impedem o investimento em redutos -até porque a legenda não os tem.
Neste ano, porém, sem que ninguém saiba exatamente os motivos, o que era desvantagem virou sucesso. Com votos em todas as cidades -em 24 grandes colégios eleitorais ele foi o campeão de citações-, Enéas viu refletida nas urnas a homogeneidade de sua campanha e chegou ao título de deputado federal mais votado da história. Para melhorar, arrastou consigo a pupila Havanir e garantiu bancadas tão numerosas quanto a do tradicional PMDB.
Para o Prona, não há o menor traço de deboche nem de apatia política em sua votação. "Não temos dúvida: o doutor Enéas repete um discurso há 13 anos. Foram votos nessa coerência", diz o professor Irapuan Teixeira, um dos fundadores do partido. Segundo ele, até o final do mês a agenda do deputado eleito está lotada de entrevistas. Figuram entre os interessados alguns representantes da elite da mídia estrangeira -ou "da imprensa podre que serve aos interesses alienígenas", como Enéas costuma dizer.


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