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Sob Lula, Brasília tem boom de embaixadas
Hoje são 113 representações diplomáticas instaladas; até final do governo, previsão é de aumento de 31% em relação a 2003
Mais recente embaixada no país, a de Burkina Fasso, ainda está instalada num quarto de hotel; professor vê uma subida de "status"
JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A mais recente embaixada
aberta no Brasil se resume a um
quarto modesto de hotel, dois
livros franceses que ensinam a
língua portuguesa e a "brasileira sem sofrimento", poucos objetos pessoais e Sibiri Michel
Ouedraogo. É ele o representante de Burkina Fasso, no país
há menos de 20 dias.
Do outro lado do Eixo Monumental, uma das principais vias
da cidade, está instalada provisoriamente num hotel a embaixadora da República do Chipre,
Martha Mavrommatis. A comitiva, que inclui sua família e outro diplomata, já está no país há
dois meses e meio.
Ouedraogo e Mavrommatis
têm a mesma tarefa: organizar
a abertura de uma embaixada
por aqui. Juntos, eles aumentaram para 113 os países com embaixadas no Brasil.
Pelas contas do Itamaraty,
outros 13 devem se instalar em
Brasília até o fim do governo
Lula. Se os avisos formais dados
pelos países -principalmente
da Ásia, América Central e África- se concretizarem, o presidente terminará o mandato
com 31% a mais de representações em relação a 2003.
O movimento acompanha o
aumento de embaixadas brasileiras fora. O atual governo
criou 35 representações diplomáticas até março deste ano.
De 1997 a 2002, número de
embaixadas cresceu em cinco.
A Folha solicitou ao Itamaraty
dados de anos anteriores, mas
não foi possível concluir o levantamento em tempo hábil.
Esse tamanho interesse pelo
Brasil não foi previsto nos anos
50 por quem calculou a área
destinada ao setor de embaixadas em Brasília. A área será ampliada em mais 27 lotes nos
próximos anos.
Nesse local deverão ser erguidas as sedes do Timor Leste,
há menos de um ano instalada
no Lago Sul (bairro nobre), e de
Burkina Fasso. Ouedraogo diz
que o país africano pretende
caprichar na construção; até lá,
o Lago Sul também será a base.
O burkinense já começou a
trabalhar por assuntos que interessam ao país: saúde, agricultura, trocas militares, tecnologia e futebol.
Já turismo, energia, apoio
político e ampliação do comercio são os componentes da missão de Mavrommatis aqui. O
Chipre está aberto inclusive à
discussão da efetivação brasileira no Conselho de Segurança
da ONU, diz ela.
Enquanto começa a discutir
esses e outros assuntos, a embaixadora fecha os detalhes da
nova sede: provavelmente duas
casas no Lago Sul. "É preciso
ter certos cuidados: tem que
ter segurança, ser um local onde você possa receber pessoas,
além de ser um lugar para viver
com a família."
Endereço arranjado
Mavrommatis e a família
perderam um vizinho. Há dez
dias, Roland Bimo, diplomata
da Albânia, saiu do hotel que dividia com a comitiva do Chipre
e instalou a embaixada numa
casa no Lago Sul.
Bimo e a mulher chegaram
há três meses, munidos do objetivo principal de atrair investimentos brasileiros e apresentar empresários. "É óbvio que o
Brasil se tornou um país muito
importante nos últimos dois
anos, inclusive economicamente", diz.
Para José Flávio Sombra Saraiva, professor titular de relações internacionais da UnB,
"Brasília subiu de status no
imaginário dos Estados nacionais, particularmente de países
afro-asiáticos" ao se inserir de
forma mais ativa no sistema internacional.
Saraiva explica que o movimento de abertura de embaixadas não é exclusivo do Brasil e
começou nos anos 90. O governo Lula, diz, agudizou e aprofundou uma tendência brasileira de diversificar parcerias internacionais.
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