São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

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Sob Lula, Brasília tem boom de embaixadas

Hoje são 113 representações diplomáticas instaladas; até final do governo, previsão é de aumento de 31% em relação a 2003

Mais recente embaixada no país, a de Burkina Fasso, ainda está instalada num quarto de hotel; professor vê uma subida de "status"

JOHANNA NUBLAT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A mais recente embaixada aberta no Brasil se resume a um quarto modesto de hotel, dois livros franceses que ensinam a língua portuguesa e a "brasileira sem sofrimento", poucos objetos pessoais e Sibiri Michel Ouedraogo. É ele o representante de Burkina Fasso, no país há menos de 20 dias.
Do outro lado do Eixo Monumental, uma das principais vias da cidade, está instalada provisoriamente num hotel a embaixadora da República do Chipre, Martha Mavrommatis. A comitiva, que inclui sua família e outro diplomata, já está no país há dois meses e meio.
Ouedraogo e Mavrommatis têm a mesma tarefa: organizar a abertura de uma embaixada por aqui. Juntos, eles aumentaram para 113 os países com embaixadas no Brasil.
Pelas contas do Itamaraty, outros 13 devem se instalar em Brasília até o fim do governo Lula. Se os avisos formais dados pelos países -principalmente da Ásia, América Central e África- se concretizarem, o presidente terminará o mandato com 31% a mais de representações em relação a 2003.
O movimento acompanha o aumento de embaixadas brasileiras fora. O atual governo criou 35 representações diplomáticas até março deste ano.
De 1997 a 2002, número de embaixadas cresceu em cinco. A Folha solicitou ao Itamaraty dados de anos anteriores, mas não foi possível concluir o levantamento em tempo hábil.
Esse tamanho interesse pelo Brasil não foi previsto nos anos 50 por quem calculou a área destinada ao setor de embaixadas em Brasília. A área será ampliada em mais 27 lotes nos próximos anos.
Nesse local deverão ser erguidas as sedes do Timor Leste, há menos de um ano instalada no Lago Sul (bairro nobre), e de Burkina Fasso. Ouedraogo diz que o país africano pretende caprichar na construção; até lá, o Lago Sul também será a base.
O burkinense já começou a trabalhar por assuntos que interessam ao país: saúde, agricultura, trocas militares, tecnologia e futebol.
Já turismo, energia, apoio político e ampliação do comercio são os componentes da missão de Mavrommatis aqui. O Chipre está aberto inclusive à discussão da efetivação brasileira no Conselho de Segurança da ONU, diz ela.
Enquanto começa a discutir esses e outros assuntos, a embaixadora fecha os detalhes da nova sede: provavelmente duas casas no Lago Sul. "É preciso ter certos cuidados: tem que ter segurança, ser um local onde você possa receber pessoas, além de ser um lugar para viver com a família."

Endereço arranjado
Mavrommatis e a família perderam um vizinho. Há dez dias, Roland Bimo, diplomata da Albânia, saiu do hotel que dividia com a comitiva do Chipre e instalou a embaixada numa casa no Lago Sul.
Bimo e a mulher chegaram há três meses, munidos do objetivo principal de atrair investimentos brasileiros e apresentar empresários. "É óbvio que o Brasil se tornou um país muito importante nos últimos dois anos, inclusive economicamente", diz.
Para José Flávio Sombra Saraiva, professor titular de relações internacionais da UnB, "Brasília subiu de status no imaginário dos Estados nacionais, particularmente de países afro-asiáticos" ao se inserir de forma mais ativa no sistema internacional.
Saraiva explica que o movimento de abertura de embaixadas não é exclusivo do Brasil e começou nos anos 90. O governo Lula, diz, agudizou e aprofundou uma tendência brasileira de diversificar parcerias internacionais.


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