São Paulo, sábado, 19 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DE DIRCEU

Ministros mandam mensagem de apoio a deputado, que recebeu solidariedade de amigos e correligionários em ato na Câmara Municipal de SP

Dilma e Palocci manifestam apoio a Dirceu

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Num ato que contou com cerca de 600 pessoas, ontem, na Câmara Municipal de São Paulo, o deputado José Dirceu (PT-SP) conseguiu reunir os apoios dos ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil), que enviaram mensagens de solidariedade ao ex-ministro.
Com as galerias cheias, a presença da mulher e suas filhas, parlamentares do PT e de partidos aliados, o ato contou também com a participação da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, do senador Eduardo Suplicy (que tem freqüentes divergências políticas com o deputado), do ministro Luiz Marinho (Trabalho), do assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia e de representantes de entidades da sociedade civil e movimentos sociais, como UNE (União Nacional dos Estudantes) e CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Marta reconheceu que o PT "passa por um momento difícil", mas disse que o partido "tem de parar de ajoelhar no milho" e voltar a levantar a bandeira da ética.
Antes dos discursos, foi lida carta do líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stédile que, para apoiar Dirceu, criticou o governo Lula, afirmando que este não teve "correlação de forças nem coragem para enfrentar a classe dominante".
Recebido com palmas e um coro de "Dirceu, guerreiro do povo brasileiro", o ministro foi o último a falar. Ele também fez a defesa da auto-estima petista, declarando que a luta por seu mandato é "a defesa da militância do PT, para poder andar de cabeça erguida e colocar a estrela no peito".
O ex-ministro atacou a oposiçao, a imprensa, o Ministério Público e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, defendendo a tese de que "não é preciso tanque" para as novas tentativas de interrupção de "projetos democráticos e populares".
A união de Dilma e Palocci não foi a única concordância improvável da noite. O ex-policial Herwin de Barros, 61, que trabalhou para o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e participou da prisão de Dirceu no congresso da UNE de 1968, sentou-se ao lado do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e perto da mulher de Dirceu.
Segundo ele, Dirceu é um "guerreiro" e está sendo perseguido porque incomoda.
O deputado também recebeu o apoio do vereador Agnaldo Timóteo (PP-SP), que recentemente visitou o ex-prefeito Paulo Maluf na prisão. Na entrada da Câmara, a única voz dissonante era a do comerciante Devanir Amanso, 42, que havia trazido 125 pizzas para distribuir em protesto contra Dirceu. Poucas delas foram distribuídas para mendigos que passavam pelo local.

Terror
À tarde, Dirceu disse que o Estado de Direito está sendo desrespeitado no país e comparou o processo de cassação que sofre com o período do Terror na Revolução Francesa (1789-1799).
Para uma platéia de 11 prefeitos, dirigentes e deputados estaduais petistas, reunidos em na sede da empresa Moinho Pacífico, nos Jardins, região nobre de São Paulo, o deputado disse que cassar o seu mandato seria uma violência "nunca vista no país" depois da ditadura militar.
"De certa maneira, estamos começando a viver no país a lei do suspeito, que houve no Terror na Revolução Francesa. É suspeito, está condenado: é a lei", declarou.
Uma manifestação de apoio do ex-presidente da sigla Tarso Genro foi lida antes do início da reunião. Nela, Tarso afirma que a "cassação sem provas é ato de arbítrio e de revanche política". Após os discursos iniciais, os prefeitos se comprometeram a pressionar deputados para que votem favoravelmente a Dirceu.
Sobre Lula, Dirceu disse que o presidente tem se comportado como um "magistrado" durante toda a crise, sem prejulgar nem inocentar ninguém.


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