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FOGO AMIGO
Na interpelação, Francisco de Oliveira, um dos fundadores do PT, poderá se retratar de declarações de anteontem
Chamado de "safado", Dirceu vai interpelar sociólogo na Justiça
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) contratou o advogado brasiliense Antônio Carlos de Almeida Castro para interpelar judicialmente o sociólogo e fundador do
PT Francisco de Oliveira.
Anteontem, em um seminário
sobre desenvolvimento e solidariedade na UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), Oliveira chamou o ministro de "espertalhão" e "safado".
Na interpelação, o sociólogo terá a oportunidade de responder
se realmente se referiu a Dirceu
dessa forma. O advogado Castro
irá solicitar hoje à UFRJ uma cópia da fita com a palestra de Oliveira para confirmar a veracidade
das declarações. Dirceu contratou
o advogado não como ministro,
mas como pessoa física.
Se ficar provado que Oliveira
realmente fez as declarações, Dirceu poderá abrir dois processos
contra o sociólogo. O primeiro,
cível, é por danos morais, e o segundo, criminal, por calúnia e difamação.
Há ainda uma terceira opção: se
Oliveira tiver realmente usado essas expressões para referir-se a
Dirceu, mas aceitar fazer uma retratação pública, o ministro poderia desistir de levar a ação adiante,
conforme informou Castro.
"Com base nas declarações
[eventualmente contidas na fita],
já seria possível abrir um processo, sem passar pela fase de interpelação. Mas tratando-se de
quem é, vamos primeiro ouvi-lo",
afirmou o advogado.
Rapapés e salamaleques
Francisco de Oliveira conviveu
por pelo menos 20 anos com a cúpula do PT, mas logo depois dos
primeiros meses do governo Lula,
distanciou-se do partido. Ele acusa os petistas de, no poder, continuar com as políticas adotadas
pelo governo passado.
"A política não se resume a rapapés, salamaleques e golpes de
espertalhões que pensam que estão inventando a roda, como esse
ministro José Dirceu. Nisso, ele se
parece com qualquer político safado do Brasil", disse Oliveira.
Mais adiante, o sociólogo prosseguiu: "Espertalhões como ele
estão na história desde o Império,
pessoas que se notabilizaram por
fazer todas as trapaças, mas que
não deram em nada. Quer dizer,
deram num país que registrou o
segundo maior crescimento econômico do mundo capitalista e na
quarta sociedade mais desigual
do planeta".
Após a palestra, abordado por
jornalistas, Oliveira amenizou
suas declarações e disse não querer "falar mal do governo".
Ontem à noite, a Folha tentou
falar com o sociólogo em sua casa,
em seu escritório e em seu telefone celular, mas não conseguiu encontrá-lo.
Paim
Ainda anteontem, Dirceu foi
comparado pelo senador Paulo
Paim (PT-RS) ao general Golbery
do Couto e Silva, morto em 1987.
Costa e Silva chefiou a Casa Civil e
foi o principal articulador político
do governo do general Ernesto
Geisel (1974-79), durante o regime militar (1964-85).
Hoje, Paim fará um discurso na
tribuna do Senado para falar sobre as pazes seladas ontem com
Dirceu. Em conversa amistosa
ontem por telefone, segundo relato do senador, ambos teriam resolvido o "mal-entendido" ocorrido nos últimos dias. "Esse mal-entendido com o Zé está resolvido", afirmou Paim.
O presidente nacional do PT,
José Genoino, atuou ontem como
mediador entre o senador e o ministro. Conversou com Paim em
seu gabinete e tratou de "encerrar
o mal-entendido". Na véspera,
Genoino havia dito que "as referências indiretas que o senador
fez ao ministro Dirceu" eram
"inaceitáveis e desrespeitosas".
Paim fez o discurso atacando o
ministro por acreditar que, antes,
Dirceu teria dito que ele devia ir
para casa se fosse ter um posicionamento contrário às reformas
que estão no Senado.
Na conversa por telefone, ontem, Dirceu teria dito, ainda de
acordo com o relato do senador,
que respeitava muito sua trajetória e o cargo que ocupava e ficava
alegre por não ter havido ressentimentos. "Eu é que fico alegre porque você [Dirceu] não disse a frase", teria respondido Paim.
Colaboraram IURI DANTAS, da Sucursal
de Brasília, e a Redação
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