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ANÁLISE
Abandono de Palocci parece ser estratégia do Planalto
VAGUINALDO MARINHEIRO
SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE REDAÇÃO
Na quinta-feira , Janio de
Freitas escreveu que faz um
jornalismo à antiga, aquele que
não consegue penetrar na cabeça
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva para saber o que ele está pensando. Pertenço ao mesmo time.
Não sei o que o presidente pensa.
Sei apenas que ele "deixa escapar"
o que quer que pensem que ele
pensa.
Foi assim na semana passada,
quando conseguiu que jornais e
revistas publicassem que daria
um susto na oposição caso tivesse
que substituir o ministro Antonio
Palocci (Fazenda). Foi assim nesta semana, quando "deixou escapar" que faria um enfático discurso pró-ministro. Foi assim anteontem, quando incensou a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma
Rousseff, suposta inimiga número um de Palocci.
Mas há sinais vindos do Planalto que permitem supor que o governo preparou uma estratégia
para tirar Palocci do alvo das investigações e do centro da crise:
fingir abandoná-lo.
Ao não fazer um discurso com
defesa escancarada do ministro
-defesa que repetiu infinitas vezes fora da atual crise-, Lula o
fortalece. Isso porque o apoio do
presidente tem se mostrado como
um beijo da morte ultimamente.
Basta lembrar os casos de José
Dirceu e José Genoino.
O próprio Lula sugeriu na conversa com jornalistas anteontem
qual sua forma de raciocínio: "Toda vez que vocês criam um homem-forte num dia, no outro dia
vocês querem derrubar".
Ao elogiar Dilma e se calar sobre
Palocci, Lula conseguiu unir
a oposição num movimento segura-Palocci. Se tivesse feito o
contrário, o ministro estaria em
maus lençóis. A oposição tem se
comportado da seguinte forma
nessa crise: se o presidente gosta,
nós não gostamos. Como Lula simula deixar o ministro órfão, os
oposicionistas estendem a mão e
o adotam.
Na entrevista de ontem a radialistas, o presidente fez afagos ao
ministro, mas apenas a seu trabalho, nada falou sobre sua integridade e honradez, que estão sob
suspeita. E acrescentou novos adjetivos à ministra Dilma. Lula parece querer passar a idéia de que
Dilma é seu "homem-forte", seu
alter ego. O que consegue com isso? Uma saraivada de críticas à
ministra no depoimento em que
Palocci deveria se explicar sobre
suspeitas de corrupção! O alvo
dos senadores deveria ser o ministro, foi a ministra.
É claro que Lula quer que Palocci fique, caso contrário o demitiria. É claro que ele prefere Palocci
a alguém que pense como Dilma
Rousseff para a economia, ou faria a troca.
A política de aperto fiscal não é
só do ministro, é também do presidente, que precisa de bons números econômicos para tentar a
reeleição no ano que vem.
Deixando o ministro numa aparente corda bamba, o governo espera conseguir uma trégua nas investigações e vida longa para o titular da Fazenda.
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