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ELIO GASPARI
O PPP, ou Pilhagem
Petista da Patuléia
Lula encaminhará ao Congresso nesta semana o seu
projeto de Parceria Público-Privada. Se der certo, o nome lhe
cai bem. Se der errado, poderão
chamá-lo de Pilhagem Petista
da Patuléia. O PPP coroa o processo de desmanche do Estado e
de canibalização financeira do
poder republicano.
Ele começou com o tucanato,
que vendeu o patrimônio da
Viúva. Torrou o parque energético, a rede de telecomunicações
e as malhas rodoviária e ferroviária. Faturou US$ 100 bilhões,
que deveriam ajudar os investimentos na infra-estrutura, além
de facilitar a entrada de capitais
estrangeiros. Lorota da boa.
Quem financiou boa parte dessa
privataria foi o velho e bom
BNDES, que em pelo menos um
caso (o da Eletropaulo) tomou
belo calote.
Os tucanos venderam um patrimônio existente. Sem ter o
que torrar, Lula quer vender as
necessidades do povo. Faz falta
uma nova linha de metrô no
Rio? Convém que se construa
um anel rodoviário em Santos?
PPP neles.
Se o capitalismo vingasse, a
solução seria simples:
O governo acha que a obra
precisa ser feita. Leiloa a concessão, contrata um sistema decente para o cálculo das tarifas e
deixa o mercado cuidar do assunto.
Como o capitalismo brasileiro
foi comido pelos caetés junto
com o bispo Sardinha, os empresários querem a concessão e as
tarifas, mas não pretendem botar dinheiro deles no negócio.
Baseado nos ensinamentos da
baronesa Thatcher (numa boa)
ou do mexicano Carlos Salinas
de Gortari (numa ruim), o PT-Federal concebe parcerias nas
quais o governo entra com o dinheiro para pagar as obras e garante aos maganos o povo para
pagar as tarifas. As empreiteiras
cuidam da engenharia e exploram do serviço. Em geral, essa
modalidade de negócios gera
contratos de 30 ou 40 anos.
O PPP assemelha-se aos contratos do Segundo Reinado,
quando se garantiam juros sobre o capital investido aos ingleses que construíam ferrovias. A
astúcia está aí: em vez de se entregar ao capitalista o risco do
negócio (a existência, ou não, de
passageiros para a linha de metrô ou de carga para os trens),
assegura-se uma renda pelos juros, no Império, ou pela expectativa contratada, no Petério.
É divertida a coligação histórica tucano-petista. Devastaram os contratos dos aposentados dizendo que estavam reformando a Previdência. Quando
se falou em mudar a forma de
cálculo dos reajustes das telefônicas, baixou em Brasília o primeiro-ministro espanhol, José
María Aznar, e demandou que
se respeitem los contratos de sus
compatriotas. (Bem que os aposentados brasileiros poderiam
se naturalizar espanhóis.)
O PPP é a celebração do entendimento entre o PT-Federal
e as grandes empreiteiras nacionais. Essa coisa chamada de
"parceria" não é intrinsecamente má. Por enquanto, é apenas
um improviso colocado a serviço da opção preferencial de Lula
pelo espetáculo. A modalidade
de financiamento do PPP pode
funcionar, assim como a privatização das companhias elétricas não precisava ter virado um
conto do apagão.
Bastaria que o tucanato tivesse sido modesto e tivesse trabalhado na regulamentação das
concessões e nos contratos de financiamento. Mais trabalho e
menos espetáculo teriam salvo
FFHH de ter assinado uma nota
fria. Se Lula entrar no PPP com
mais suor e menos samba, livrará seu governo de construir um
novo desastre. Isso está ao seu
alcance. Basta pedir licença ao
Congresso para executar meia
dúzia de projetos, de dimensões
variadas, para que a fórmula seja estudada. Teria dois anos para avaliar o que fez. Se desse certo, iria em frente. Isso porque, se
der errado, seus sucessores terão
que limpar o estrago durante os
próximos 30 anos.
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