São Paulo, sábado, 19 de novembro de 2005

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ANÁLISE

Abandono de Palocci parece ser estratégia do Planalto

VAGUINALDO MARINHEIRO
SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE REDAÇÃO

Na quinta-feira , Janio de Freitas escreveu que faz um jornalismo à antiga, aquele que não consegue penetrar na cabeça do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para saber o que ele está pensando. Pertenço ao mesmo time. Não sei o que o presidente pensa. Sei apenas que ele "deixa escapar" o que quer que pensem que ele pensa.
Foi assim na semana passada, quando conseguiu que jornais e revistas publicassem que daria um susto na oposição caso tivesse que substituir o ministro Antonio Palocci (Fazenda). Foi assim nesta semana, quando "deixou escapar" que faria um enfático discurso pró-ministro. Foi assim anteontem, quando incensou a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, suposta inimiga número um de Palocci.
Mas há sinais vindos do Planalto que permitem supor que o governo preparou uma estratégia para tirar Palocci do alvo das investigações e do centro da crise: fingir abandoná-lo.
Ao não fazer um discurso com defesa escancarada do ministro -defesa que repetiu infinitas vezes fora da atual crise-, Lula o fortalece. Isso porque o apoio do presidente tem se mostrado como um beijo da morte ultimamente. Basta lembrar os casos de José Dirceu e José Genoino.
O próprio Lula sugeriu na conversa com jornalistas anteontem qual sua forma de raciocínio: "Toda vez que vocês criam um homem-forte num dia, no outro dia vocês querem derrubar".
Ao elogiar Dilma e se calar sobre Palocci, Lula conseguiu unir a oposição num movimento segura-Palocci. Se tivesse feito o contrário, o ministro estaria em maus lençóis. A oposição tem se comportado da seguinte forma nessa crise: se o presidente gosta, nós não gostamos. Como Lula simula deixar o ministro órfão, os oposicionistas estendem a mão e o adotam.
Na entrevista de ontem a radialistas, o presidente fez afagos ao ministro, mas apenas a seu trabalho, nada falou sobre sua integridade e honradez, que estão sob suspeita. E acrescentou novos adjetivos à ministra Dilma. Lula parece querer passar a idéia de que Dilma é seu "homem-forte", seu alter ego. O que consegue com isso? Uma saraivada de críticas à ministra no depoimento em que Palocci deveria se explicar sobre suspeitas de corrupção! O alvo dos senadores deveria ser o ministro, foi a ministra.
É claro que Lula quer que Palocci fique, caso contrário o demitiria. É claro que ele prefere Palocci a alguém que pense como Dilma Rousseff para a economia, ou faria a troca.
A política de aperto fiscal não é só do ministro, é também do presidente, que precisa de bons números econômicos para tentar a reeleição no ano que vem.
Deixando o ministro numa aparente corda bamba, o governo espera conseguir uma trégua nas investigações e vida longa para o titular da Fazenda.


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