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Lula propõe conselho para inclusão social
É possível aumentar significativamente os gastos em programas
sociais sem reduzir as despesas da
Previdência? Os senhores admitem
rediscutir os chamados direitos adquiridos dos servidores públicos no
que diz respeito às suas aposentadorias?
Lula já se comprometeu publicamente, em diversas ocasiões, a
não mexer nos direitos adquiridos dos funcionários públicos. O
que está em discussão é a necessidade de formular um Sistema
Previdenciário Único, com fontes
de financiamento estáveis e suficientes, envolvendo todos os setores. Com relação aos gastos das
políticas sociais, com exceção dos
previstos no Orçamento da Seguridade Social e do Fundo de Assistência Social, estão permanentemente sujeitos a cortes e negociações subordinadas aos calendários eleitorais. Além disso, estão
pulverizadas em diversos órgãos e
ministérios. Por isso, estamos
propondo a criação do Conselho
de Desenvolvimento Social, que
terá como atribuição coordenar e
definir metas e instrumentos para
a inclusão social, além de um orçamento próprio em nível federal
para evitar o contingenciamento
de verbas para outros fins.
Os gastos sociais (exceto a Previdência) de diversos programas
realizados são da ordem de R$ 45
bilhões por ano, o que é mais do
que o dobro dos recursos necessários à implantação do Programa
de Cupons de Alimentação do
Projeto Fome Zero, por exemplo.
É possível, portanto, no início,
redirecionar parte dos recursos já
existentes e simultaneamente aumentar os recursos fiscais resultantes de um ritmo maior de crescimento da economia, assim como da redução dos juros e também do melhor gerenciamento
dos recursos disponíveis, com redução do desperdício existente.
No que diz respeito à "rede de
proteção social" do governo FHC, a
quais programas os senhores pretendem dar prioridade? Os senhores pretendem extinguir os programas de cesta básica, tidos como os
mais ineficientes e sujeitos a clientelismo e corrupção?
Os direitos humanos incluem o
respeito à infância, o direito à alimentação, à educação, à cultura, à
segurança, ao trabalho e a condições de trabalho e aposentadoria
dignos. Mas, por garantir a vida,
uma das grandes prioridades é
acabar com a fome. É possível fazer isso sem tirar recursos de outros setores.
A proposta apresentada por Lula, o Projeto Fome Zero, é associar
políticas estruturais, que causam
a permanência da fome e da miséria, com políticas emergenciais,
para "salvar vidas". A principal
delas é substituir as cestas básicas
por cupons que podem assumir a
forma de cartões magnéticos para
a aquisição de alimentos. Esse
programa é adotado com sucesso
em vários países e representa um
grande avanço em relação à distribuição de bens de espécie, como as cestas básicas.
Propomos também manter a
política de cestas básicas em casos
emergenciais, garantida através
da formação de estoques de alimentos de segurança, política defendida pelas Nações Unidas.
Alguns dos principais problemas
dos programas sociais são o risco
de corrupção e clientelismo, a perda de recursos na máquina administrativa, a multiplicação de estruturas administrativas tanto no
governo federal como nos Estados
e municípios e o controle do alvo
do benefício (se são os mais pobres
a recebê-lo). Como os senhores pretendem reduzir as estruturas burocráticas e aumentar o controle público sobre os programas sociais?
Nossa visão de política social é a
seguinte:
1) Trabalhar simultaneamente
as políticas estruturais e as políticas emergenciais. A política compensatória deve ser vista como
emergencial e temporária, de forma a criar condições para que as
famílias superem a condição de
vulnerabilidade;
2) Política social é para garantir
cidadania e direitos essenciais. É
importante ter a noção de várias
camadas de proteção social: aos
idosos, aos jovens, às crianças, e
considerar tais programas como
um direito -e não como uma dádiva divina ou um favor dos políticos clientelistas;
3) A noção da universalização
dos direitos sociais garante mais
cidadania que a noção da separação de pobres e não-pobres. A
discriminação (focalização, contagem, cadastro único, separação
de cidadãos e não-cidadãos) fortalece a visão de subcidadãos e de
favores pessoais, a qual se quer
combater;
4) Combater a fome e construir
moradias não é doação. Isso gera
desenvolvimento, gera empregos
e desenvolve a economia;
5) Os beneficiários têm que ser
atores fundamentais: participar
das decisões, da seleção e ter contrapartidas, como trabalho comunitário, qualificação profissional,
educação e saúde.
Maya Takagi, doutoranda em economia
da Unicamp e coordenadora-executiva
do Projeto Fome Zero, respondeu às perguntas do candidato de seu partido.
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