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PF pegou só parte do esquema, diz fiscal
Para Antonio Carlos Moura, Cervejaria Petrópolis integra megaesquema de fraude fiscal; empresa não comenta as declarações
Moura afirma que falso
inquérito, supostamente
pedido por Marcos Valério,
serviria para abalar os fiscais
que investigavam cervejaria
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A operação da Polícia Federal que prendeu o publicitário
Marcos Valério e mais 16 pessoas, em 10 de outubro, revelou
só parte de um megaesquema
de sonegação fiscal. É o que diz
Antonio Carlos Moura, diretor-adjunto da Administração Tributária da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo.
Ele diz que tem sido coagido
a abandonar a investigação desde que autuou a Cervejaria Petrópolis em R$ 104 milhões. A
cervejaria disse que não vai comentar as declarações do fiscal.
FOLHA - O sr. sabia da Operação
Avalanche da PF?
ANTONIO CARLOS MOURA - Não,
foi uma surpresa muito agradável para o Friedman [Eduardo
Friedman, fiscal, também alvo
do inquérito falso] e para mim,
porque nossa reputação estava
abalada com notícias falsas nos
acusando de extorsão, lavagem
de dinheiro e evasão de divisas.
FOLHA - A operação da PF cruza
com a apuração da Fazenda?
MOURA - Cruza na medida em
que mostra parte de um esquema muito maior. A autuação da
Cervejaria Petrópolis foi da
área do Friedman, que é supervisor de fiscalização de bebidas
e tomou medidas que desagradaram o grupo. Estou no caso
porque fiz um relatório sobre
fraudes fiscais na Zona Franca
de Manaus, que foi usado para o
auto de infração e anexado como prova da acusação.
FOLHA - Qual o envolvimento da
cervejaria nessas fraudes fiscais?
MOURA - Operações fraudulentas. São operações simuladas, mas não posso falar mais.
Já sofri uma representação por
abuso de autoridade, que está
no Ministério Público, e fui alvo de denúncias apócrifas na
Corregedoria de Fiscalização.
FOLHA - Quando começou a investigação da Fazenda?
MOURA - Em 2005. Documentos apreendidos na Operação
Soja [que investigou fraude na
exportação] nos levaram a uma
segunda investigação, desta vez
relacionada a empresas de bebidas. A partir daí, produzimos
um relatório, em dezembro de
2007, que faz referências a várias empresas, entre elas, a Petrópolis. Foi aberto um inquérito na Secretaria da Fazenda.
FOLHA - Como é o esquema?
MOURA - Existe um grupo de
pessoas, normalmente advogados, que faz oficialmente planejamento tributário. Mas, sob o
rótulo de planejamento, engendram esquemas de sonegação
fiscal. O esquema é vendido a
empresas. O relatório que escrevi mostra o relacionamento
entre as pessoas e o uso de laranjas. Há uma rede formada
por empresas de medicamentos, bebidas e cigarros voltada a
operações de sonegação fiscal.
A Cervejaria Petrópolis era
cliente, entre outras seis ou sete empresas médias e grandes.
FOLHA - Quanto foi sonegado?
MOURA - Pelo o que já levantamos na dívida ativa, são R$ 300
milhões, em 15 anos. É um grupo especializado em evasão fiscal no ramo de bebidas, que
monta empresas e faz sucessivas alterações societárias, com
laranjas ou testas-de-ferro.
FOLHA - Marcos Valério faz parte
desse grupo?
MOURA - Foi uma surpresa.
Acho que Marcos Valério foi
contratado para operacionalizar uma vingança. Não acho
que querem desmoralizar os
fiscais para poderem se livrar
das autuações. O auto de infração se mantém se as provas são
boas. O objetivo era nos abalar
moralmente para abandonarmos a investigação.
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