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São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2003

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FOGO AMIGO

Na interpelação, Francisco de Oliveira, um dos fundadores do PT, poderá se retratar de declarações de anteontem

Chamado de "safado", Dirceu vai interpelar sociólogo na Justiça

GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro José Dirceu (Casa Civil) contratou o advogado brasiliense Antônio Carlos de Almeida Castro para interpelar judicialmente o sociólogo e fundador do PT Francisco de Oliveira.
Anteontem, em um seminário sobre desenvolvimento e solidariedade na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Oliveira chamou o ministro de "espertalhão" e "safado".
Na interpelação, o sociólogo terá a oportunidade de responder se realmente se referiu a Dirceu dessa forma. O advogado Castro irá solicitar hoje à UFRJ uma cópia da fita com a palestra de Oliveira para confirmar a veracidade das declarações. Dirceu contratou o advogado não como ministro, mas como pessoa física.
Se ficar provado que Oliveira realmente fez as declarações, Dirceu poderá abrir dois processos contra o sociólogo. O primeiro, cível, é por danos morais, e o segundo, criminal, por calúnia e difamação.
Há ainda uma terceira opção: se Oliveira tiver realmente usado essas expressões para referir-se a Dirceu, mas aceitar fazer uma retratação pública, o ministro poderia desistir de levar a ação adiante, conforme informou Castro.
"Com base nas declarações [eventualmente contidas na fita], já seria possível abrir um processo, sem passar pela fase de interpelação. Mas tratando-se de quem é, vamos primeiro ouvi-lo", afirmou o advogado.

Rapapés e salamaleques
Francisco de Oliveira conviveu por pelo menos 20 anos com a cúpula do PT, mas logo depois dos primeiros meses do governo Lula, distanciou-se do partido. Ele acusa os petistas de, no poder, continuar com as políticas adotadas pelo governo passado.
"A política não se resume a rapapés, salamaleques e golpes de espertalhões que pensam que estão inventando a roda, como esse ministro José Dirceu. Nisso, ele se parece com qualquer político safado do Brasil", disse Oliveira.
Mais adiante, o sociólogo prosseguiu: "Espertalhões como ele estão na história desde o Império, pessoas que se notabilizaram por fazer todas as trapaças, mas que não deram em nada. Quer dizer, deram num país que registrou o segundo maior crescimento econômico do mundo capitalista e na quarta sociedade mais desigual do planeta".
Após a palestra, abordado por jornalistas, Oliveira amenizou suas declarações e disse não querer "falar mal do governo".
Ontem à noite, a Folha tentou falar com o sociólogo em sua casa, em seu escritório e em seu telefone celular, mas não conseguiu encontrá-lo.

Paim
Ainda anteontem, Dirceu foi comparado pelo senador Paulo Paim (PT-RS) ao general Golbery do Couto e Silva, morto em 1987. Costa e Silva chefiou a Casa Civil e foi o principal articulador político do governo do general Ernesto Geisel (1974-79), durante o regime militar (1964-85).
Hoje, Paim fará um discurso na tribuna do Senado para falar sobre as pazes seladas ontem com Dirceu. Em conversa amistosa ontem por telefone, segundo relato do senador, ambos teriam resolvido o "mal-entendido" ocorrido nos últimos dias. "Esse mal-entendido com o Zé está resolvido", afirmou Paim.
O presidente nacional do PT, José Genoino, atuou ontem como mediador entre o senador e o ministro. Conversou com Paim em seu gabinete e tratou de "encerrar o mal-entendido". Na véspera, Genoino havia dito que "as referências indiretas que o senador fez ao ministro Dirceu" eram "inaceitáveis e desrespeitosas".
Paim fez o discurso atacando o ministro por acreditar que, antes, Dirceu teria dito que ele devia ir para casa se fosse ter um posicionamento contrário às reformas que estão no Senado.
Na conversa por telefone, ontem, Dirceu teria dito, ainda de acordo com o relato do senador, que respeitava muito sua trajetória e o cargo que ocupava e ficava alegre por não ter havido ressentimentos. "Eu é que fico alegre porque você [Dirceu] não disse a frase", teria respondido Paim.


Colaboraram IURI DANTAS, da Sucursal de Brasília, e a Redação


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